Nicolau Santos –
Expresso, opinião, em Blogues
O facto de desde
2008 não se falar de outra coisa se não de economia está a ter efeitos nocivos
sobre a saúde de milhões de pessoas.
O caso mais
exemplar aconteceu esta semana com o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude
Junker, e o primeiro-ministro e o ministro das Finanças portugueses, Pedro
Passos Coelho e Vítor Gaspar, terem dito publicamente que as novas condições
dos empréstimos concedidos à Grécia deveriam ser estendidas a Portugal e à
Irlanda, tendo em conta o princípio da igualdade.
Dois dias depois,
Junker constatou que está surdo. "Percebi mal a pergunta e nem sequer a
ouvi", disse. Pois mesmo assim respondeu, o que é extraordinário. E pode
alguém dizer uma coisa que não queria dizer só porque não percebeu a pergunta?
Pode, claro. Para Junker pode.
Por sua vez, Gaspar
explicou vagarosamente, como é seu hábito, que as afirmações de Junker e de
Passos "estão inteiramente corretas e foram descontextualizadas de forma
pouco cuidadosa por alguma informação".
Quanto às
afirmações que ele próprio, Gaspar, tinha feito no Parlamento português no
mesmo sentido, não explicou.
Suspeita-se,
contudo, que há remédio para estas alucinações coletivas e para a surdez de
alguns. Com efeito, assim que o ministro alemão das Finanças, Wolfgang
Schauble, explicou que Portugal faria muito mal em pedir o mesmo que a Grécia
obteve, toda a gente percebeu. E toda a gente corrigiu o discurso.
Há esperança, pois.
Os efeitos podem ser graves mas se todos os políticos falarem em alemão, qualquer
problema linguístico será liminarmente afastado.
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