sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

DEFEITOS E VIRTUDES DE AMÍLCAR CABRAL LÍDER DA LIBERTAÇÃO DE DUAS NAÇÕES




Livro póstumo descreve relações humanas durante guerra na Guiné e Cabo Verde

Cidade da Praia, 17 jan (Lusa) - O olhar da enfermeira cabo-verdiana Paula Fortes, combatente durante a luta de libertação e o pós-independência de Cabo Verde é tema de um livro a lançar a 26 deste mês pela Fundação Amílcar Cabral.

Em declarações à agência Lusa, Corsino Tolentino, coordenador da obra de Paula Fortes, falecida em junho de 2011 em Portugal, disse que "Minha Passagem" constitui uma obra de "grande qualidade" pela "extraordinária sensibilidade" com que a autora, que viveu nas trincheiras e hospitais de campanha durante o conflito contra Portugal (1963/74), descreve o dia-a-dia das relações humanas.

"Esteticamente, é um livro muito bem escrito e trata o patriotismo e a libertação a partir da cidadania, a partir da ação de uma enfermeira nas diferentes frentes de combate, antes e depois da independência", explicou Tolentino, atual presidente da Academia das Ciências e Humanidades de Cabo Verde.

"Fala do papel dos grupos que são menos mencionados nas obras sobre os movimentos da libertação nacional, que se ocupam normalmente da organização política e militar. Trata fundamentalmente da saúde, aspeto extremamente sensível em qualquer guerra, que viveu internamente, da problemática da educação e também, com uma sensibilidade extraordinária, das relações humanas. É uma espécie de ensaio sobre a libertação e sobre as relações entre as pessoas", sintetizou Tolentino.

Segundo o também historiador, sociólogo e investigador cabo-verdiano, a obra que lhe foi depositada nas mãos pela própria autora uma semana antes de falecer, constitui um testemunho "diferente" sobre a luta de libertação nacional.

Paula Fortes, enfermeira de profissão, esteve na década de 60 do século XX em Conacri, onde então se situava a sede do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), o movimento independentista cofundado por Amílcar Cabral.

Paula Fortes aderiu à luta de libertação nacional ainda muito jovem, tendo desempenhado um papel importante na formação dos alunos da Escola Piloto, em Conacri.

Após a independência de Cabo Verde, foi um elemento ativo na luta pela emancipação da mulher, ativista da condição feminina e fundadora e dirigente da Organização das Mulheres de Cabo Verde (OMCV).

Paula Fortes foi, na I República, a única mulher a assumir funções importantes no aparelho do Estado, desempenhando o cargo de delegada do governo na ilha do Sal.

JSD //JMR.

Unidade Guiné/Cabo Verde falhou e falta saber porquê -- PR cabo-verdiano

Cidade da Praia, 18 jan (Lusa) - O ideal da unidade Guiné/Cabo Verde, defendido por Amílcar Cabral, "falhou objetiva e historicamente" ainda antes de 14 de novembro de 1980, faltando agora saber o porquê, disse à agência Lusa o Presidente cabo-verdiano.

Numa entrevista à Lusa, Jorge Carlos Fonseca lembrou que esses são os "dados objetivos" da história da luta armada pelas independências (1963/74) e que, a par de haver a necessidade de se saber quem de facto mandou matar Cabral (assassinado a 20 de janeiro de 1973 em Conacri), os historiadores e investigadores devem dar resposta.

"Esse projeto, esse ideal, esse programa, falhou, objetiva e historicamente, mais concretamente desde o golpe de Estado guineense de 14 de novembro de 1980 (na Guiné-Bissau, com o golpe de Estado de João Bernardo "Nino" Vieira contra Luís Cabral). E o que fica na memória das pessoas são esses dados objetivos", defendeu.

"Seria interessante e saudável, do ponto de vista da História e das Ciências Sociais, tentar perceber as razões do falhanço: se foi um falhanço à nascença, genético, ou se houve um conjunto de condicionantes históricas, políticas e culturais que favoreceram esse projeto (de unidade)", sustentou.

Sobre a morte de Cabral, ainda envolta em mistério, Fonseca disse conhecer "várias explicações", indicando, porém, que, por essa mesma razão, "dificilmente se chegará a versões indiscutíveis".

"Haverá sempre versões. Alguns dados são exatos, isto é, sobre os autores materiais do assassínio (Inocêncio Kani, veterano da guerrilha do PAIGC e alguns companheiros). O que é ainda discutível, não é seguro, será o móbil, os instigadores", salientou, insistindo na mesma resposta sobre a quem interessava a morte de Cabral.

"Tem havido várias versões e apenas se sabe que o autor material era guineense e ligado ao PAIGC. Saber se os autores morais são uns ou outros, ou uns e outros, não me atreveria a fazê-lo, sobretudo na pele de Presidente de Cabo Verde", acrescentou, admitindo, em parte, a semelhança com Samora Machel, cujas circunstâncias da morte, a 19 de outubro de 1986, estão igualmente por esclarecer.

Sobre o homem, Fonseca considerou que Cabral representa para a "esmagadora maioria" dos cabo-verdianos "uma referência heroica e mítica" na independência do país, lamentando a existência de poucos trabalhos sobre a vida e obra do nacionalista.

"Cabral é visto como o mentor e um dos principais obreiros da independência de Cabo Verde, num contexto e quadro de luta que articulou os territórios da Guiné e de Cabo Verde. Com o tempo, ficou sobretudo a referência mítica e heroica, já que me parece que estudos sobre a obra, pensamento e percurso, estudos de cariz científico e com objetividade histórica são infelizmente raros", justificou.

"Mas a dimensão revolucionária, heroica e mítica permanece no seio da grande maioria dos cabo-verdianos. Permitiu ao país, ao longo de 37 anos, fazer o seu percurso que, não sendo perfeito nem isento de reparos e de críticas, é saudável e globalmente positivo", concluiu.

JSD // VM.


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