quarta-feira, 10 de abril de 2013

Portugal: GASPAR, O TERRÍVEL, SÓ ATUA CÁ DENTRO




Eduardo Oliveira Silva – Jornal i, opinião

Era em Dublin, no Eurogrupo, ou em Bruxelas e Berlim que devia bater o pé, e não cá, perante uma população esmagada

Afinal havia mesmo um plano B. Quando reagiu à decisão do Tribunal Constitucional, Passos Coelho disse-o claramente e a execução já começou de forma radical, com Vítor Gaspar a assumir-se como o dono do Estado, de quem depende qualquer autorização de despesa, excepto salários, à boa maneira de um célebre ministro do final dos anos 20 do século passado. E isto só por causa de mil milhões, quando se sabe que não está fora de questão a hipótese de a contribuição extraordinária, que incide apenas nos reformados, ainda ser questionada na justiça, seja no Tribunal Constitucional através de acções individuais, seja em tribunais comuns, seja ainda na justiça comunitária.

Além do corte total imposto pelo ministro das Finanças, surgiram notícias de que o IRS dos funcionários públicos ia subir, o mesmo acontecendo ao dos reformados, anunciam-se cortes na educação, na Segurança Social, na administração autárquica e só por algum receio é que a defesa não foi citada expressamente.

Da Europa chegou uma primeira carta de conforto que explicava que, tal como a Irlanda, poderíamos ter mais sete anos para pagar a dívida, mas muito cuidadinho, porque só se nos portarmos bem e apresentarmos os cortes já na reunião de Dublin, ou seja, a mata-cavalos, como está a ser feito.

A soma destes factos torna clara a existência de alternativas já concebidas, o que não seria de estranhar, porque os erros grosseiros das estimativas do governo levariam sempre a um plano B.

Não valia portanto a pena usar o tom ameaçador que o primeiro-ministro adoptou perante uma população empobrecida, fragilizada, esmagada e insegura.

Mesmo admitindo a legitimidade da fúria momentânea, o que se estranha é a nossa fraqueza perante o exterior.

Em vez de dar raspanetes ao Tribunal Constitucional, deveríamos ter deslocado para a União Europeia uma equipa capaz de explicar as razões dos vetos e de bater o pé para que a canga que nos foi posta em cima seja aliviada, até porque somos sérios a pagar.

O governo achou sempre que Gaspar chegava e sobrava para explicar tudo porque tinha prestígio. Hoje o ministro está desgastado dentro e fora e não temos uma equipa a trabalhar no terreno e a fazer lóbi permanente, como fazem diariamente os irlandeses, comandados pelo seu ministro dos Estrangeiros, que quase não faz mais nada.

Por cá é bem diferente. Tratamos a troika nas palminhas, como se fossem os seus membros os verdadeiros decisores, em vez de falarmos com quem manda.

Talvez não seja possível chegar ao ponto dos gregos, que foram desenterrar uma conta de guerra que a Alemanha lhes deve no valor de 162 mil milhões de euros (sem danos morais), mas não há necessidade de sermos tão subservientes.

Bater o pé na cimeira de Dublin, em Bruxelas e em Berlim é que era, em vez de sermos fortes com os fracos e fracos com os fortes.

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