Verdade (mz) - editorial
Em política, todos
os argumentos são, por assim dizer, válidos, porém, os últimos comentários do
ex-estadista moçambicano Joaquim Chissano roçaram a raia do ridículo. Aliás,
diga-se em abono da verdade, Chissano, uma figura respeitável, saiu-se muito, mas
muito mal ao proferir tais palavras, uma vez que mostrou estar politicamente
fragilizado, ou seja, aproveitou a oportunidade para pôr a nu o esvaziamento do
seu discurso desde que deixou o cargo de Presidente da República.
E, desta vez para o
país inteiro, revelou, à sociedade que tem vindo a perder a sensatez à medida
que o tempo vai passando.
Chissano não pode
esquecer do que disse antes quando afirmou, para quem quis ouvir, que enganou a
Renamo. Sem pensar nas consequências alardeou que “fabricou” algumas linhas dos
acordos gerais de paz e entregou aos mediadores. Ou seja, Chissano troçou da
Renamo para atingir outras pessoas.
Portanto,
desconfiamos dos pronunciamentos de Chissano. A sua atitude, agora, é típica de
alguém que pretende mostrar de que lado está quando, na verdade, antes, acendeu
o fósforo que originou todo o problema. Chissano é responsável, em parte, e
agora quer vestir a pele de cordeiro.
O seu
pronunciamento devia ter ficado guardado. Ou seja, devia aparecer no seu livro
de memórias e não hoje. Num momento complicado e de tensão, as palavras de
Chissano não podem ser compreendidas de outra forma.
Foram usadas com o
objectivo de causar danos mais tarde (hoje). É a filosofia do veneno, mata
lentamente e não deixa pistas. Ou seja, quando tudo acontece o criminoso está
bem longe. Sobretudo quando tem a possibilidade de colocar a culpa em
terceiros.
Com tal posição,
não queremos desculpar a atitude de Dlhakama. Quanto a nós a sua atitude é
repugnante. Porém, o importante é realçar o papel de alguém que governou o país
em tudo isso. Ainda que a sua responsabilidade não seja total, não deixa de ser
vergonhosa.
Nada, por outro
lado, garante que Chissano e Dlhakama não continuem mancomunados e que a ideia
de incendiar o país não tenha sido congeminada nos esgotos da sacanice de
qualquer discurso premeditado.
De um estadista da
estirpe de Chissano esperávamos, contudo, polidez no discurso. Ou seja, não é
típico de Chissano proferir discursos que dividam. Nunca foi assim. Por isso
devemos desconfiar da sua postura. Qual é a sua real intenção? O que pretende
quando incita, ainda que possa ser implicitamente, a revolta de uma pessoa que
tem armas? Todo o cuidado é pouco...
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