domingo, 24 de fevereiro de 2013

Portugal: GANGUIÕES ALCOÓLICOS DO GOVERNO




José Alberto Quaresma – Expresso, opinião

Os jovens com 16 anos podem continuar a comprar cerveja e vinho. Não podem emborcar bebidas espirituosas ou equiparadas, as chamadas bebidas brancas que espevitam as noites brancas.

O governo anunciara a proibição da venda de todas as bebidas alcoólicas a menores de 18 anos. Já no princípio deste mês, o secretário de estado da Saúde, o garantia sem distinguir diferenças entre líquidos.

Só que algum pirolito espirituoso de António Pires de Lima, em convívio promovido pela Associação Portuguesa dos Produtores de Cerveja (APPC) de que é presidente, pôs o governo aos lóres, recuando na intenção.

A APPC foi a única entidade que apreciou a bebida, perdão, a medida. Considerou-a "adequada". O secretário-geral da APPC, Francisco Gírio - e acreditem que o homem com umas bejecas a bordo ficava mesmo Gírio - achou que o consumo entre os jovens de tenra idade deve "iniciar-se com bebidas de menor grau alcoólico". Se iniciar-se com bebidas não alcoólicas pode constituir um verdadeiro problema de saúde pública. Digo eu.

Pires de Lima, também presidente do Conselho Nacional do CDS-PP, considerara a proposta "completamente disparatada", opondo-se frontalmente ao "proibicionismo" fundamentalista do PSD. Nas intermináveis reuniões do CDS-PP os conselheiros são hidratados a águas Vitalis ou Pedras Salgadas. A cerveja Superbock nunca é ingerida nestes importantes conclaves. Pode provocar incomodativa eructação e fazer tremer a coligação.

Ninguém duvida de que houve muita pressão do CDS-PP para que a lei fosse publicada de acordo com a sua sede. Uma compreensível e legítima pressão. Então a Superbock não é uma bebida de pressão?

Quem não apreciou a medida, perdão, a bebida, foi o professor Fernando Ramalho, da Faculdade de Medicina de Lisboa, e especialista em doenças do fígado. Considerou este diploma o "mais ridículo" que já viu.

Lamentou que os interesses das "empresas que vendem álcool se sobreponham ao interesse da saúde dos portugueses". E não tem dúvidas de que o álcool é todo igual, "seja vinho, cerveja ou outra coisa".

Não concordo. Sem ter consultado Gaspar, o grande especialista em números deste governo e que não falha uma só previsão, tenho a certeza de que dez ou quinze imperiais têm muito menos álcool do que um só "shot".

E é por temer algum "shot" transviado, destilado em Grândola vila morena, que o ministro janta como quem lancha no hotel, para chegar mais cedo a uma conferência e abandonar o estabelecimento pela garagem. Inadvertidamente.

Nas garagens há níveis elevados de gases, nomeadamente monóxido de carbono. Pires de Lima, mais saudável, cuida-se com elevados níveis de dióxido de carbono, com caricas da nova geração dos milhões de taras perdidas que vende. Mas não se pense que o gestor conserva alguma tara perdida. Sabe mais que a Justiça. E muito mais que a Saúde.

O professor Ramalho não tem razões para se inquietar. O governo com esta inflexão etílica anda a tratar bem da saúde dos portugueses. E a estimular o desenvolvimento científico.

Muitas cirroses entre a população mais jovem podem contribuir para aprofundar a investigação da doença hepática, permitindo aperfeiçoar a técnica dos transplantes.

E um jovem servindo como cobaia num projecto médico sempre é mais interessante do que ser convidado a andar pela estranja ao Deus-dará. Aqui pelo menos sempre pode ficar em casa ou num hospital universitário, anestesiado e a apanhar cócegas de um bisturi.

Quarenta por cento de jovens desempregados. É gente que tem disponibilidade para abusar da bebida. Mas ainda bem que lhe falta o subsídio ou o pilim para o vício. O governo sabe muito. A lúpulo e a malte. E a malte que se amanhe...

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