Isabel
Arriaga e Cunha (Bruxelas) - Público (atualizada)
Schäuble e
Moscovici desaconselharam Governo português a tentar obter as mesmas condições
atribuídas a Atenas
Os países da zona
euro assumiram ontem um recuo em toda a linha sobre a possibilidade de Portugal
e a Irlanda virem a beneficiar das condições de suavização dos empréstimos
europeus decidida na semana passada para a Grécia, considerando que o debate à
volta desta questão está rodeado de um "mal-entendido".
Jean-Claude
Juncker, primeiro-ministro do Luxemburgo e presidente do eurogrupo, deu o dito
por não dito no final de uma nova reunião dos ministros das Finanças do euro em
que voltou a ser confrontado pela imprensa sobre a extensão a Lisboa e Dublin
das novas condições definidas para Atenas. "Não tenho a impressão de que o
eurogrupo esteja em condições de dar um tratamento semelhante, igual, a estes
países", afirmou. "Vamos analisar, mas isto não é uma indicação de
alguma coisa vai mudar", acrescentou.
Esta afirmação
contrasta com a posição assumida pelo mesmo Juncker na passada segunda-feira
depois da decisão dos ministros das Finanças sobre um novo pacote de medidas
destinadas a reduzir a dívida grega, que incluem a extensão por 15 anos das
maturidades dos empréstimos do fundo europeu de estabilidade financeira (FEEF),
a redução de 0,1 pontos percentuais das respectivas comissões e a concessão de
um período de carência de 10 anos dos juros associados.
À questão dos
jornalistas sobre a extensão a Portugal e Irlanda destas medidas do FEEF,
Juncker respondeu: "Tomámos uma decisão há mais de um ano de que as mesmas
regras terão de ser aplicadas a outros países sob programa [de ajustamento] e
isso será tratado numa próxima reunião" do eurogrupo. Juncker referia-se à
decisão dos líderes da zona euro de 21 de Julho de 2011 que estendeu a Portugal
e Irlanda a redução das taxas de juro dos empréstimos então decidida no quadro
do FEEF para a Grécia.
A mesma posição foi
assumida em Lisboa pelo ministro português das Finanças, Vítor Gaspar, e pelo
primeiro-ministro Passos Coelho, que invocaram a mesma decisão de Julho de 2011
para justificar a concessão a Portugal das novas medidas gregas.
Confrontado ontem
com a contradição das suas afirmações, o presidente do eurogrupo esclareceu
que, na semana passada, foi surpreendido pelos jornalistas portugueses
"num canto escuro" e "em condições desconfortáveis".
"Percebi mal a pergunta porque nem sequer a ouvi", frisou.
Vítor Gaspar
contrapôs ontem que tanto as afirmações do presidente do eurogrupo como as do
primeiro-ministro são "inteiramente correctas" mas que "foram
descontextualizadas de forma pouco cuidada". "A simplificação
excessiva de assuntos complexos conduz inevitavelmente a mal-entendidos",
afirmou.
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