terça-feira, 12 de março de 2013

Portugal: A POBREZA PODE ACORDAR OS DEMÓNIOS




Fernando Santos – Jornal de Notícias, opinião

Portugal é uma das peças de um dominó europeu cada vez mais desconjuntado. A postura ao tipo "orgulhosamente sós" não faz nenhum sentido e, por isso, não obstante a economia e as finanças nacionais estarem de pantanas e redundarem em mais e mais empobrecimento e flagelo social dos portugueses, manda o bom senso proceder a uma análise interdependente.

Bem acentuada nos números ontem divulgados pelo INE e de acordo com os quais o PIB retrocedeu 3,6%, qualquer coisa como 5 mil milhões de euros, valor superior aos cortes estruturais a marinar, a desgraça portuguesa é preocupante - mas não é única. Sob o jugo de uns eurocratas bem mandados pela capataz alemã, toda a Europa do Sul regride e ao reforço do contingente de mais pobres e mais desempregados só a teimosia e a ignorância não são capazes de perceber: como uma metástase, a crise e a convulsão social tende a espalhar-se e a afetar a (ir)racionalidade dos chamados países ricos.

Tão correto como considerar que pior do que um cego é aquele que não quer ver é também admitir mudanças seguindo o prisma segundo o qual só os burros não mudam de ideias....

Os perigos de implosão da atual Europa avolumam-se - e não se ficam, sequer, pelas sucessivas derrotas dos tecnocratas impostos à Democracia e dos quais o afamado Mario Monti é o mais recente espécimen.

Por se tratar de um especialista em flic-flac, será imprudente valorizar demasiado a carta enviada pelo presidente da Comissão Europeia aos líderes europeus em vésperas de mais uma cimeira. Registe-se, porém, a sua tese de solicitação de mais "reformas estruturais", pedindo atenção às "consequências sociais" da atual crise. Os níveis recordes de desemprego em vários países levam Durão Barroso a enfatizar, entre outras políticas, a necessidade de reforço de decisões que levem à competitividade da economia para que se combata sobretudo a falta de trabalho para os jovens (23,6% na UE, 38,6% em Portugal).

Assim como assim, dispondo os jovens de mais sangue na guelra, terá sido por medo deles que Jean-Claude Junker, em entrevista à revista alemã "Der Spiegel, deixou um alerta para uma eventual guerra no velho continente? Para o ex-líder do Eurogrupo "quem acredita que a eterna questão da guerra e paz na Europa não pode voltar a ocorrer está completamente errado. Os demónios não desapareceram, estão apenas adormecidos".

É avisada a posição de Juncker. Se os líderes europeus persistirem em tratar as pessoas como meros números os tais demónios podem acordar. Será uma chatice. Mas Juncker, uma nódoa de influência nos eurocratas, bem pode juntar-se a outras personalidades, como Cavaco Silva, e clamar por entre uns tiritos: "Eu bem avisei". Já ninguém os ouvirá mas, enfim...

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