MARIA LOPES - Público
Ex-espião fora o
primeiro, entre os envolvidos no processo das secretas, a pedir reintegração e
era o único que continuava de fora. PCM diz estar a analisar despacho e
necessidades dos serviços.
O ex-director do
SIED Jorge Silva Carvalho foi integrado nos quadros da Presidência do Conselho
de Ministros, com efeitos a 1 de Dezembro de 2010, estipula um despacho
assinado pelo primeiro-ministro e pelo ministro das Finanças, publicado nesta
terça-feira em Diário da República.
Silva
Carvalho, acusado de abuso de poder, violação de segredo de Estado e de
acesso indevido a dados pessoais no caso das secretas, era o único ex-espião
envolvido neste processo que ainda não tinha sido integrado, como
permite a lei, nos quadros da Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de
Ministros (PCM).
Tinha feito o pedido logo que pediu a exoneração de director dos Serviços de
Informações Estratégicas de Defesa (SIED), a 1 de Dezembro de 2010, alegando
discordâncias sobre os cortes de verbas aos serviços - sendo contratado pelo
grupo Ongoing, liderado por Nuno Vasconcellos, apenas um mês depois. Mas até
agora o gabinete de Pedro Passos Coelho, a quem compete dar a autorização,
ainda não se pronunciara.
De acordo com a lei
que rege os serviços de informação, os funcionários que tenham pelo menos seis
anos de serviço ininterruptos adquirem automaticamente vínculo definitivo ao
Estado – situação em que se encontrava Silva Carvalho –, passando a integrar a
Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros. Daí que agora tenha
sido criado um posto de trabalho no mapa de pessoal daquele organismo para que
o ex-espião seja integrado “na carreira e categoria de técnico superior”, com
salário correspondente à remuneração-base da carreira e categoria que tinha
quando liderava o SIED, com efeitos a 1 de Dezembro de 2010.
Contactada pelo PÚBLICO, fonte da PCM disse que a Secretaria-Geral está a
analisar o despacho para tomar decisões. "Nos próximos dias a secretaria vai
fazer uma apreciação sobre as funções que Silva Carvalho poderá desempenhar e
onde, tendo em conta as necessidades dos próprios serviços da Presidência do
Conselho de Ministros", afirmou fonte oficial. E também será esclarecido
qual o valor de remunerações em atraso a que o ex-director do SIED tem direito
uma vez que depois da exoneração, a 1 de Dezembro, só entrou oficialmente na
Ongoing em Janeiro de 2011, de onde saiu no final de Janeiro de 2012. Desde
então para cá não lhe são conhecidos empregadores. "Não está nada decidido
ainda e o caso pode demorar alguns dias", diz a PCM.
Há três semanas, o
advogado do ex-espião anunciou mesmo que ia apresentar uma acção no Tribunal
Administrativo de Lisboa contra o Estado, precisamente porque Silva Carvalho
ainda não fora reintegrado nos serviços. Na altura, o advogado queixava-se
também do atraso do processo e pedira ao Conselho Superior da Magistratura a
sua aceleração. A fase de instrução do processo das secretas, requerida por
Nuno Vasconcellos a 1 de Junho do ano passado, deveria ter começado, segundo o
prazo legal, até ao fim de Setembro, mas só vai iniciar-se a 3 de Abril.
O Ministério
Público anunciou a acusação do processo das secretas no início de Maio do ano
passado. Além das acusações imputadas a Silva Carvalho, também o então director
do departamento operacional do SIED, João Luís, foi acusado, em co-autoria com
o ex-director do SIED, de acesso ilegítimo agravado a dados pessoais e abuso de
poder. Sobre Nuno Vasconcellos pende a acusação de corrupção activa.
Em Agosto de 2010, Jorge Silva Carvalho pedira ao director operacional do SIED,
João Luís, que lhe arranjasse dados dos telefonemas e SMS do telemóvel do
jornalista do PÚBLICO Nuno Simas para perceber quem, nos serviços, estaria a
passar informações para fora. De acordo com o processo, ainda enquanto director
do SIED, Silva Carvalho passou informações classificadas para a Ongoing e, já
depois de deixar os serviços e estando a trabalhar como administrador do grupo,
continuou a pedir dados aos operacionais que lhe eram próximos.
Depois de a polémica das secretas vir a público, em Agosto de 2011, João Luís
foi exonerado pelo novo director do SIED, Casimiro Morgado, a 5 de Novembro.
Mas acabou por ser reintegrado nos quadros da Secretaria-Geral da Presidência
do Conselho de Ministros no final de Julho de 2012. Já os dois operacionais que
na mesma altura foram demitidos dos serviços de informações por passarem
informações a Silva Carvalho, mas que o Ministério Público acabou por não
constituir arguidos, pediram para ser readmitidos em Janeiro do ano passado e
Passos Coelho deu o seu aval em Junho.
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