Novamente atingido,
país pode amedrontar-se e restringir liberdades que marcaram sua história. É o
que planeja quem praticou atentados
Bruce
Schneifer, no The Atlantic –
Outras Palavras - Tradução: Antonio Martins
À medida em que os
detalhes sobre as bombas de Boston aparecem, é fácil ficar apavorado. Seria
fácil sentir-se impotente e reivindicar de nossos líderes eleitos algo –
qualquer coisa – capaz de nos fazer sentir seguros.
Seria fácil, porém
errado. Devemos sentir raiva – e empatia com as vítimas – sem, contudo, nos
aterrorizar. Nosso medo é o que os terroristas mais desejam. Ele iria ampliar
sua vitória, quaisquer que sejam seus objetivos, quem quer que sejam eles. Não
precisamos nos sentir impotentes, nem amedrontados. Temos todo o poder, e há
uma atitude a adotar, para tornar o terror ineficaz: a recusa a ficar
aterrorizado.
É difícil, porque o
terrorismo é concebido exatamente para amedrontar as pessoas – muito além das
proporções do perigo real. Uma vasta pesquisa sobre o medo e o cérebro ensina
que tendemos a exagerar as ameaças que são incomuns, espetaculares, imediatas,
aleatórias – neste caso, envolvendo até crianças – sem sentido, horríveis e
escandalosas. O terrorismo pressiona todos os botões do medo, com força, e
tendemos a exagerar a reação.
Nossas mentes não
devem nos enlouquecer, Ainda que as notícias perdurem por semanas, é preciso
reconhecer as coisas como são: foi um evento raro. Esta é a definição precisa
de notícia: algo incomum – neste caso, algo que quase nunca acontece.
Basta lembrar o pós
11 de Setembro, quando muitos previram que ataques semelhantes ocorreriam com
frequência. Nunca se repetiram, e não foi porque as autoridades aeroportuárias
passaram a confiscar facas, nos aeroportos. O FBI desarticulou, de fato, redes
terroristas e cortou seu financiamento, mas as ameaças também eram exageradas.
A TV e o cinema sugerem que é fácil explodir qualquer coisa. Na verdade,
promover atos terroristas é muito mais difícil do que a maioria das pessoas
crê. Novamente atingido, país pode amedrontar-se e restringir liberdades que
marcaram sua história. É o que planeja quem praticou atentados É difícil de
encontrar gente disposta a praticá-los; organizar um plano entre elas;
encontrar os materiais necessários; fazer tudo funcionar. Como grupos
coletivos, os terroristas são estúpidos, e cometem erros bizarros. Os grandes
cérebros do terror são outro mito dos filmes e dos livros e das histórias em
quadrinhos.
Os terroristas do
11 de Setembro tiveram sorte.
Se é difícil para
nós ter isso em mente, será ainda mais árduo para nossos líderes. Eles temerão
que, se forem honestos sobre a impossibilidade de garantir segurança absoluta,
sobre a inevitabilidade do terrorismo, ou sobre a importância de defender alguns
dos ideais norte-americanos mesmo diante de adversidades, serão rotulados como
“dóceis diante do terror”. E temerão o voto contrário dos norte-americanos.
Talvez estejam certos, mas onde estarão os líderes destemidos? Onde foi parar a
ideia segundo a qual “a única coisa a temer é o próprio medo”.
O terrorismo, mesmo
o dos grupos islâmicos radicais, dos extremistas de direita e de agentes
solitários, não é uma “ameaça existencial” contra nossa nação. Mesmo os eventos
de 11/9, embora muito horrendos, não produziram dano existencial à nação
norte-americana. Nossa sociedade é mais robusta do que parece, pela leitura dos
jornais. Precisamos começar a agir levando isso em conta.
Há atitudes que
podem nos tornar mais seguros, a maior parte dos quais relacionada a investigação,
inteligência e respostas emergenciais. Mas nunca seremos 100% seguros, diante
do terrorismo. É algo que precisamos aceitar.
O sucesso deste
ataque depende muito menos do que ocorreu em Boston de que das nossas reações
nas próximas semanas e meses. O terrorismo não é, principalmente, um crime
contra pessoas ou propriedades. É um crime contra nossas mentes, que se serve
das mortes de inocentes e da destruição de propriedade como cúmplices. Quando
reagimos orientados pelo medo, mudamos nossas leis e políticas para tornar
nosso país menos aberto. Nesse caso, os terroristas vencem, mesmo que seus
ataques fracassem. Mas quando nos recusamos a ser aterrorizados, quando não
recuamos diante da face do terror, os terroristas fracassam, ainda que seus ataques
tenha êxito.
Não vamos
glorificar os terroristas e suas ações, considerando-as parte de uma “guerra
contra o terror”. Guerras envolvem duas partes legítimas. Neste caso, há apenas
uma parte legítima; na outra, estão criminosos. Eles devem ser encontrados,
presos e punidos. Mas precisamos ser vigilantes para não enfraquecer as
liberdades que tornam os Estados Unidos grandes, simplesmente porque estamos
amedrontados.
Realçar o que
ocorreu, mas não se aterrorizar. Ser destemido – e apoiar os líderes que também
são. É a forma de derrotar os terroristas.
*Bruce Schneider é
escritor e especialista em
segurança. Mantém um blog, que pode ser lido aqui
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