segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Portugal: O TEMPO DESTRÓI A MEMÓRIA… E A CONTA CALADA DO BPN

 

Notas soltas
 
Eduardo Oliveira Silva – Jornal i, opinião
 
A causa e a substância das coisas é matéria de que nunca nos devemos desviar
 
Esquecer a substância
 
É impressionante como o tempo destrói a memória. Os mais reputados economistas, financeiros, analistas, jornalistas, políticos e homens de negócios asseguram que a crise que vivemos é económica e começou, em 2008, nos Estados Unidos. Errado.
 
A crise começou por ser financeira e nasceu por causa da banca. Alastrou à Europa exactamente por essa via e contaminou a Irlanda e a Islândia, passando para Inglaterra. Portugal é também um paradigma desta verdade, se nos ativermos à conta calada que temos todos de pagar por causa do BPN.
 
Os particulares levaram com uma factura enorme, que, aí sim, afectou a economia gravemente. Como se isso não lhes bastasse, os cidadãos são agora destratados e acusados de ter gasto o que não tinham, quando isso é geralmente uma falsidade. Estatisticamente foram poucos os que esbanjaram. Os que contraíram dívida fizeram-no num pressuposto de estabilidade e de crescimento que até levava a banca a emprestar dinheiro a 25 anos a pessoas com mais de 50. Em Portugal, Espanha e Grécia, a transferência da crise para a economia foi, entretanto, mais grave que noutros países europeus porque não existia supervisão bancária e porque não havia banqueiros mas apenas gestores, remunerados sobre lucros verdadeiros ou inscritos no balanço. Agora a única solução para a Europa é dar o passo em frente e criar uma supervisão bancária (desde que Vítor Constâncio fique arredado) e a seguir a união bancária. São decisões essenciais para compensar o nascimento deficiente do euro, à época aplaudido por todos os sectores excepto os comunistas ou os nacionalistas. Mas, para além destes novos institutos e mecanismos, é preciso não perder de vista que verdadeiramente essencial é encontrar formas de relançar a economia em moldes saudáveis de crescimento, até porque a uma moeda forte não corresponde necessariamente uma sociedade próspera.
 
A saúde da coligação
 
Na prática, as afirmações de Paulo Portas de que o Orçamento de 2014 terá de ser diferente do de 2013 são uma espécie de estertor neste final de Dezembro. Para o ano não há rigorosamente nenhuma razão de crer que o CDS tenha de ser mais ouvido, como reclamou o seu líder. Ou melhor: a única maneira de se fazer entender claramente é sair do governo e transferir o seu poder para a Assembleia, viabilizando pontualmente o que achar. Da forma como as coisas estão, o CDS é verdadeiramente a parte mais fraca e tem de engolir o que o primeiro-ministro e o seu número dois, Vítor Gaspar, quiserem, chegando e sobrando para justificar a permanência o superior interesse da nação. Do mal o menos, porque assim ainda se arranjam colateralmente uns lugares para as clientelas que até os partidos mais pequenos têm em abundância quando integram governos.
 
Evolução
 
Numa fase em que o dinheiro circula à velocidade de um clique e em que as bolsas estão abertas 24 horas, é no mínimo absurdo haver quem ande preocupado com as questões laterais em vez de averiguar as substanciais, como o cumprimento da lei que envolve a actividade específica das empresas. Numa Europa que tem leis e reguladores para tudo e mais um par de botas, a parte verdadeiramente relevante é saber se o objecto social e a responsabilidade subjacente às empresas são ou não respeitados. É tudo, e não é pouco. A cada um a sua quota-parte de responsabilidade.
 
*Título PG com base em frases do texto
 

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