sábado, 6 de abril de 2013

Portugal: Grades à entrada dos prédios contra sem-abrigo na Almirante Reis, em Lisboa




SYP – JLG - Lusa

Moradores e comerciantes da Avenida Almirante Reis têm vindo a colocar gradeamentos nas arcadas dos prédios nos últimos meses para impedir a permanência dos sem-abrigo na zona, uma medida feita, por vezes, sem o licenciamento da Câmara de Lisboa.

“A tensão é antiga, mas esta reação dos residentes acaba por ser recente. Houve um ou dois que instalaram e percebeu-se que era eficaz. A questão tem sido replicada por vários prédios e advinha-se que mais o venham a fazer no futuro”, admitiu à agência Lusa o presidente da Junta de Freguesia dos Anjos, João Grave.

É na proximidade da igreja e do refeitório dos Anjos, onde diariamente se concentram dezenas de pessoas sem-abrigo, que também foi colocada a maioria destes gradeamentos. João Grave admite que possam ser cerca de dez os prédios que o têm vindo a fazer, desde há dois anos.

Foi depois de ser assaltada, com recurso a uma faca, que Eugénia Leitão, proprietária de uma loja de mobiliário na Almirante Reis decidiu colocar um gradeamento, castanho e com pequenas aberturas, para impedir que se abrigassem na arcada.

O assalto – e a grade – coincidem com a mudança do gabinete do presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, para o Intendente, que assinala dois anos no domingo.

“O presidente da câmara só se preocupou em limpar o sítio dele. Empurrou tudo cá para cima. E aí nós aqui tivemos que tapar para nos proteger um bocadinho”, afirmou a comerciante de 61 anos.

Já Karim Badrudin e os moradores que habitam paredes-meias com a loja de eletrodomésticos que dirige colocaram o gradeamento há apenas três meses. Hoje, os sem-abrigo ficam de fora. Na arcada há vasos com plantas e colchões à venda.

“Há muitos sem-abrigo por isso é que decidimos todos em conjunto no prédio mandar pôr as grades para não interferir e prejudicar o funcionamento do estabelecimento como a passagem das pessoas no acesso ao prédio”, conta o comerciante.

Karim Badrudin, que gere o negócio que os pais montaram na avenida há 30 anos, admite que o gradeamento “ajuda, mas que mesmo assim a avenida está cheia de sem-abrigo”, que “do Intendente passaram para a Almirante Reis” e afetaram o negócio.

“É muito mau para o comércio e para as pessoas que andam na rua. As pessoas estão sempre com medo de serem assaltadas. A Câmara não faz nada”, afirmou.

Joaquim Gonçalves, 80 anos, recentemente mudado para a Almirante Reis, defende que as grades “resolvem o problema perfeitamente e com pouco dinheiro”.

Este reformado ainda não conseguiu convencer os vizinhos, mas admite que o prédio onde reside venha a ser brevemente mais um dos que têm grades à porta.

Por sua vez, Bruno Reis, que é proprietário de um prédio na Almirante Reis, opõe-se à instalação de grades, que lhe tem sido pedida por inquilinos.

“Os gradeamentos não são a solução. Podem ser solução pontual e pode assegurar a circulação das pessoas inquilinas do prédio, mas no fundo só arrastam um problema para a galeria mais próxima. Acho que temos de encontrar, junto das entidades competentes outro tipo de solução”, disse.

Uma opinião semelhante tem o presidente da Junta dos Anjos: “A questão não se resolve impondo obstáculos, porque se não estiverem aqui estarão do outro lado da avenida, ou numa porta mais acima que ainda não tenha grades. Nós estamos a empurrar o problema e não a tentar solucioná-lo”.

Para João Grave, faltam apoios para “estimular a motivação para que estas [pessoas] procurem um outro estilo de vida”, no sentido de um projeto que a Junta está a desenvolver.

À agência Lusa, o vice-presidente da Câmara de Lisboa, Manuel Salgado, admitiu que “alguns destes gradeamentos têm licenciamento, outros não” e disse que está a ser feito um levantamento destas situações na avenida para regularizar a situação.

Por seu turno, António Costa, presidente da Câmara de Lisboa, sublinhou a existência de programas de apoio aos sem-abrigo promovidos pela autarquia.

QUEM NADA TEM COM MENOS FICA – opinião PG

Os sem-abrigo em Lisboa estão a surgir em número crescente, como cogumelos. Nem sequer existe um cadastro fiável de quantos são. Mas são imensos. É puro ficcionismo de António Costa, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, dizer que “existem programas de apoio” distanciado da realidade, porque não existem programas de apoio para todos. Os sem-abrigo são em número cada vez maior em Portugal e em Lisboa o número disparou de modo incontrolável. Se não está certo que assaltem lojas ou quem passa, também não esteve certo que os assaltassem e isso foi o que o atual governo de Portugal fez, o que tem feito e há-de continuar a fazer aos portugueses já de si carenciados. 

Os despejos de famílias de suas casas somam-se disfarçadamente. A própria Câmara Municipal de Lisboa é protagonista nisso. António Costa fala do que não sabe que se passa com a Gebalis (empresa pública que gere as casas de rendas sociais) mas a vereadora da habitação social, Helena Roseta, sabe certamente o que se passa. Há mais de três mil famílias carenciadas que solicitaram casa à CML e a solução não existe. 

Acresce a atitude dos moradores lisboetas que olham e tratam os sem-abrigo como tratariam leprosos ou o diabo e lhes acirra a revolta. Oxalá que um dia também eles não venham a precisar de umas arcadas, de um canto nas ruas de Lisboa onde se abrigarem porque depois então compreenderão que o fecho desses recantos públicos é mais um roubo a quem nada tem e com menos fica para se proteger da chuva e do frio. Esta não é uma exclusão qualquer mas sim pura desumanidade. Uma ténue medida fascista decidida consciente ou inconscientemente. Aumentam os sem-abrigo, aumentou em mais de 27% os suicídios... A elite dirigente fala e consola os que não sabem nada acerca dos números da miséria ou nem querem saber porque o que está a valer nesta sociedade é o "salve-se quem puder". A CML preocupa-se com o levantamento e as licenças que autorizam a desumanidade de fechar abrigos aos sem-abrigo. Tecnocratas, fascistas.

Sem comentários:

Mais lidas da semana