FP - MB – JMR -
Lusa
Bissau, 09 fev
(Lusa) - Na vila de Bissorã, norte da Guiné-Bissau, há um camelo oferecido pela
Líbia, que destrói culturas e ataca pessoas quando "está com o calor"
e está a dar origem a uma pequena "revolução".
Dois anos depois do
início da revolução líbia, que levou à queda e morte de Muammar Kadhafi, a
pequena vila de Bissorã vive também um clima de rebelião, contra o camelo que
já enviou duas pessoas para o hospital e já matou um burro.
"Estamos
cansados, se o camelo voltar vamos matá-lo". O grito de revolta é deixado
por Fatumaté Camará, a presidente da Associação Nho Dema (Ajuda Mútua, em
dialeto mandinga), que junta 150 residentes em Bissorã, 144 deles mulheres.
Mãos molhadas da
rega, catana em punho e lenço na cabeça, é com voz revoltada que conta que o
animal, uma fêmea, volta e meia aparece na horta comunitária e lhes come as
couves. As hortaliças, vendidas nos arredores e até em Bissau, são o sustento
de pelo menos 150 famílias.
O animal (na
verdade um dromedário) fazia parte de um grupo de cinco oferecido à
Guiné-Bissau em maio de 2008 por Muammar Kadhafi (que na altura ofereceu camelos
a 25 países da África subsaariana). Quatro morreram e ficou apenas aquele que
hoje tira o sono a Bissorã, onde a população está farta de pedir às autoridades
para que resolvam o problema: "ou o matam ou o devolvem à
procedência".
Como não há forma
de manter o animal fechado a fêmea passeia-se por onde quer e quando está
"com o calor" (com o cio) torna-se mais agressiva. No mês passado,
contou à Lusa uma autoridade de Bissorã que pediu para não ser citada, a camelo
atacou uma mulher que levava um filho às costas. "A mulher foi levada para
o hospital porque perdeu os sentidos", disse.
A fonte disse não
ter conhecimento de que a criança tenha morrido, embora Fatumaté Camará garanta
que o animal mordeu a cabeça da criança.
"Na feira
atacou um homem (de etnia) fula e ele teve de ser levado para Bissau. Basta ver
uma pessoa com uma bacia (na cabeça) e vem logo por trás porque pensa que está
lá alguma coisa para comer. Se for sal é pior, temos de fugir e deixar o sal",
conta Fatumaté Camará.
E diz também que o
camelo parte as vedações, come os repolhos e estraga outros, e que as mulheres
estão cansadas e com raiva.
"Levantamo-nos
muito cedo, deixamos os nossos filhos sem comer e vemos o camelo estragar o
nosso trabalho. É mau, é através disto que sustentamos a nossa família. Se ele
comer tudo como é que vamos alimentar os nossos filhos?". Duas dezenas de
mulheres ouvem Fatumaté e apoiam.
O problema do
dromedário já foi objeto de várias reuniões em Bissorã. Polícia, administrador e
deputados sabem da história e o caso já chegou ao governo.
"Já se propôs
muitas soluções mas não me compete decidir, tem de ser o governo. Por mim ela
seria transportada para o Senegal para poder acasalar", disse a fonte que
pediu para não ser citada, concluindo: "na realidade não temos nenhuma
condição para ter aqui o animal".
É o que dizem as
mulheres da Nho Dema. Fatumaté Camará, que adverte que ainda envenenam o
animal, ou Binta Camará, lágrimas nos olhos, os filhos em casa sem nada para
comer: quero pedir ajuda, para poço, para arame, para vedação, para sementes.
Estamos cansadas, os animais entram aqui, não é só o camelo, há dias foi um
burro".
Na semana passada
foi o marido de Suncar Sede, outra agricultora, que ficou sem um burro, morto
pela fêmea no auge "do calor". Aparentemente um "crime
passional".
Sem comentários:
Enviar um comentário