Martinho Júnior, Luanda
1 – Os Estados
Unidos têm emitido sinais controversos em relação a Angola, se levarmos em
conta o que tem feito no âmbito dos seus relacionamentos ao longo do tempo
decorrido nos últimos 37 anos de independência, dos 19 anos contabilizados
depois do reconhecimento do país, dos 10 anos depois do calar das armas e dos 4
anos da administração democrata de Barack Hussein Obama.
Se antes os Estados
Unidos condicionavam o reconhecimento ao seu entendimento, ao entendimento de
sucessivas administrações norte americanas, no quadro do contencioso e das
conjunturas próprias da Guerra Fria, agora parecem condicionar o seu
relacionamento a interpretações neo-conservadoras espelhadas aliás pelos
cenários das últimas eleições, procurando promover os seus próprios “cavalos de
Tróia” na jovem “democracia representativa” angolana, à imagem e semelhança do
que têm vindo a fazer de há décadas a esta parte em muitos outros recantos do
globo e muito particularmente nas “primaveras árabes”.
Nesse sentido me
parece importante levar em conta o que os Estados Unidos têm feito para
condicionar psico-social-politicamente as sociedades a partir das experiências
no laboratório que constitui para as sucessivas administrações norte americanas
a bloqueada Cuba.
O bloqueio é motivo
para o lançamento dessas experiências e iniciativas no sentido de condicionar
por sua vez os processos sócio-políticos, com vista a “bloquear” também, sob o
ponto de vista psicológico, emocional e funcional, a sociedade, estendendo para
bem dentro de Cuba, para dentro da sua sociedade, a capacidade de ingerência e
manipulação, com todos os efeitos que isso provoca nos vários âmbitos e
cenários.
O objectivo último
de tais esforços em Cuba é, recriando a “democracia representativa” moldada a
partir da hegemonia, elevar ao poder os seus próprios agentes e os processos
políticos aferidos aos seus próprios interesses, os interesses conformes ao
império, contando com um amplo recurso extra em reserva: a migração com a
tradição mais ultra-conservadora e criminosa da América Latina.
Os Estados Unidos
não reconhecem o modelo de estado cubano, nem a sua democracia participativa e
ao não fazê-lo, limitam a democracia àquilo que praticam em sua casa,
manipulando sobre questões tão fundamentais como os direitos humanos em
proveito dos “lobbies” estimulados pela sua aristocracia financeira.
As ingerências
sucederam-se após a implosão da URSS e dos estados do socialismo real na Europa
do Leste, onde proliferaram as “revoluções coloridas” que foram por si incentivadas
até ao Cáucaso e Ásia Central.
A “receita” de “bloqueamento”
a fim de provocar conjunturas favoráveis no espectro político está implícita
por exemplo nos processos das “primaveras árabes”, recorrendo por vezes a
expedientes neo-conservadores para consolidar as “revoluções” e começa a haver
indícios que essa “receita” começou também a ser aplicada em Angola, embora
ainda com efeitos ainda limitados, mas não menos controversos!
Em Cuba a Revolução
Cubana está a responder com criatividade por via de “Los lineamentos de la
política económica y social del partido y de la revolucion” e as novas leis que
têm sido promulgadas (entre elas a actual lei da migração), no quadro dum
ambiente alternativo favorável na América Latina, em especial em função da
articulação propiciada pela ALBA, MERCOSUL e UNASUL, pelo que as expectativas
do esforço norte americano chocam com uma cada vez maior e mais organizada “almofada
amortecedora” aos impactos sócio-políticos por si estimulados.
A criatividade
socialista, com aliados importantes na América Latina, resiste ao bloqueio
conjugado com as ingerências e é também uma forma de vencer o próprio bloqueio.
O que está contudo
a acontecer aí onde os processos criativos evoluem numa esteira de capitalismo
exacerbado pelo neo liberalismo, onde regimes estão instalados de longa data,
desde os alicerces dos próprios movimentos de libertação?
Avalia-se em parte
pelas sucessivas amostras da Tunísia, da Líbia e do Egipto, mas aí não houve
movimento de libertação.
A “ementa”
resultará se e quando for aplicada noutras paragens do continente, por exemplo
na África Austral?
Quais são as
posições, por exemplo, em relação ao “vilcão sul africano”?
O que acontecerá
por exemplo com Angola?
2 – As relações dos
Estados Unidos com Angola independente não têm sido lineares, nem exemplares,
sofrendo alterações que nos conduzem a sinais controversos que são típicos nos
relacionamentos externos promovidos pelos norte americanos, em particular com
cada um dos países que compõem os Não Alinhados.
Se o peso da
influência dos Estados Unidos em Angola, aproveitando as conversações, levou
numa 1ª fase à abertura para com o capitalismo neo liberal, salvaguardando e de
que modo os interesses das corporações multinacionais do petróleo e dos
minérios, sobretudo dos diamantes, numa 2ª fase, com a administração do
democrata Barack Hussein Obama, de há 4 anos a esta parte o relacionamento
resvala para a tentação de impulsionar os “cavalos de Tróia” que servem os
estritos interesses norte americanos, num processo que com as dilectas
justificações habituais, é um processo neo-conservador que além de explorar o
redesenhar o mapa político, pode estar tentado a fazer o que antes já havia
feito no tempo de Kissinger: sacrificar o MPLA, ainda que ele tenha feito um
esforço enorme para manter a unidade e a identidade nacional!
No tempo há pois
três períodos distintos dos relacionamentos para com Angola:
- O período do “complexo
de Kissinger” desde antes da independência até 19 de Maio de 1993;
- A 1ª fase dos
relacionamentos após o reconhecimento de Angola, que vai de 19 de Maio de 1993
até ao fim do mandato da administração republicana de George W. Bush (há
praticamente 4 anos, em Novembro de 2008);
- A 2ª fase dos
relacionamentos que vai desde Novembro de 2008 até ao presente, que
caracterizou o tipo de relacionamentos instigados no âmbito da administração do
democrata Barack Hussein Obama, que espelha de certo modo algumas das
experiências e iniciativas levadas a cabo no laboratório em que foi por eles
tornada a própria sociedade cubana, estendido o bloqueio às ingerências e
manipulações em curso, conjugadas ao que foi “seleccionado” por via das “revoluções
coloridas” e “primaveras árabes”…
Foto: Dois dos
mentores das políticas hostis contra Angola que tanto favoreceram o regime do “apartheid”,
o projecto dos seus “bantustões” e os “freedom fighters” da ocasião.
Livros a consultar:
- Angola – EUA: os
caminhos do bom senso de José Patrício, o primeiro Embaixador de Angola nos
Estados Unidos.
- Jogos Africanos
de Jaime Nogueira Pinto
A consultar na
Internet:
- O Cáucaso alvo de
todas as ingerências – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/03/o-caucaso-alvo-de-todas-as-ingerencias.html
- Agressão
permanente – http://tudoparaminhacuba.wordpress.com/2012/10/04/agressao-permanente/
- O bloqueio a Cuba
é também uma afronta a África – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/09/o-bloqueio-cuba-e-tambem-uma-afronta.html
- Uma contínua
conspiração – I – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/01/uma-continua-conspiracao-o-bloqueio.html
- Uma contínua
conspiração – II – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/01/uma-continua-conspiracao-guantanamo.html
- Entrevista a
Ricardo Alarcon, Presidente del Parlamento cubano, Cuba frente a los desafios
del siglo XXI – I – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=147866
- Entrevista a
Ricardo Alarcon, Presidente del Parlamento cubano, Cuba frente a los desafios
del siglo XXI – II – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=147921
- Entrevista a
Ricardo Alarcon, Presidente del Parlamento cubano, Cuba frente a los desafios
del siglo XXI – III – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=147954
- Ley migratória de
Cuba – http://www.cubainformacion.tv/index.php/politica/46202-ley-migratoria-de-cuba-una-actualizacion-soberana;
http://www.escambray.cu/wp-content/uploads/2012/08/ley-migratoria_cuba_2012.pdf
- Relações Estados
Unidos – Cuba – http://tudoparaminhacuba.wordpress.com/category/relacoes-estados-unidos-cuba/
- O vulcão sul
africano – http://tudoparaminhacuba.wordpress.com/2012/08/24/o-vulcao-sul-africano/;
http://paginaglobal.blogspot.pt/p/o-vulcao-sul-africano.html
Sem comentários:
Enviar um comentário