Bruno Garcez, enviado
especial da BBC Brasil a Moscou
A estadia da
presidente Dilma Rousseff na Rússia, até o próximo sábado, deverá ser uma
oportunidade para que brasileiros e russos possam não apenas estreitar laços
econômicos, como também reforçar a estrutura dos Brics - o bloco de economias
emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
É essa a opinião de
analistas ouvidos pela BBC Brasil em relação à estadia da presidente à Rússia.
Ela chegou ao país na madrugada desta quinta-feira. É a primeira visita de
Dilma à Rússia, que era a única nação a integrar os Brics que ela ainda não
havia visitado.
Para o americano
Riordan Roett, cientista político da Universidade Johns Hopkins e brasilianista,
que lançou no ano passado o livro The New Brazil (O Novo Brasil), a visita visa
''reforçar a família dos Brics'', no que diz ser um momento de dificuldade para
todos os países do bloco.
''O conceito dos
Brics vem sofrendo ataques'', comenta Roett, já que, em contraste com a imagem
dinamismo de anos atrás, ''o Brasil enfrenta crescimento lento, a Índia padece
de paralisia política, a África do Sul já mostrou que não deveria pertencer ao
bloco e Rússia e China enfrentam transições políticas lentas e previsíveis''.
Banco dos Brics
Os Brics deverão
ser um tema central da agenda bilateral de Brasil e Rússia em Moscou, avalia
Adriana Abdenur, coordenadora geral do instituto BRICS Policy Center e
professora do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio.
Um dos motivos, diz
ela, é que a próxima reunião do bloco está prevista para ocorrer em breve, mais
especificamente em março do ano que vem, em Durban, na África do Sul.
E o próximo encontro
poderá referendar uma proposta feita recentemente, a de criar um banco comum de
investimentos, uma proposta feita pelos indianos e que os anfitriões
sul-africanos desejam ver se materializar ainda durante a cúpula.
''Os russos têm uma
posição meio ambígua, a de que talvez não haja interesse em que a coisa saia do
papel em questão de meses. Eu percebo no Brasil também uma certa hesitação
quanto ao prazo. O Brasil já tem o BNDES, qual seria a clientela desse banco,
quais as linhas de crédito?'', avalia Abdenur.
'Agenda emergente'
A Rússia assumirá a
presidência rotativa do G20 em 2013, e países emergentes, como o Brasil, a
Rússia e a China, têm feito do grupo uma tribuna para defender seus interesses
em contraponto aos das grandes potências tradicionais.
Essa ''agenda
emergente'' é compartilhada, em diversos temas, por Brasil e Rússia.
Os países do grupo,
afirmam Abdenur e Roett, estão de acordo em tópicos como a necessidade de
reformar as estruturas de instituições multilaterais como o Fundo Monetário
Internacional (FMI), o Banco Mundial e o bloco do G20.
A reforma na
governança dessas instituições constará dos temas das conversas entre Dilma e o
primeiro-ministro Dmitri Medvedev, nesta quinta-feira, e com o presidente
Vladimir Putin, na sexta, conforme revelou o Itamaraty.
Os analistas
compartilham, no entanto, do ceticismo de que Dilma conseguirá junto aos
colegas russos grandes avanços em relação à pretensão brasileira de obter um
assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, posição da qual a Rússia
desfruta.
Simbólico e prático
A agenda moscovita
de Dilma vai conciliar tanto o simbólico como o prático. No mesmo dia em que
ela colocará flores no Túmulo do Soldado Desconhecido, Dilma fará o discurso de
encerramento do 2º Fórum Empresarial Brasil - Rússia.
Além da presidente
e de seus ministros, cerca de 80 empresários brasileiros de setores que vão da
biotecnologia ao turismo estão na Rússia para participar do fórum e buscar
parcerias.
Mas a avidez por
negócios e parcerias seria, na visão dos analistas ouvidos pela BBC Brasil,
mais um sinal de apreensão do que indicações de que ambos atravessam uma boa
fase.
Para Roett, Brasil
e Rússia estão tendo desempenhos decepcionantes e, portanto, estariam se
voltando para firmar laços econômicos como uma forma de compensar o fato de
estarem ''levemente desesperados''.
A dupla de
acadêmicos não crê que a estimativa de crescimento russo para este ano, de
cerca de 3% - superior, portanto à brasileira, projetada para ficar na faixa de
1% - seja motivo para celebração em Moscou ou suficiente para despertar inveja
em Brasília.
Para Adriana
Abdenur, não houve uma inversão de papéis, como apontaram alguns, entre o
promissor Brasil e a, até outrora, letárgica Rússia. ''Não diria que houve uma
inversão de papéis. Os dois países se encontram em momentos parecidos. A
desaceleração brasileira pode ser momentânea. E o crescimento russo é inferior
ao do país no mesmo período do ano passado.''
Atualmente, o
comércio entre os dois países é de US$ 7,16 bilhões (cerca de R$ 15 bilhões),
tendo crescido 357% entre 2001 e 2011.
Dilma chega à
Rússia acompanhada dos ministros das Relações Exteriores, Antonio Patriota, do
Ministro da Defesa, Celso Amorim, do titular da pasta da Educação, Aloísio
Mercadante e do Ministro da Indústria e Comércio, Fernando Pimentel.
Os dois países
discutirão ainda a participação de instituições de ensino russas no programa
Ciências sem Fronteiras e procurarão compartilhar experiências na realização de
megaeventos esportivos. O Brasil sediará a próxima Copa do Mundo, em 2014, e a
Olimpíada de 2016, ao passo que a Rússia será o país-sede da Copa de 2018 e
realizará a Olimpíada de Inverno de 2014.
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