Desde os primeiros
dias do corrente mês, a região austral de África bem como outras partes do
mundo assiste o pico da época chuvosa. Moçambique não é excepção. Chove e
choveu muito, tanto no território nacional assim como nos países vizinhos. E
ainda vai continuar a chover.
Pior o facto de o
país, estando a jusante, ser o receptor de toda água que cai nos países
vizinhos. É um fenómeno natural sobre o qual o Homem não tem capacidade de ter
o pleno controlo, mas pode sim minimizar as suas consequências, a partir da
construção de barragens em cursos críticos de água, construção de diques e
muros de protecção e, por fim, assegurar que todos os meios estejam em
prontidão no sentido de garantir que, na hora da verdade, as consequências
sejam mínimas. O Instituto Nacional de Meteorologia e a Direcção Nacional de
Águas, em coordenação e colaboração com as homólogas instituições da região
tinham indicações mais ou menos precisas sobre o que iria efectivamente
acontecer. E de facto alertaram e os jornais escreveram alertando a quem de
direito no sentido de armar-se para fazer face ao cenário que se iria registar
logo a seguir.
Entretanto, tal como aconteceu nas históricas e tristes cheias de 2000, mais
uma vez, quem de direito ficou no cantinho estando a aguardar que em Março, no
final da época chuvosa, faça o levantamento estatístico dos mortos, das infra
estruturas públicas e privadas destruídas e dos campos agrícolas inundados para
à posterior usar estes números para pedir “esmola” à comunidade internacional.
Pedido em nome de quem sofre e tudo perdeu, mas que, muitas vezes, acaba por
ficar com os mais espertos, como diria o presidente Chissano, quando nalgum
momento, vangloriou-se pelo facto de ter conseguido driblar o dorminhoco do
Afonso Dhlakama no AGP.
A “mão estendida” que tanto o presidente Guebuza critica desde que ascendeu ao
poder, funcionou em 2000 e o mundo que não é insensível ao sofrimento do
“maravilhoso povo”, mandou helicópteros para o resgate, mandou o que vestir e o
que comer. Foi “mão estendida” porque “o deixa andar” estava no auge. Anos
seguintes assistiu-se, uma vez mais, a capacidade reactiva e não activa das
autoridades moçambicanas e a “mão estendida” voltou a funcionar. Guebuza está
no poder há quase 9 anos apregoando a necessidade de se parar com a “mão
estendida”, mas ele é o primeiro a estender a sua mão pedindo aos vizinhos e ao
mundo. Não estamos, de maneira nenhuma, a querer dizer que não se pode lançar
um apelo internacional para minimizar as consequências das cheias no país.
Estamos, isso sim, a dizer que é necessário que o país esteja dotado de meios
mínimos para responder a situações de emergência como é o caso das cheias. Para
nós, não é admissível, que como país que se preze, tenha uma força aérea que
não tem um helicóptero sequer que, muito bem, poderia ser usado nestes casos.
Pelo que nos consta, a nossa força aérea tem apenas um aviãozinho de treino
doando pela Força Área Portuguesa. Todo o resto da invejável frota aérea
Samoriana foi vendido aos pedaços, pelos mais espertos e o bolo resultante
ficou nos bolsos desses espertos.
Quem não se recorda dos camiões interceptados com motores de avião e
helicópteros, idos de Moçambique, a caminho da África do Sul? O Ministério da
Defesa não sabe dizer o que efectivamente aconteceu com aquilo que havia, mas
nos corredores, diz-se que os motores foram vendidos a um dos mais conceituados
mercenários sul africano.
Não é admissível que em momentos das chamadas Presidências Abertas, o país
tenha, aliás que o presidente tenha, 6 helicópteros à sua disposição 24 horas
por dia durante várias semanas, mas, neste momento que o “maravilhoso povo”
está a precisar de resgate, estes helicópteros não estejam disponíveis. Aliás,
estão dois disponíveis para servir Sua Excia, nas visitas que faz ou fez ao
centro de Chihaquelane, no distrito do Chókwè. Não é admissível que sempre que
temos chuva, estendamos a mão à solidariedade da Força Aérea sul africana. Não
é admissível que neste momento que o “maravilhoso povo” precisa de resgate
alguns barcos do INGC e da Marinha de Guerra de Moçambique não tenham
combustível.
Além de continuar a usar o truque “faça o que eu digo não o que eu faço”,
pensamos nós que é altura de o Presidente Guebuza dar exemplo, mandar vir
imediatamente os 6 helicópteros para servirem no resgate do “maravilhoso povo”,
ao invés de continuarmos com a “mão estendida” esperando pela solidariedade sul
africana.
Acreditamos nós que uma pequenina parte dos 1.2 bilião de Meticais que
correspondem ao bolo do OE - 2013 para a Presidência da República, pode,
muito bem fazer diferença alugando e pondo os 6 helicópteros em prontidão
porque efectivamente o “maravilhoso povo” está a precisar.
Assim, o Presidente Guebuza estaria a mostrar e a provar a sua real
sensibilidade para com o povo moçambicano e calar, de uma vez por todas, os
demagogos como diria um ilustre comentador de assuntos internacionais na rádio
pública. Também calaria, de uma vez por todas, a boca dos milhares de
“apóstolos da desgraça” que continuam a criticar Sua Excia só pelo facto de ter
completado 70 anos e ter promovido um super banquete com direito a transmissão
televisiva directa no sentido de o “maravilhoso povo”, concentrado nos campos
de acolhimento, sem o que comer, o que beber, o que vestir, o que calçar...ver
Sua Excia, com os seus, a comemorar.
Caso o valor que sair do bolo da Presidência da República para pagar o aluguer
dos helicópteros para resgatar o “maravilhoso povo” crie um buraco financeiro
na verba reservada ao aluguer de helicópteros para as Presidências Abertas,
pode, muito bem Sr. presidente, viajar neste país imenso de um bom Land Cruiser
que, certamente, se sentirá confortável. A agir assim, o presidente calaria, de
uma vez por todas, a boca daqueles “apóstolos da desgraça” que dizem que o Sr.
Presidente usa helicópteros como estratégia de marketing aos seus comícios do
Zumbo ao Indico e do Rovuma ao Maputo. O Sr. presidente poderia, assim provar,
de uma vez por todas, que o povo não vai aos comícios para ver uma frota de 6
helicópteros, mas sim, para ouvir o carismático presidente a discursar e a
pedir o fim de “mão estendida” ao “maravilhoso povo”.
Serenidade, compaixão, discurso verdadeiro e acção em tempo real pode, muito
bem, evitar o drama e a desolação assistida em 2000, cujos números finais
fixaram qualquer coisa como 640 mortos e 2 milhões de afectados. Agora estamos
em pouco mais de 100 mil afectados e cerca de 45 mortos. Parece pouco mas o
pico da época chuvosa está só a começar. Vamos parar de nos vangloriar com os
números de um estéril crescimento do Produto Interno Bruto, enquanto todos os
dias contabilizamos números de mortos por falta do mínimo para sobreviver e por
falta de um helicóptero de resgate.
Sem comentários:
Enviar um comentário