Proibido em países
da Europa, polêmico método é condenado por oferecer riscos ao meio ambiente.
Agência Nacional do Petróleo garante monitorar o tema, mas ONGs alertam para
perigo de contaminação da água e do solo.
Uma polêmica
técnica de extração de gás natural, proibida em alguns países da Europa, será
testada pela primeira vez no Brasil. O fraturamento hidráulico (fracking, em
inglês) é questionado pela falta de estudos sobre possíveis danos ambientais.
A extração de gás
natural por meio de fraturamento hidráulico é considerada uma alternativa
diante do esgotamento das reservas naturais mais acessíveis. Para extrair o
gás, é preciso "explodir" as rochas. O processo começa com uma
perfuração até a camada rochosa de xisto. Após atingir uma profundidade de mais
de 1,5 mil metros, uma bomba injeta água com areia e produtos químicos em alta
pressão, o que amplia as fissuras na rocha. Este procedimento liberta o gás
aprisionado, que flui para a superfície e pode então ser recolhido.
Uma referênca sobre
o tema é um estudo feito pela Duke University, na Pensilvânia, em que os
cientistas chamaram a atenção para o aumento da concentração de metano na água
potável em locais próximos aos poços usados para o fraturamento hidráulico.
Potencial promissor
De acordo com a
Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), com o fraturamento
hidráulico o Brasil poderia chegam à 10ª posição no ranking de maiores reservas
mundiais de gás de xisto, também conhecido como gás não convencional. A Agência
Nacional do Petróleo (ANP) pretende realizar em outubro um leilão sobre a
exploração desse gás. As bacias cotadas para entrar nesta rodada são a do
Parecis (MT), do Parnaíba (entre Maranhão e Piauí), do Recôncavo (BA), além das
bacias do rio Paraná (entre Paraná e Mato Grosso do Sul) e do Rio São Francisco
(entre Minas Gerais e Bahia).
Mas embora seja
promissora economicamente, a técnica controversa é criticada por
ambientalistas. "Há uma clara vontade política para que isso aconteça [a exploração
por meio de fraturamento hidráulico], especialmente após as recentes avaliações
muito otimistas sobre o potencial de gás de xisto em terra no Brasil",
disse à DW Brasil Antoine Simon, da divisão europeia da organização
internacional Amigos da Terra. A entidade assinou, junto com o Greenpeace e
outras organizações de proteção ao meio ambiente, uma carta pública em que
expõe os motivos para o posicionamento contrário ao procedimento.
Para as entidades,
parece não haver qualquer debate sobre as questões ambientais, sociais e de
saúde sobre os impactos gerados por essa atividade. A própria ANP reconhece a
falta de estudos sobre os impactos ambientais da prática. "O tema
fraturamento hidráulico tem causado alvoroço na imprensa mundial, pois seus riscos
não foram esclarecidos plenamente", admitiu a assessoria de imprensa da
entidade. Na avaliação da ANP, o método possibilita aumentar a produção de gás
natural, mas ainda apresenta altos custos e complexidade nas operações.
Risco de
contaminação
Entre os principais
impactos ambientais alertados pelos especialistas estão a contaminação da água
e do solo, riscos de explosão com a liberação de gás metano, consumo excessivo
de água para provocar o fracionamento da rocha, além do uso de substâncias
químicas para favorecer a exploração. Ainda há a preocupação de que a técnica
possa estimular movimentos tectônicos que levem a terremotos.
Para o coordenador
do programa Mudanças Climáticas e Energia da organização ambientalista
WWF-Brasil, Carlos Rittl, os aspectos sociais e ambientais são totalmente
ignorados: "o único argumento por trás da exploração é o econômico",
observa. "Essa tecnologia não se provou segura em nenhum lugar do
mundo."
Outro ponto
questionado pelo especialista é o fato de o Brasil investir na exploração de
combustíveis fósseis, em vez de apostar em fontes renováveis. Ele lembra que
pelo menos 2/3 das reservas mundiais conhecidas precisam permanecer no subsolo
para evitar o aquecimento global.
"O Brasil é
muito abundante em fontes de energia de baixo impacto. O governo investe muito
menos em energia eólica e solar, em aproveitamento da própria biomassa da
cana-de-açúcar e de resíduos de madeira, por exemplo", considera.
Proibido na França
e na Bulgária
O fraturamento
hidráulico é motivo de controvérsia em todo o mundo. De acordo com a
organização Amigos da Terra, o método é permitido na Polônia e no Reino Unido,
mas proibido na França e na Bulgária. Outros países europeus declararam
moratória à técnica de extração, com o objetivo de fazer uma análise mais
aprofundada sobre os impactos ambientais. É o caso da Irlanda, República
Tcheca, Romênia, Alemanha e Espanha.
O Greenpeace se
posicionou oficialmente contra o método. A instituição diz ter sérias
preocupações com os impactos diretos e indiretos sobre a saúde individual e
pública. Segundo a entidade, muitos desses impactos não são só locais, mas
podem ser sentidos em nível regional e mesmo global.
Produção de gás de
xisto
De acordo com a
ANP, há registros de operações de fraturamento hidráulico convencional desde
1950 no Brasil. A agência afirma que, desde então, mais de 6 mil operações
foram realizadas utilizando baixas pressões e vazões, sem registros de
incidentes graves. Não há experiência no Brasil de realização de fraturamento
com volumes de fluido e potência hidráulica nos níveis utilizados nos Estados
Unidos, onde se concentra a produção.
De acordo com a
IEA, a experiência norte-americana mostra que o gás não convencional pode ser
explorado economicamente. A produção de gás de xisto nos Estados Unidos
aumentou de forma acentuada a partir de 2005. Cinco anos depois, o gás de xisto
já representava mais de 20% da produção de gás do país.
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