A Guiné-Bissau vive
novamente dias de instabilidade desde o passado dia 21, quando um comando,
alegadamente liderado pelo capitão Pansau N'Tchama, atacou uma base militar. Entretanto
multiplicam-se apelos ao diálogo.
Ficou suspensa a
conferência de imprensa do capitão, Pansau N'Tchamá detido desde sábado passado
no Estado-Maior general das Forças Armadas. Inicialmente estava previsto que o
militar acusado de ser o responsável do comando que atacou a base de
Bissalanca, a 21 de outubro, falasse deste ataque que resultou em 6 mortos. Na
segunda-feira (29.10) os jornalistas chegaram a ser convocados para ouvir
declarações de Pansau N´Tchamá mas o encontro foi anulado. Esta terça-feira
(30.10) voltaram a ser chamados por duas vezes e das duas vezes foram anuladas
as declarações
Perante órgãos de
comunicação social nacional e internacional, foi anunciada a decisão das
chefias militares que o capitão, só irá pronunciar-se perante a justiça numa
data a ser comunicada. Ainda no quartel militar os jornalistas assistiram
acesas discussões entre algumas chefias militares e os soldados que pretendiam
que Pansau N´Tchamá designasse os nomes das pessoas envolvidas naquilo que as
autoridades apelidam de uma tentativa de contra golpe.
Da porta principal
das instalações do Estado-Maior General das Forças Armadas vigiada por um forte
aparato militar, podia ver-se Pansau N´Tchamá sentado na cela onde se encontra
detido, aparentemente bem-disposto e sem apresentar sinais de tortura.
Pansau N'Tchama
quer falar?
Uma fonte militar
que solicitou anonimato, disse que foi o próprio N´Tchamá quem pediu para
revelar todos os mistérios à volta dos últimos acontecimentos, e chamar pelo
nome algumas pessoas envolvidas, inclusive algumas chefias militares e
políticos. A mesma fonte, adianta que os jornalistas não poderiam fazer
perguntas relativamente ao alegado envolvimento do Capitão N´Tchamá na morte do
antigo presidente, João Bernardo Vieira.
Todos falam de
diálogo
Entretanto, no
plano politico, o presidente de Transição, Serifo Nhamadjo, continua uma série
de reuniões com os representantes das organizações internacionais acreditados
em Bissau. Nesta terça-feira (30.10), Serifo Nhamadjo esteve reunido com o
representante residente das Nações Unidas para a Guiné-Bissau, Joseph Mutaboba,
que defende o diálogo como principal via para ultrapassar a crise interna no
país. " O diálogo entre os guineenses é a solução para o país",
disse.
Questionado se os
últimos acontecimentos, justifica o envio de uma força multinacional para o
país, Mutaboba entende que ainda é cedo para falar do assunto. "Ainda não
está em cima da mesa esta força".
A União Africana
manifesta-se por seu lado muito preocupada com o evoluir da crise guineense,
como revelou à imprensa Ovídeo Pequeno, enviado ao país. "A União Africana
está preocupada com a situação atual da Guiné-Bissau e tem pedido que haja
contenção. Que os processos decorram com normalidade para que se saiba a
verdade dos acontecimentos", afirmou Ovídeo Pequeno, o primeiro de uma
série de personalidades recebidas esta terca-feia (30.10) por Serifo Nhamadjo.
Já os líderes
religiosos pretendem lançar uma campanha para promover o diálogo com vista a
analisar as causas profundas da crise para poder criar uma base sólida com
vista a estabilidade do país e abrir perspetivas futuras. "Dentro de 15
dias será lançada a iniciativa e a partir daí vai fazer-se a agenda de
reflexão", disse hoje aos jornalistas o bispo de Bissau, José Camnaté Na
Bissign, após uma audiência com o Presidente da República de transição, Serifo
Nhamadjo. A iniciativa foi apresentada ao Presidente pelo bispo, que considerou
como "preocupante" a situação que o país vive mas da qual é
"possível sair se os guineenses se juntarem e dialogarem", disse.
Autor: Braima
Daramé /Lusa - Edição: Helena Ferro de Gouveia / António Rocha
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