Paulo Gaião –
Expresso, opinião, em Blogues
Só parecem existir
duas soluções. Ou o ministro Miguel Macedo demite os responsáveis da PSP ou
demite-se ele próprio.
A situação é
irreal. Depois de terem pedido imagens da manifestação de 14 de Novembro à RTP
e à SIC, a PSP fez ontem o mesmo pedido à TVI, tal como divulgou a estação de
Queluz. Solicitou imagens "de preferência não editadas" (brutos) para
"usar como meio de prova dos atos classificados como crime".
Este pedido à TVI,
enviado por email, teve origem no gabinete de comunicação da PSP, dando
execução a uma ordem nesse sentido do comissário João Pestana.
Estaremos a
assistir a uma manobra de diversão da PSP para justificar que pediu com
equidade às três estações o material proibido? O que é isto? Que polícia é
esta?
Ao pedir imagens
não editadas às televisões, para identificar autores de crimes, a PSP mostra um
desconhecimento total das regras do Estado de Direito Democrático, da
independência da comunicação social, do estatuto dos jornalistas e dos fins que
servem o material noticioso.
Os jornalistas são
jornalistas, não são polícias nem juízes, nem delegados do Ministério Público.
São profissionais independentes e não são auxiliares da PSP (ou das autoridades
judiciárias). O material noticioso, no caso concreto, nem deve servir como meio
de prova em tribunal porque o interesse a tutelar da missão de informar é mais
elevado do que os interesses afectados durante a manifestação de 14 de
Novembro. Quanto mais ser cedido arbitrariamente às polícias.
A PSP, quando atua
como órgão de polícia criminal, deve fazê-lo sob a direcção e na dependência
funcional da autoridade judiciária. É a esta que cabe a acção de investigação
penal.
Ora, como parece
óbvio, a PSP está a agir por iniciativa própria e não do Ministério Público ou
de um juiz. Como facilmente se avalia pelo meio utilizado, termos e origem do
pedido à TVI e às outras estações. Ou seja parece estar a agir "ad
hoc", fora da legalidade e em roda livre.
Ao ter esta
conduta, a PSP mostra que é uma polícia que carece de formação básica. Não só
no campo do exercício e defesa da legalidade e cidadania mas também dos
procedimentos na própria recolha da prova para que ela possa ser válida em julgamento. Um
"bruto" televisivo obtido por via destas práticas da PSP seria
facilmente considerado uma prova ilegal.
Como é possível
gastar o dinheiro que se tem gasto em cursos para oficiais das polícias e
múltiplas acções de formação para estes resultados?
Como é possível
Portugal ser o segundo país da União Europeia que mais gasta nas forças de
segurança (PSP e GNR) e o terceiro com mais efectivos para isto?
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