segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Portugal: PASSOS DEFENDEU EM 2010 CO-PAGAMENTOS NA EDUCAÇÃO

 

Liliana Valente – Jornal i
 
O primeiro-ministro recusou ontem “co-pagamentos” na Educação. Em 2010 defendia-os e também a possibilidade de “livre escolha”
 
A discussão sobre a reforma que o governo quer levar a cargo na Educação permanece no jogo de português. Passos Coelho garantiu ontem que nunca falou em “co-pagamentos” no ensino secundário e que não é possível no ensino obrigatório “criar taxas dessa natureza”, apesar de em entrevista à TVI ter falado num sistema de financiamento mais “repartido” entre os cidadãos e o Estado, através dos impostos.
 
As medidas que vão fazer parte da reforma da Educação só vão ser conhecidas no início do próximo ano quando o governo apresentar o plano de corte de quatro mil milhões de euros na despesa pública, mas ontem, o primeiro-ministro garantiu que não vai introduzir um sistema de co-pagamentos ou propinas no ensino secundário até porque, disse, foi uma interpretação “abusiva” a dos jornais que concluíram que “o governo estaria na disponibilidade de criar co-pagamentos no ensino obrigatório”.
 
Depois de a polémica declaração de Passos Coelho ter sido discutida no final da semana passada sem que nem o PSD nem o governo tenham dito afinal o que está em cima da mesa, Passos garante que a visão do executivo é a que foi transmitida pelo ministro da Educação, Nuno Crato, o único que da maioria falou sobre o assunto. “Eu nunca fiz qualquer referência a essa matéria e posso mesmo dizer que isso nem tem qualquer sentido. De resto, o senhor ministro da Educação esclareceu-o muitíssimo bem. Não é possível, em termos de ensino obrigatório, criar taxas dessa natureza”, explicou o primeiro-ministro.
 
Estas declarações são um recuo relativamente ao que disse em entrevista, mas também ao que defendia há dois anos, assim que assumiu a presidência do PSD. Num artigo de opinião publicado no i em 2010, Passos Coelho defendia não só a “livre escolha” no acesso aos serviços públicos de Saúde e Educação mas também a necessidade de introdução de “co-pagamentos”, nas duas áreas que mais pesam na despesa pública: “É indispensável organizar um ambicioso programa de combate aos desperdício nas políticas públicas mais pesadas, como são a Saúde e a Educação, fundadas na melhoria da nova gestão pública, no incentivo à livre escolha e na introdução de co-pagamentos pelos serviços prestados, com salvaguarda dos mais desfavorecidos”, defendia.
 
Uma ideia que deixa para trás, pelo menos para já. Ontem em Cabo Verde, Passos Coelho explicou que o que quis dizer na entrevista, quando se referiu ao facto de a Constituição dar mais margem para mexer na Educação do que na Saúde, mais não foi do que explicar que “nós temos, já hoje, sem qualquer outra reforma, um nível de financiamento que as famílias trazem para o sistema educativo que é diferente daquele que têm na área da saúde”.
 

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