sábado, 9 de fevereiro de 2013

Portugal: A SOCIAL-DEMOCRACIA A MORIBUNDAR-SE




Ana Sá Lopes – Jornal i, opinião

O PS votou ontem com alegria a favor da ilegalização do keynesianismo

Em duas semanas, António Costa optou pelo suicídio político assistido, em vez do combate contra a adversidade – de que muitos, dentro e fora do PS, o consideravam capaz. Mas a falência de António Costa enquanto alternativa socialista (com todas as cenas patéticas que a rodearam, os pretensos ultimatos e os apoiantes de peso que afinal quem apoiavam mesmo era o secretário-geral, como foi o caso flagrante de Francisco Assis) é um episódio menor de um fenómeno assustador que atravessa a Europa. A social-democracia já não está apenas em crise: está moribunda, quase morta, quase enterrada. Foi a vítima política da crise do euro.

O dia de ontem foi um mimo deste paradoxo: enquanto os socialistas discutiam nos corredores da Assembleia da República as amenidades da comissão nacional de amanhã ou a entrevista que António Costa haveria de dar à noite, no plenário votavam disciplinadamente o famoso “défice zero”. O “défice zero” foi o compromisso histórico que os partidos socialistas e social-democratas da Europa assumiram com a senhora Merkel e amigos para tentar “salvar o euro”. Esse compromisso, como já foi amplamente escrito, ilegaliza na Europa o keynesianismo, por proibir políticas públicas expansionistas. E se ilegaliza políticas públicas expansionistas, obviamente ilegaliza o socialismo e a social-democracia. Não deixa de ser interessante que os deputados de esquerda do PS tenham votado com alegria a favor dessa ilegalização. Carlos Zorrinho, o líder parlamentar, congratulou-se, sabe Deus porquê: “O PS diz sim à permanência de Portugal na zona euro, à necessidade de rigor orçamental e à urgência do crescimento económico. Em coerência, votaremos a favor desta lei que transporta para o direito interno o tratado que aqui aprovamos.” No PS registaram-se apenas três abstenções. A saber, recusaram ilegalizar o keynesianismo os deputados socialistas Isabel Moreira, Pedro Delgado Alves e Rui Pedro Duarte.

É evidente que o ministro Vítor Gaspar mostrou com gáudio o seu triunfo. A política do custe o que custar tinha acabado de ser sufragada pelo PS, ainda que, em discursos, o PS pareça agora mais distante do governo: “A sétima alteração à Lei de Enquadramento Orçamental constitui uma verdadeira transformação nas finanças públicas portuguesas.” Não deixa de ser sintomático dos loucos tempos que atravessamos que um dos grandes opositores do défice zero tenha sido Cavaco Silva, um homem de direita. Mas isto já está tudo baralhado.

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