sexta-feira, 29 de março de 2013

Portugal: O MEU PAI E O GOVERNO




João Pedro Martins – Jornal i, opinião

A grande diferença entre o meu pai e este governo é que o meu pai soube construir uma família e este governo conseguiu destruir a maioria das famílias portuguesas

Tenho a felicidade de ter um pai que não é um barão do narcotráfico nem um padrinho da máfia siciliana. E graças a Deus não é um dos governantes do nosso país.

O meu pai teve um percurso profissional que começou de baixo para cima, sempre subindo cada degrau com o suor do seu trabalho e o reconhecimento do seu mérito. Nunca apanhou um elevador para ultrapassar um colega, nem pisou os incompetentes para se erguer no pedestal.

O meu pai sempre pagou os seus impostos e ajudou muitos a pagarem os deles, abrindo-lhes a porta para o mercado de trabalho.

O meu pai aprendeu alemão com dificuldade, mas sem nenhuma equivalência curricular, nem nenhuma sociedade secreta para o ajudar a copiar em vez de estudar e a praticar uma fraude em detrimento da honra e da verdade.

O meu pai jamais pensaria em colocar dinheiro numa conta offshore sabendo que isso seria melhor para ele, mas pior para os outros.

O meu pai votou sempre, mas nem sempre votou no mesmo partido porque sabe que um eleitor não é refém de uma ideologia, por mais generosa que esta seja, e que as mesmas propostas políticas têm de ser avaliadas no contexto de cada eleição.

O meu pai é aposentado e desde o dia em que se reformou nunca mais teve outra fonte de rendimento porque na sua cabeça um pensionista é alguém que deixou de trabalhar para descansar profissionalmente, permitindo que a sociedade dê oportunidades aos mais jovens na produção de riqueza.

O meu pai continua activo e tudo o que faz é trabalho voluntário e gratuito porque tem uma pensão que é um direito merecido e prometido por todos os seus anos de trabalho e de descontos solidários.

O meu pai sempre planeou viver os últimos dias suportado pelas suas poupanças e pela sua pensão, mas não é isso que os nossos governantes pensam. A tralha que lidera o país rasgou os compromissos que o Estado assumiu com os contribuintes ao longo de uma vida e diz-lhes que agora têm de voltar a contribuir para que o sistema funcione.

O meu pai aprendeu a gerir o salário e a poupar dinheiro sem passar por um curso de Gestão numa universidade. Por que razão tem de ser ele o sacrificado para solidariamente pagar por décadas de má gestão de dinheiros públicos, pelas dívidas fiscais que prescreveram, por aqueles que nunca se mostraram solidários e pela incompetência de quem está no governo?

O meu pai nunca disse em público que tem uma reforma baixa, mas ganha menos do que o Presidente da República e não acumula várias pensões.

O meu pai doou litros de sangue aos hospitais públicos porque sabe que uma vida vale mais do que mil palavras e nunca se queixou, como alguns políticos que nunca arregaçaram as mangas para um seringa e afirmam que ser deputado é uma chatice e um cargo mal remunerado.

O meu pai trabalhou horas infindáveis a troco de amizade com reclusos em prisões, doentes em hospitais, iletrados em salas de aula e eleitores em mesas de voto, sem que nada disso fosse contabilizado nos cortes cegos feitos por este governo a todos os reformados.

O meu pai era incapaz de dormir descansado se lhe fizessem uma serenata no emprego com uma canção de Zeca Afonso para criticar o seu desempenho profissional.

O meu pai sempre foi o homem que um dia eu gostaria de ser, como qualquer filho vê o melhor exemplo num pai honrado.

A grande diferença entre o meu pai e este governo é que o meu pai soube construir uma família e este governo conseguiu destruir a maioria das famílias portuguesas.

Escreve à sexta-feira

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