Martinho Júnior, Luanda
1 – Entre os dias
24 e 28 de Outubro de 2011, publiquei uma série de três artigos referentes à
evolução da situação na Líbia, sob o título “Os erros de apreciação estratégica
pagam-se caro”.
Nessa série produzi
a síntese-analítica com base no que recolhi de fontes públicas acerca das
razões para a desestabilização da Líbia até à “formatação” da conveniência das
potências envolvidas no processo, bem como do papel de americanos, britânicos e
franceses não só no derrube do regime, mas também sobre os acontecimentos à
volta de Kadafi que culminaram no seu sangrento assassinato perante as câmaras
de vídeo.
2 – Na IIIª parte
da série, detalhei o envolvimento francês; recordo:
“Se o MI-6 garantia
a continuidade dos esforços de inteligência que mergulhavam pelo menos até ao
passado de mais de 42 anos e à instalação da monarquia do rei Idris (os
britânicos possuem um acervo de inteligência que sob o ponto de vista histórico
não tem paralelo por que foram eles que formaram o maior império colonial), a
inteligência francesa (outra potência colonial de maior grandeza em África),
sob os auspícios dos falcões de Sarkozy, intimamente associados a norte
americanos e a britânicos, depressa foi instada como nervura táctica sensível que
tornava praticável o desencadear das acções operacionais, civis e militares,
que se seguiriam para fazer explodir Kadafi e o seu poder por via intestina em
Tripoli, enquanto se preparavam as formas convenientes da sua substituição
(Bengazi e desenvolvimentos em curso)”…
(…)
“Como a França foi
a potência que se opôs a Kadafi nas disputas do norte do Chade, como a França
aglutina conhecimentos importantes e diversificados sobre todo o Sahel, a
França era imprescindível para a aliança formada a partir da decisão do
Conselho de Segurança da ONU, inclusive para compor o ramalhete de interessados
na vingança.
Por essa razão eu
coloco Sarkozy, o seu poder de decisão e intelectualmente, como o principal
algoz táctico de Kadafi, por que os indícios que despontam até ao assassinato
de Kadafi, apesar das tentativas de ocultação que se têm lançado através de
várias cortinas de fumo pela via dos media de referência, bem como as
tentativas para apagar cenários e fontes, se conjugam e são sugestivos, sob os
pontos de vista das técnicas de que se servem os serviços de inteligência, os
reconhecimentos em profundidade e as forças especiais!
Essa manobra
integrada (com recurso a componentes político-diplomáticos, aos serviços de
inteligência, ao reconhecimento profundo, às forças especiais, a empresas e
iniciativas empresariais e tecnológicas e à panóplia de meios adstritos a esses
sectores de actividade), terá começado em 2007”...
3 – O que indiciava
há pouco menos de um ano, parece agora confirmar-se a 30 de Setembro de 2012 (“Gaddafi
was killed by French secret serviceman on orders of Nicolas Sarkozy, sources
claim” – http://www.dailymail.co.uk/news/article-2210759/Gaddafi-killed-French-secret-serviceman-orders-Nicolas-Sarkozy-sources-claim.html#ixzz282zW9AoQ):
“A French secret
serviceman acting on the express orders of Nicolas Sarkozy is suspected of
murdering Colonel Gaddafi, it was sensationally claimed today.
He is said to have
infiltrated a violent mob mutilating the captured Libyan dictator last year and
shot him in the head.
The motive,
according to well-placed sources in the North African country, was to stop
Gaddafi being interrogated about his highly suspicious links with Sarkozy, who
was President of France at the time”.
4 – Ao mesmo tempo
que se vão avolumando provas sobre o papel da coligação ocidental e de seus
próprios dirigentes, um muro de silêncio cobre o destino do dinheiro líbio,
enquanto as multinacionais do petróleo ocidentais e os interesses coligados de
alguns aliados da península arábica têm as portas abertas para assumir decisões
preponderantes sobre os destinos do petróleo.
Se há tantas dúvidas
acerca do vigor da democracia na Líbia, pelos sinais que o radicalismo
sectário, senão o fundamentalismo, vão deixando com assinaturas de sangue, as
certezas no que dizem respeito aos prejuízos de sua soberania são evidentes.
As certezas acerca
da impotência de África, inclusive da União Africana, perante os fenómenos que
obedecem à lógica capitalista neo liberal, são também cada vez mais que
evidentes!
A perda de
soberania da Líbia significa que um importante obstáculo ao domínio por via neo
liberal dos interesses do império com seu cortejo de aliados, está removido,
pelo que isso permite “escancarar as portas” noutras direcções, sob os mais
variados pretextos, sendo os fragilizados poderes africanos os primeiros a “pedir
auxílio”, em socorro de suas tradicionais fragilidades, vulnerabilidades e
divisões, tão subtilmente manipuladas pelos Estados Unidos e velhas potências
colonizadoras, neste caso sobretudo a França.
Há um ano a esta
parte que se vem assistindo ao reforço de grupos radicais em todo o Magrebe,
tirando partido dos acontecimentos na Líbia, expandindo o arco de crise para
dentro do continente africano (ocidente e centro de África).
O Mali foi dos
estados mais atingidos: sincronizadamente a um golpe de estado, a metade norte
foi alvo de separação, formando-se a Azawad; é a partir do Azawad que grupos
radicais têm oportunidade de se expandir, afectando toda a região até à Nigéria
e obrigando os países africanos noutras regiões a acautelarem-se perante as
potencialidades de expansão do fundamentalismo islâmico interconectado com
fenómenos endógenos e capaz dos extremos das acções terroristas.
A situação tanto na
Guiné Conacry como na Guiné Bissau, reflectem também a instabilidade e o
desregramento das relações internacionais afectadas pela expansão do arco de
crise.
A região da CEDEAO
está cada vez mais à mercê da vontade e aptidão neo colonial, porquanto o
espaço de manobra maior é o de regimes de tendência neo liberal, “filtrados”
sobretudo pela França e Estados Unidos, como o Senegal, o Burkina Faso, ou a
Costa do Marfim.
Os abutres pululam
como nunca sobre o corpo inerte de África e, ao tocarem em seus pontos
nevrálgicos, expandem as crises que estão ao sabor da corrente que eles
próprios estimularam!
Foto: Ao que
obrigou a operação de manipulação sobre a Líbia: o algoz e a vítima - Sarkozy
recebe Kadafi na Presidência francesa.
A consultar:
- “Os erros de
apreciação estratégica pagam-se caro – I” – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/10/kadafi-os-erros-de-apreciacao.html
- “Os erros de
apreciação estratégica pagam-se caro – II” – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/10/kadafi-os-erros-de-apreciacao_25.html
- “Os erros de
apreciação estratégica pagam-se caro – III” – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/10/kadafi-os-erros-de-apreciacao_28.html
- “O arco de crise
em direcção a África” – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/05/o-arco-de-crise-em-direccao-africa.html
1 comentário:
How Many Dirty Western Hands? - http://www.globalresearch.ca/libya-how-many-dirty-western-hands/
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