Notas soltas
Eduardo Oliveira
Silva – Jornal i, opinião
A causa e a
substância das coisas é matéria de que nunca nos devemos desviar
Esquecer a
substância
É impressionante
como o tempo destrói a memória. Os mais reputados economistas, financeiros,
analistas, jornalistas, políticos e homens de negócios asseguram que a crise
que vivemos é económica e começou, em 2008, nos Estados Unidos. Errado.
A crise começou por
ser financeira e nasceu por causa da banca. Alastrou à Europa exactamente por
essa via e contaminou a Irlanda e a Islândia, passando para Inglaterra.
Portugal é também um paradigma desta verdade, se nos ativermos à conta calada
que temos todos de pagar por causa do BPN.
Os particulares
levaram com uma factura enorme, que, aí sim, afectou a economia gravemente.
Como se isso não lhes bastasse, os cidadãos são agora destratados e acusados de
ter gasto o que não tinham, quando isso é geralmente uma falsidade.
Estatisticamente foram poucos os que esbanjaram. Os que contraíram dívida
fizeram-no num pressuposto de estabilidade e de crescimento que até levava a
banca a emprestar dinheiro a 25 anos a pessoas com mais de 50. Em Portugal,
Espanha e Grécia, a transferência da crise para a economia foi, entretanto,
mais grave que noutros países europeus porque não existia supervisão bancária e
porque não havia banqueiros mas apenas gestores, remunerados sobre lucros
verdadeiros ou inscritos no balanço. Agora a única solução para a Europa é dar
o passo em frente e criar uma supervisão bancária (desde que Vítor Constâncio
fique arredado) e a seguir a união bancária. São decisões essenciais para
compensar o nascimento deficiente do euro, à época aplaudido por todos os
sectores excepto os comunistas ou os nacionalistas. Mas, para além destes novos
institutos e mecanismos, é preciso não perder de vista que verdadeiramente
essencial é encontrar formas de relançar a economia em moldes saudáveis de
crescimento, até porque a uma moeda forte não corresponde necessariamente uma
sociedade próspera.
A saúde da
coligação
Na prática, as
afirmações de Paulo Portas de que o Orçamento de 2014 terá de ser diferente do
de 2013 são uma espécie de estertor neste final de Dezembro. Para o ano não há rigorosamente nenhuma razão de crer que o CDS tenha de ser mais ouvido, como
reclamou o seu líder. Ou melhor: a única maneira de se fazer entender
claramente é sair do governo e transferir o seu poder para a Assembleia,
viabilizando pontualmente o que achar. Da forma como as coisas estão, o CDS é verdadeiramente a parte mais fraca e tem de engolir o que o primeiro-ministro
e o seu número dois, Vítor Gaspar, quiserem, chegando e sobrando para
justificar a permanência o superior interesse da nação. Do mal o menos, porque
assim ainda se arranjam colateralmente uns lugares para as clientelas que até
os partidos mais pequenos têm em abundância quando integram governos.
Evolução
Numa fase em que o
dinheiro circula à velocidade de um clique e em que as bolsas estão abertas 24
horas, é no mínimo absurdo haver quem ande preocupado com as questões laterais
em vez de averiguar as substanciais, como o cumprimento da lei que envolve a
actividade específica das empresas. Numa Europa que tem leis e reguladores para
tudo e mais um par de botas, a parte verdadeiramente relevante é saber se o
objecto social e a responsabilidade subjacente às empresas são ou não
respeitados. É tudo, e não é pouco. A cada um a sua quota-parte de
responsabilidade.
*Título PG com base
em frases do texto
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