Emir Sader – Carta Maior,
em Blog do Emir
A maior disputa de
centralidade da agenda hoje no Brasil é aquela que se dá entre a prioridade da
retomada do crescimento ou o suposto “descontrole inflacionário”. Ela reflete
as distintas visões que a esquerda e a direita têm do país.
Para a direita – como sempre – a preocupação central é a inflação, razão pela
qual aponta para os gastos do governo, a diminuição da taxa de juros, as
políticas sociais, os aumentos de salários. Diz preocupar-se com os salários –
que nos seus governos foram dilapidados –, mas se preocupa com os ganhos do
capital financeiro e com as contas públicas. Por um lado, ataca o suposto
descontrole inflacionário, por outro busca capitalizar eventuais
descontentamentos produzidos pelo aumento da taxa de juros.
As pressões conseguiram que o Banco Central voltasse a aumentar a taxa de juros
– mesmo sendo um aumento mais simbólico do que real –, mas suficiente para
demonstrar que o BC havia assumido a pressão sobre ele. A própria Dilma tem
reiterado nos seus pronunciamentos que a preocupação com a inflação é central
no governo, o que, enquadrado como ela tem feito no marco das políticas
econômico-sociais do governo, é correto. Mas não deixa de colaborar com a
campanha opositora para colocar a inflação como tema central da agenda política.
O problema central do país não é esse, hoje. É a dificuldade que o governo
enfrenta para conseguir retomar o crescimento econômico. O governo tomou e
segue tomando iniciativas nessa direção, sem que se constate efeitos concretos.
Baixa taxa de juros à metade do que ela era há algum tempo, diminui
sistematicamente impostos para grande quantidade de setores, controla o câmbio,
faz investimentos – mas não consegue fazer com que os setores privados invistam.
Não dispõem de recursos? Ou os canalizam para a especulação e até para os
paraísos fiscais – como revelações recentes evidenciaram? Onde está o dinheiro?
O grande empresariado privado alega “incerteza”, que são produzidas por eles
mesmos, ao privilegiar mais os investimentos especulativos do que os produtivos.
Que aumentam os preços e alegam riscos inflacionários.
Para que a economia volte a crescer, é o Estado que tem que assumir o papel
determinante. Além dos investimentos públicos diretos – ao invés das
desonerações, que não tem tido retorno do capital privado –, o governo tem que
condicionar fortemente a circulação do capital financeiro – elevando
substancialmente sua taxação –, e condicionar toda concessão feita aos setores
privados. A desoneração da cesta básica não chegou plenamente aos consumidores.
As desonerações não têm tido contrapartidas do setor privado – seja na
contenção de preços, seja na elevação dos investimentos.
Nenhuma empresa estrangeira se dispõe a sair do Brasil, considerada uma
economia segura e com grande potencial e expansão. É o grande empresariado
privado, com a boca torta do cachimbo da especulação, quem sabota o
desenvolvimento econômico do país.
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