segunda-feira, 18 de março de 2013

Angola: DESMENTIR O INDESMENTÍVEL




Filomeno Manaças – Jornal de Angola, opinião

“Para bom entendedor, meia palavra basta” – lá diz o velho ditado. Vem isto a talhe de foice na sequência de um desmentido feito no sábado à Rádio Ecclésia pelo porta-voz da UNITA, Alcides Sakala, a propósito de uma notícia dada à estampa no Jornal de Angola, na última página da sua edição de sábado, com o título “Samakuva acusa Igrejas de estarem corrompidas”.

De facto, toda e qualquer declaração não deve ser retirada do seu contexto, para que melhor seja percebido o alcance da mensagem, para que as pessoas entendam o que o emissor quis transmitir. É importante assim proceder para termos a real noção da autenticidade da intervenção. No caso concreto, a gravação das palavras de Isaías Samakuva no encerramento, na sexta-feira, em Menongue, das jornadas parlamentares do seu partido, dá-nos a transcrição fiel da eloquência que o líder da UNITA quis imprimir ao seu discurso.

Vejamos o que, entre outras coisas, disse Samakuva:

- “Ouvir bispos, pastores e outros, que deveriam ser um exemplo de moral pública, vir a público condenar a UNITA pelo facto de a UNITA cumprir a lei e denunciar crimes nos termos da lei, ao invés de se inteirarem dos factos, é um sinal claro, triste, da degradação de valores da nossa sociedade”;

- “A própria hierarquia da Igreja Católica, por exemplo, já reconheceu publicamente que a Igreja também está infectada pelo vírus da corrupção”.

Passemos, agora, à análise.

Samakuva considera que:

1 - O facto de “bispos, pastores e outros” não apoiarem a atitude da UNITA de apresentar uma queixa-crime contra o Presidente da República “é um sinal claro, triste, da degradação de valores da nossa sociedade”.

2 – E é no mesmo ambiente onde profere essas declarações, de encerramento das jornadas parlamentares do seu partido, que acrescenta que “a própria hierarquia da Igreja Católica (…) já reconheceu publicamente que a Igreja também está infectada pela corrupção”.

Conclusão: É evidente que Samakuva associa a falta de apoio dos bispos e pastores à posição tomada pela UNITA, à degradação de valores da nossa sociedade e à corrupção na Igreja. Por que razão, no contexto de jornadas parlamentares, Samakuva se queixa da falta de apoio dos bispos e pastores e logo de seguida conclui que isso representa degradação de valores? Por que razão ainda, no mesmo contexto, afirma que “a própria Igreja” já reconheceu haver corrupção no seu seio? Foram, porventura, esses os temas principais das jornadas?

Só não vê quem não quer ver e, pelas evidências, Alcides Sakala prefere não ver. E porque era preciso corrigir a falha do chefe foi à Ecclésia dizer que este jornal “está envolvido numa campanha sustentada que já se arrasta há algum tempo para cá” e que “pensa que há tentativa em desviar a atenção da opinião pública nacional e internacional relativamente ao processo-crime que a UNITA tomou como decisão junto dos tribunais angolanos”. Alcides Sakala diz que tem o texto. Nós afirmamos que temos a gravação. 

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