José Alberto
Quaresma – Expresso, opinião
Os jovens com 16
anos podem continuar a comprar cerveja e vinho. Não podem emborcar bebidas
espirituosas ou equiparadas, as chamadas bebidas brancas que
espevitam as noites brancas.
O governo anunciara
a proibição da venda de todas as bebidas alcoólicas a menores de 18 anos. Já no
princípio deste mês, o secretário de estado da Saúde, o garantia sem distinguir
diferenças entre líquidos.
Só que algum
pirolito espirituoso de António Pires de Lima, em convívio promovido pela
Associação Portuguesa dos Produtores de Cerveja (APPC) de que é presidente, pôs
o governo aos lóres, recuando na intenção.
A APPC foi a única
entidade que apreciou a bebida, perdão, a medida. Considerou-a
"adequada". O secretário-geral da APPC, Francisco Gírio - e acreditem
que o homem com umas bejecas a bordo ficava mesmo Gírio - achou que o consumo
entre os jovens de tenra idade deve "iniciar-se com bebidas de menor
grau alcoólico". Se iniciar-se com bebidas não alcoólicas pode constituir
um verdadeiro problema de saúde pública. Digo eu.
Pires de Lima,
também presidente do Conselho Nacional do CDS-PP, considerara a proposta
"completamente disparatada", opondo-se frontalmente ao
"proibicionismo" fundamentalista do PSD. Nas intermináveis
reuniões do CDS-PP os conselheiros são hidratados a águas Vitalis ou
Pedras Salgadas. A cerveja Superbock nunca é ingerida nestes importantes
conclaves. Pode provocar incomodativa eructação e fazer tremer a coligação.
Ninguém duvida de
que houve muita pressão do CDS-PP para que a lei fosse publicada de
acordo com a sua sede. Uma compreensível e legítima pressão. Então a
Superbock não é uma bebida de pressão?
Quem não apreciou a
medida, perdão, a bebida, foi o professor Fernando Ramalho, da Faculdade de
Medicina de Lisboa, e especialista em doenças do fígado. Considerou este
diploma o "mais ridículo" que já viu.
Lamentou que os
interesses das "empresas que vendem álcool se sobreponham ao interesse da
saúde dos portugueses". E não tem dúvidas de que o álcool é todo igual,
"seja vinho, cerveja ou outra coisa".
Não concordo. Sem
ter consultado Gaspar, o grande especialista em números deste governo e
que não falha uma só previsão, tenho a certeza de que dez ou quinze
imperiais têm muito menos álcool do que um só "shot".
E é por temer algum "shot"
transviado, destilado em Grândola vila morena, que o ministro janta como
quem lancha no hotel, para chegar mais cedo a uma conferência e abandonar
o estabelecimento pela garagem. Inadvertidamente.
Nas garagens há
níveis elevados de gases, nomeadamente monóxido de carbono. Pires de Lima, mais
saudável, cuida-se com elevados níveis de dióxido de carbono, com caricas da
nova geração dos milhões de taras perdidas que vende. Mas não se pense que
o gestor conserva alguma tara perdida. Sabe mais que a Justiça. E muito mais
que a Saúde.
O professor Ramalho
não tem razões para se inquietar. O governo com esta inflexão etílica anda a
tratar bem da saúde dos portugueses. E a estimular o desenvolvimento
científico.
Muitas cirroses
entre a população mais jovem podem contribuir para aprofundar a investigação da
doença hepática, permitindo aperfeiçoar a técnica dos transplantes.
E um jovem
servindo como cobaia num projecto médico sempre é mais interessante do que
ser convidado a andar pela estranja ao Deus-dará. Aqui pelo menos sempre pode
ficar em casa ou num hospital universitário, anestesiado e a apanhar cócegas de
um bisturi.
Quarenta por cento
de jovens desempregados. É gente que tem disponibilidade para abusar da bebida. Mas
ainda bem que lhe falta o subsídio ou o pilim para o vício. O governo sabe
muito. A lúpulo e a malte. E a malte que se amanhe...
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