Eduardo Oliveira
Silva – Jornal i, opinião
Era em Dublin, no
Eurogrupo, ou em Bruxelas e Berlim que devia bater o pé, e não cá, perante uma
população esmagada
Afinal havia mesmo
um plano B. Quando reagiu à decisão do Tribunal Constitucional, Passos Coelho
disse-o claramente e a execução já começou de forma radical, com Vítor Gaspar a
assumir-se como o dono do Estado, de quem depende qualquer autorização de
despesa, excepto salários, à boa maneira de um célebre ministro do final dos
anos 20 do século passado. E isto só por causa de mil milhões, quando se sabe
que não está fora de questão a hipótese de a contribuição extraordinária, que
incide apenas nos reformados, ainda ser questionada na justiça, seja no
Tribunal Constitucional através de acções individuais, seja em tribunais
comuns, seja ainda na justiça comunitária.
Além do corte total
imposto pelo ministro das Finanças, surgiram notícias de que o IRS dos
funcionários públicos ia subir, o mesmo acontecendo ao dos reformados,
anunciam-se cortes na educação, na Segurança Social, na administração
autárquica e só por algum receio é que a defesa não foi citada expressamente.
Da Europa chegou
uma primeira carta de conforto que explicava que, tal como a Irlanda,
poderíamos ter mais sete anos para pagar a dívida, mas muito cuidadinho, porque
só se nos portarmos bem e apresentarmos os cortes já na reunião de Dublin, ou
seja, a mata-cavalos, como está a ser feito.
A soma destes
factos torna clara a existência de alternativas já concebidas, o que não seria
de estranhar, porque os erros grosseiros das estimativas do governo levariam
sempre a um plano B.
Não valia portanto
a pena usar o tom ameaçador que o primeiro-ministro adoptou perante uma
população empobrecida, fragilizada, esmagada e insegura.
Mesmo admitindo a
legitimidade da fúria momentânea, o que se estranha é a nossa fraqueza perante
o exterior.
Em vez de dar
raspanetes ao Tribunal Constitucional, deveríamos ter deslocado para a União
Europeia uma equipa capaz de explicar as razões dos vetos e de bater o pé para
que a canga que nos foi posta em cima seja aliviada, até porque somos sérios a
pagar.
O governo achou
sempre que Gaspar chegava e sobrava para explicar tudo porque tinha prestígio.
Hoje o ministro está desgastado dentro e fora e não temos uma equipa a
trabalhar no terreno e a fazer lóbi permanente, como fazem diariamente os irlandeses,
comandados pelo seu ministro dos Estrangeiros, que quase não faz mais nada.
Por cá é bem
diferente. Tratamos a troika nas palminhas, como se fossem os seus membros os
verdadeiros decisores, em vez de falarmos com quem manda.
Talvez não seja
possível chegar ao ponto dos gregos, que foram desenterrar uma conta de guerra
que a Alemanha lhes deve no valor de 162 mil milhões de euros (sem danos
morais), mas não há necessidade de sermos tão subservientes.
Bater o pé na
cimeira de Dublin, em Bruxelas e em Berlim é que era, em vez de sermos fortes
com os fracos e fracos com os fortes.
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