Deutsche Welle
Governo alemão teme
que a França seja a "bola da vez" na crise da dívida e pressiona pela
implementação de reformas. Franceses mostram irritação e pedem explicações,
escreve a imprensa.
As más notícias
estão se acumulando para o governo francês. No início de novembro, o Fundo
Monetário Internacional (FMI) salientou, em seu relatório financeiro sobre a
França, a fraca competitividade da indústria do país no cenário internacional.
Segundo o
relatário, o alto grau de endividamento público ameaçará a estabilidade da zona
do euro, caso os investidores percam ainda mais a confiança no país. O FMI
alerta para o "perigo de contágio", uma vez que os bancos franceses
atuam fortemente nos países em crise da zona do euro.
A União Europeia
(UE) também demonstrou preocupação com a França. O comissário de questões
monetárias Olli Rehn afirmou, durante a apresentação dos prognósticos de
crescimento do bloco europeu para o ano de 2013, que a Alemanha estaria em
posição bem melhor do que a França.
"Supomos que a
economia francesa irá crescer apenas 0,4%, embora o governo em Paris parta de
um índice de 0,8%, ou seja, o dobro", disse Rehn. Segundo ele, o deficit
público será de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) no próximo ano, e de não
3%, como prometido pelo governo.
O especialista
Henrik Uterwedde, do Instituto Franco-Alemão em Ludwigsburg, vê esses números
de maneira crítica. "Acredito que a situação seja muito séria, porque a má
conjuntura na França não é um fenômeno passageiro, mas permeado pelos problemas
estruturais da economia francesa."
Em entrevista à
Deutsche Welle, Uterwedde afirma que o presidente François Hollande deveria
reduzir o endividamento do país. Porém, uma política de austeridade poderia
levar a um enfraquecimento ainda maior da conjuntura. Por isso, conclui
Uterwedde, Hollande encontra-se em meio a um dilema.
Competitividade na
Europa
A pedido do governo
francês, o executivo Louis Gallois concluiu um parecer com 22 medidas para
fortalecer a indústria francesa perante a concorrência internacional. Gallois
afirmou em Paris, após reunir-se com o primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault, que
é necessário um verdadeiro "choque", a fim de recuperar a
competitividade da indústria francesa no cenário internacional.
"Os franceses
devem apoiar esse esforço conjunto, que poderá talvez se transformar num
maravilhoso projeto para nosso país, visando fortalecer novamente nossa
indústria", disse Gallois, ex-presidente do grupo franco-alemão EADS. "Para
isso, precisamos de debates e de um diálogo social em todos os níveis: nas
fábricas, nas esferas regional e nacional, a fim de desencadear uma nova
dinâmica e novos impulsos", concluiu.
Ayrault anunciou um
primeiro passo neste sentido: uma redução tributária de 20 bilhões de euros nos
próximos três anos para a indústria. Segundo o especialista Uterwedde, há,
contudo, a necessidade de o presidente Hollande levar adiante reformas mais
profundas na economia e no setor administrativo.
"Hollande não
teve coragem ainda de tocar nas reformas administrativas. Mas ele vai ter que
fazer isso, porque um novo relatório do conselho de especialistas sobre a
posição da indústria francesa no mercado internacional trouxe notícias muito
alarmantes, atestando que a economia do país não poderá ser realmente saneada
sem um 'choque' verdadeiro", declarou Uterwedde.
O jornal francês Le
Figaro desafiou o chefe de governo socialista a ser "como Schröder",
em referência ao ex-chefe de governo alemão, do Partido Social Democrata, que
levou a cabo um pacote de reformas sociais e do mercado de trabalho, intitulado
Agenda 2010, mesmo contra resistências consideráveis no país.
Preocupações na
Alemanha
Ayrault viaja a
Berlim nesta quinta-feira (15/11), onde se reúne com a chanceler federal Angela
Merkel para debater questões de política financeira. O ministro alemão das
Finanças, Wolfgang Schäuble, teria demonstrado sérias preocupações a respeito
da morosidade das reformas na França.
O diário francês Liberation
noticiou que Paris havia pedido um esclarecimento por escrito a Berlim. Os
assessores do presidente Hollande veem o "pânico" provocado pela
Alemanha com grande preocupação, escreveu o jornal na última segunda-feira,
apontando que a situação na França não pode ser comparada nem com a crise da
Grécia nem com a Espanha, e que a insegurança dos mercados financeiros, bem
como a especulação, podem acabar sendo desencadeadas por se falar tanto no
assunto.
Uterwedde não vê,
porém, nenhuma desavença neste sentido. "Os dois países estão condenados a
agir juntos, pois estão altamente entrelaçados e são quem dá o tom na zona do
euro. Sem uma cooperação entre ambos não poderemos superar a atual crise na
zona do euro", conclui.
A França tem que
agir
O comissário Rehn
vê boa vontade por parte da França no sentido de implementar reformas. As
previsões da Comissão Europeia para o crescimento econômico em 2013 poderão,
segundo ele, ser modificadas em função de medidas políticas concretas. "Vivenciamos
na França uma possível mudança decisiva na política, tanto na consolidação
orçamentária quanto em questões relativas à competitividade. Por isso não nos
encontramos numa situação estática, mas em mudança", afirmou Rehn à
imprensa em Bruxelas.
Uterwedde acredita
que Hollande esteja dando apenas os primeiros passos rumo a uma mudança. "Ele
sabe que tem que reduzir as dívidas e quer fazer isso, embora até agora não
tenha conduzido até o fim a implementação desta política de desendividamento. Isso
ainda vai acarretar muitas discussões políticas difíceis na França",
resume o especialista.
No próximo ano, o
endividamento total do país, segundo uma projeção da Comissão Europeia,
ultrapassará o equivalente a 90% do PIB. O percentual é visto como limite
crítico da capacidade de um país de suportar dívidas.
Autor: Bernd
Riegert (sv) - Revisão: Alexandre Schossler
Sem comentários:
Enviar um comentário