Eduardo Oliveira
Silva – Jornal i, opinião
Se ainda quiser
inverter as coisas, Passos vai ter de encarar esses dois caminhos, após
conhecer decisões do TC
Na sequência do
clamoroso fracasso das contas apresentadas por Vítor Gaspar, regressou o
panorama de crise política que começou, como habitualmente, com a constatação
de que a primeira coisa que o primeiro--ministro deveria fazer era remodelar o
executivo, nomeadamente o ministro das Finanças.
Face à
descredibilização absoluta de Gaspar, alguns comentadores adiantaram logo esse
cenário, ao qual Passos Coelho deverá resistir, a menos que seja o próprio
ministro a querer desistir, o que, olhando para o seu ar de cansaço e
saturação, não surpreenderia.
Se Passos Coelho
estiver ele próprio tentado a desistir (o que não está no seu ADN político),
deverá ainda assim esperar pelas decisões do lentíssimo Tribunal Constitucional
para decidir o que fazer.
Se o balanço das
decisões do tribunal não for devastador, tem margem para continuar. Se for
muito negativo e pretender mesmo assim ficar, Passos precisará de renovar a sua
legitimidade política, só tendo como saída para manter um nível de
credibilidade indiscutível, do ponto de vista formal, a apresentação de uma
moção de confiança na Assembleia da República, confrontando assim todas as
oposições parlamentares e até mesmo o seu parceiro de coligação.
É claro que a moção
de confiança não elimina rigorosamente nenhum dos problemas que o país
enfrenta, mas antecipa e esvazia uma moção de censura que o PS deve apresentar
muito proximamente e que teria um efeito desgastante sobre o governo, que está
de rastos em termos de credibilidade por via da absoluta ausência de resultados
em muitas áreas, em consequência de erros próprios mais do que por resultado da
conjuntura externa, como agora se pretende fazer crer.
Abordado o quadro
da política pura, olhemos agora para as soluções económicas e financeiras para
Portugal. Como já aqui neste espaço se referiu várias vezes, muito do que foi
feito por Vítor Gaspar só pode ter uma explicação racional: preparar um perdão
parcial de dívida que seja aceitável pelos credores antes que Portugal entre em
ruptura, o que, nesta altura, pode ser uma hipótese muito mais próxima do que
se pensa.
Kenneth Rogoff, um
professor de Harvard, encarava essa hipótese numa entrevista ao “Expresso”,
neste fim-de-semana, e lembrava que é errado julgar-se que, com política de
austeridade, o crescimento vai aparecer em breve.
O que mais
impressiona é que há uma espécie de resistência passiva do governo em sequer
encarar como uma evidência a realidade económica, financeira e, sobretudo,
social do país, ignorando claramente os riscos de explosão de toda a espécie
que estão a acumular-se e que tornam tumultuosa a simples saída à rua dos
governantes e até do Presidente da República.
Se quiser tentar recuperar ainda algumas coisas a seu favor, Passos Coelho vai
ter de usar instrumentos políticos e mudar a abordagem económica.
Os grandes momentos
dos países dão-se por actos políticos de grande dimensão e coragem, e não por
meras acções tecnocráticas que, obviamente, falham por não terem em conta a
realidade social e sociológica.
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