sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O ASSASSINATO DE KADAFI

 

Martinho Júnior, Luanda
 
1 – Entre os dias 24 e 28 de Outubro de 2011, publiquei uma série de três artigos referentes à evolução da situação na Líbia, sob o título “Os erros de apreciação estratégica pagam-se caro”.
 
Nessa série produzi a síntese-analítica com base no que recolhi de fontes públicas acerca das razões para a desestabilização da Líbia até à “formatação” da conveniência das potências envolvidas no processo, bem como do papel de americanos, britânicos e franceses não só no derrube do regime, mas também sobre os acontecimentos à volta de Kadafi que culminaram no seu sangrento assassinato perante as câmaras de vídeo.
 
2 – Na IIIª parte da série, detalhei o envolvimento francês; recordo:
 
“Se o MI-6 garantia a continuidade dos esforços de inteligência que mergulhavam pelo menos até ao passado de mais de 42 anos e à instalação da monarquia do rei Idris (os britânicos possuem um acervo de inteligência que sob o ponto de vista histórico não tem paralelo por que foram eles que formaram o maior império colonial), a inteligência francesa (outra potência colonial de maior grandeza em África), sob os auspícios dos falcões de Sarkozy, intimamente associados a norte americanos e a britânicos, depressa foi instada como nervura táctica sensível que tornava praticável o desencadear das acções operacionais, civis e militares, que se seguiriam para fazer explodir Kadafi e o seu poder por via intestina em Tripoli, enquanto se preparavam as formas convenientes da sua substituição (Bengazi e desenvolvimentos em curso)”…
 
(…)
“Como a França foi a potência que se opôs a Kadafi nas disputas do norte do Chade, como a França aglutina conhecimentos importantes e diversificados sobre todo o Sahel, a França era imprescindível para a aliança formada a partir da decisão do Conselho de Segurança da ONU, inclusive para compor o ramalhete de interessados na vingança.
 
Por essa razão eu coloco Sarkozy, o seu poder de decisão e intelectualmente, como o principal algoz táctico de Kadafi, por que os indícios que despontam até ao assassinato de Kadafi, apesar das tentativas de ocultação que se têm lançado através de várias cortinas de fumo pela via dos media de referência, bem como as tentativas para apagar cenários e fontes, se conjugam e são sugestivos, sob os pontos de vista das técnicas de que se servem os serviços de inteligência, os reconhecimentos em profundidade e as forças especiais!
 
Essa manobra integrada (com recurso a componentes político-diplomáticos, aos serviços de inteligência, ao reconhecimento profundo, às forças especiais, a empresas e iniciativas empresariais e tecnológicas e à panóplia de meios adstritos a esses sectores de actividade), terá começado em 2007”...
 
3 – O que indiciava há pouco menos de um ano, parece agora confirmar-se a 30 de Setembro de 2012 (“Gaddafi was killed by French secret serviceman on orders of Nicolas Sarkozy, sources claim” – http://www.dailymail.co.uk/news/article-2210759/Gaddafi-killed-French-secret-serviceman-orders-Nicolas-Sarkozy-sources-claim.html#ixzz282zW9AoQ):
 
“A French secret serviceman acting on the express orders of Nicolas Sarkozy is suspected of murdering Colonel Gaddafi, it was sensationally claimed today.
 
He is said to have infiltrated a violent mob mutilating the captured Libyan dictator last year and shot him in the head.
 
The motive, according to well-placed sources in the North African country, was to stop Gaddafi being interrogated about his highly suspicious links with Sarkozy, who was President of France at the time”.
 
4 – Ao mesmo tempo que se vão avolumando provas sobre o papel da coligação ocidental e de seus próprios dirigentes, um muro de silêncio cobre o destino do dinheiro líbio, enquanto as multinacionais do petróleo ocidentais e os interesses coligados de alguns aliados da península arábica têm as portas abertas para assumir decisões preponderantes sobre os destinos do petróleo.
 
Se há tantas dúvidas acerca do vigor da democracia na Líbia, pelos sinais que o radicalismo sectário, senão o fundamentalismo, vão deixando com assinaturas de sangue, as certezas no que dizem respeito aos prejuízos de sua soberania são evidentes.
 
As certezas acerca da impotência de África, inclusive da União Africana, perante os fenómenos que obedecem à lógica capitalista neo liberal, são também cada vez mais que evidentes!
 
A perda de soberania da Líbia significa que um importante obstáculo ao domínio por via neo liberal dos interesses do império com seu cortejo de aliados, está removido, pelo que isso permite “escancarar as portas” noutras direcções, sob os mais variados pretextos, sendo os fragilizados poderes africanos os primeiros a “pedir auxílio”, em socorro de suas tradicionais fragilidades, vulnerabilidades e divisões, tão subtilmente manipuladas pelos Estados Unidos e velhas potências colonizadoras, neste caso sobretudo a França.
 
Há um ano a esta parte que se vem assistindo ao reforço de grupos radicais em todo o Magrebe, tirando partido dos acontecimentos na Líbia, expandindo o arco de crise para dentro do continente africano (ocidente e centro de África).
 
O Mali foi dos estados mais atingidos: sincronizadamente a um golpe de estado, a metade norte foi alvo de separação, formando-se a Azawad; é a partir do Azawad que grupos radicais têm oportunidade de se expandir, afectando toda a região até à Nigéria e obrigando os países africanos noutras regiões a acautelarem-se perante as potencialidades de expansão do fundamentalismo islâmico interconectado com fenómenos endógenos e capaz dos extremos das acções terroristas.
 
A situação tanto na Guiné Conacry como na Guiné Bissau, reflectem também a instabilidade e o desregramento das relações internacionais afectadas pela expansão do arco de crise.
 
A região da CEDEAO está cada vez mais à mercê da vontade e aptidão neo colonial, porquanto o espaço de manobra maior é o de regimes de tendência neo liberal, “filtrados” sobretudo pela França e Estados Unidos, como o Senegal, o Burkina Faso, ou a Costa do Marfim.
 
Os abutres pululam como nunca sobre o corpo inerte de África e, ao tocarem em seus pontos nevrálgicos, expandem as crises que estão ao sabor da corrente que eles próprios estimularam!
 
Foto: Ao que obrigou a operação de manipulação sobre a Líbia: o algoz e a vítima - Sarkozy recebe Kadafi na Presidência francesa.
 
A consultar:
- “Os erros de apreciação estratégica pagam-se caro – I” – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/10/kadafi-os-erros-de-apreciacao.html
- “Os erros de apreciação estratégica pagam-se caro – II” – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/10/kadafi-os-erros-de-apreciacao_25.html
- “Os erros de apreciação estratégica pagam-se caro – III” – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/10/kadafi-os-erros-de-apreciacao_28.html
 

1 comentário:

Anónimo disse...


How Many Dirty Western Hands? - http://www.globalresearch.ca/libya-how-many-dirty-western-hands/

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