Tiago Mota Saraiva –
Jornal i, opinião
E se, no passado
sábado, depois de ter sido lida a moção de censura popular aos governos da
troika, tivesse havido um apelo para que o povo tomasse o Palácio de Belém? Se
tenho para mim que uma parte das pessoas teria regressado a casa, acho que a
esmagadora maioria seguiria para Belém. Mais, seria possível que muitos, pelo
país fora, decidissem acorrer a Lisboa nos dias subsequentes. Muito
provavelmente os dias subsequentes seriam de enorme tensão, a que não faltariam
actos de pessoas desesperadas, de quem nada tem a perder.
Mas se o apelo não
aconteceu, também me parece que no plano das manifestações pacíficas pouco mais
há a fazer. Os rios que Pacheco Pereira caracterizou já se juntaram e as suas
margens estão largas como nunca.
O facto de, nem o
governo nem o Presidente da República, retirarem as consequências políticas da
onda de manifestações que varreu o país no dia 2 de Março, transforma Portugal
num barril de pólvora. Cavaco Silva não pode tomar-nos por parvos ao dizer que
as manifestações devem ser escutadas quando o que se exige é uma matéria da sua
exclusiva competência: a demissão deste governo. Para o evitar, a única
resposta política que o governo podia ter dado era convocar uma manifestação em
defesa da sua política, na tentativa de mostrar algum apoio popular, de que
todos os governos em regimes democráticos dependem. Não o tendo feito, à beira
de anunciar novos e violentos cortes e com um Presidente da República a
insistir em tomar-nos por parvos, temo o pior.
Escreve ao sábado
Sem comentários:
Enviar um comentário