terça-feira, 23 de outubro de 2012

SINAIS CONTROVERSOS – I

 

Martinho Júnior, Luanda
 
1 – Os Estados Unidos têm emitido sinais controversos em relação a Angola, se levarmos em conta o que tem feito no âmbito dos seus relacionamentos ao longo do tempo decorrido nos últimos 37 anos de independência, dos 19 anos contabilizados depois do reconhecimento do país, dos 10 anos depois do calar das armas e dos 4 anos da administração democrata de Barack Hussein Obama.
 
Se antes os Estados Unidos condicionavam o reconhecimento ao seu entendimento, ao entendimento de sucessivas administrações norte americanas, no quadro do contencioso e das conjunturas próprias da Guerra Fria, agora parecem condicionar o seu relacionamento a interpretações neo-conservadoras espelhadas aliás pelos cenários das últimas eleições, procurando promover os seus próprios “cavalos de Tróia” na jovem “democracia representativa” angolana, à imagem e semelhança do que têm vindo a fazer de há décadas a esta parte em muitos outros recantos do globo e muito particularmente nas “primaveras árabes”.
 
Nesse sentido me parece importante levar em conta o que os Estados Unidos têm feito para condicionar psico-social-politicamente as sociedades a partir das experiências no laboratório que constitui para as sucessivas administrações norte americanas a bloqueada Cuba.
 
O bloqueio é motivo para o lançamento dessas experiências e iniciativas no sentido de condicionar por sua vez os processos sócio-políticos, com vista a “bloquear” também, sob o ponto de vista psicológico, emocional e funcional, a sociedade, estendendo para bem dentro de Cuba, para dentro da sua sociedade, a capacidade de ingerência e manipulação, com todos os efeitos que isso provoca nos vários âmbitos e cenários.
 
O objectivo último de tais esforços em Cuba é, recriando a “democracia representativa” moldada a partir da hegemonia, elevar ao poder os seus próprios agentes e os processos políticos aferidos aos seus próprios interesses, os interesses conformes ao império, contando com um amplo recurso extra em reserva: a migração com a tradição mais ultra-conservadora e criminosa da América Latina.
 
Os Estados Unidos não reconhecem o modelo de estado cubano, nem a sua democracia participativa e ao não fazê-lo, limitam a democracia àquilo que praticam em sua casa, manipulando sobre questões tão fundamentais como os direitos humanos em proveito dos “lobbies” estimulados pela sua aristocracia financeira.
 
As ingerências sucederam-se após a implosão da URSS e dos estados do socialismo real na Europa do Leste, onde proliferaram as “revoluções coloridas” que foram por si incentivadas até ao Cáucaso e Ásia Central.
 
A “receita” de “bloqueamento” a fim de provocar conjunturas favoráveis no espectro político está implícita por exemplo nos processos das “primaveras árabes”, recorrendo por vezes a expedientes neo-conservadores para consolidar as “revoluções” e começa a haver indícios que essa “receita” começou também a ser aplicada em Angola, embora ainda com efeitos ainda limitados, mas não menos controversos!
 
Em Cuba a Revolução Cubana está a responder com criatividade por via de “Los lineamentos de la política económica y social del partido y de la revolucion” e as novas leis que têm sido promulgadas (entre elas a actual lei da migração), no quadro dum ambiente alternativo favorável na América Latina, em especial em função da articulação propiciada pela ALBA, MERCOSUL e UNASUL, pelo que as expectativas do esforço norte americano chocam com uma cada vez maior e mais organizada “almofada amortecedora” aos impactos sócio-políticos por si estimulados.
 
A criatividade socialista, com aliados importantes na América Latina, resiste ao bloqueio conjugado com as ingerências e é também uma forma de vencer o próprio bloqueio.
 
O que está contudo a acontecer aí onde os processos criativos evoluem numa esteira de capitalismo exacerbado pelo neo liberalismo, onde regimes estão instalados de longa data, desde os alicerces dos próprios movimentos de libertação?
 
Avalia-se em parte pelas sucessivas amostras da Tunísia, da Líbia e do Egipto, mas aí não houve movimento de libertação.
 
A “ementa” resultará se e quando for aplicada noutras paragens do continente, por exemplo na África Austral?
 
Quais são as posições, por exemplo, em relação ao “vilcão sul africano”?
 
O que acontecerá por exemplo com Angola?
 
2 – As relações dos Estados Unidos com Angola independente não têm sido lineares, nem exemplares, sofrendo alterações que nos conduzem a sinais controversos que são típicos nos relacionamentos externos promovidos pelos norte americanos, em particular com cada um dos países que compõem os Não Alinhados.
 
Se o peso da influência dos Estados Unidos em Angola, aproveitando as conversações, levou numa 1ª fase à abertura para com o capitalismo neo liberal, salvaguardando e de que modo os interesses das corporações multinacionais do petróleo e dos minérios, sobretudo dos diamantes, numa 2ª fase, com a administração do democrata Barack Hussein Obama, de há 4 anos a esta parte o relacionamento resvala para a tentação de impulsionar os “cavalos de Tróia” que servem os estritos interesses norte americanos, num processo que com as dilectas justificações habituais, é um processo neo-conservador que além de explorar o redesenhar o mapa político, pode estar tentado a fazer o que antes já havia feito no tempo de Kissinger: sacrificar o MPLA, ainda que ele tenha feito um esforço enorme para manter a unidade e a identidade nacional!
 
No tempo há pois três períodos distintos dos relacionamentos para com Angola:
 
- O período do “complexo de Kissinger” desde antes da independência até 19 de Maio de 1993;
 
- A 1ª fase dos relacionamentos após o reconhecimento de Angola, que vai de 19 de Maio de 1993 até ao fim do mandato da administração republicana de George W. Bush (há praticamente 4 anos, em Novembro de 2008);
- A 2ª fase dos relacionamentos que vai desde Novembro de 2008 até ao presente, que caracterizou o tipo de relacionamentos instigados no âmbito da administração do democrata Barack Hussein Obama, que espelha de certo modo algumas das experiências e iniciativas levadas a cabo no laboratório em que foi por eles tornada a própria sociedade cubana, estendido o bloqueio às ingerências e manipulações em curso, conjugadas ao que foi “seleccionado” por via das “revoluções coloridas” e “primaveras árabes”…
 
Foto: Dois dos mentores das políticas hostis contra Angola que tanto favoreceram o regime do “apartheid”, o projecto dos seus “bantustões” e os “freedom fighters” da ocasião.
 
Livros a consultar:
- Angola – EUA: os caminhos do bom senso de José Patrício, o primeiro Embaixador de Angola nos Estados Unidos.
- Jogos Africanos de Jaime Nogueira Pinto
 
A consultar na Internet:
- O bloqueio a Cuba é também uma afronta a África – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/09/o-bloqueio-cuba-e-tambem-uma-afronta.html
- Entrevista a Ricardo Alarcon, Presidente del Parlamento cubano, Cuba frente a los desafios del siglo XXI – I – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=147866
- Entrevista a Ricardo Alarcon, Presidente del Parlamento cubano, Cuba frente a los desafios del siglo XXI – II – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=147921
- Entrevista a Ricardo Alarcon, Presidente del Parlamento cubano, Cuba frente a los desafios del siglo XXI – III – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=147954
 

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