Na história da
captura em Moscou do agente da CIA Ryan Fogle o que mais intriga não é o
equipamento arcaico do espião norte-americano, mas o montante do contrato por
traição.
Ryan Fogle prometeu
à pessoa que pretendia recrutar 100 mil dólares adiantados pela vontade de
colaborar, mais um pagamento anual de um milhão de dólares. A potencial
“toupeira” era um oficial do FSB com um excelente histórico de operações
antiterroristas no Cáucaso do Norte.
O conjunto
antiquado de objetos de espionagem que Fogle tinha consigo (um mapa em papel,
uma peruca, uma bússola) e o alto montante da remuneração prevista causaram uma
reação mista na mídia. Muitos dos meios de comunicação mundiais viram
inicialmente no caso um escândalo de espionagem artificialmente inflado.
A experiência
mostra que não se deve exagerar nem minimizar a eficácia dos métodos de
obtenção de informações utilizados pelas agências de inteligência, diz o
cientista político Vladimir Slatinov, perito do Instituto de Estudos
Humanitários e Políticos. Ele lembrou uma história bastante recente, quando o
canal de televisão Rossiya, uns anos atrás, transmitiu uma reportagem sobre as
“pedras de espionagem”, colocadas num jardim e recheadas com dispositivos
eletrônicos. Grande parte do público também encarou o caso de forma irônica.
Mas depois, foram obtidas provas claras de que “pedras de espionagem”
existiram, e de que eram realmente utilizadas pela inteligência britânica para
transmitir e receber informações.
Na recente história
de Ryan Fogle, as piadas e comparações com uma simples comédia de espionagem
terminaram quando o FSB revelou que a situação atual repetiu, quase que
seguindo o mesmo padrão, outra história que teve lugar apenas quatro meses
atrás. No início do ano, a contraespionagem russa apanhou o agente da CIA
Benjamin Dillon, que também trabalhava sob a cobertura de terceiro secretário
da embaixada dos EUA e que também tentou recrutar um oficial do FSB. Ou seja,
os agentes da CIA em Moscou tiveram a imensa “sorte” de “dar um tiro no pé”
duas vezes em poucos meses.
Quanto ao montante
do adiantamento e do “subsídio” anual que Fogle propôs ao oficial russo, os
números são realmente bastante altos, notou Vladimir Slatinov em entrevista à
Voz da Rússia:
"Isso pode ser
explicado, por um lado, pelo fato de os serviços (dos agentes) estarem
realmente ficando mais caros, e o dólar dos EUA se estar desvalorizando. Por
outro lado, isso pode ser explicado pelo fato de as agências de inteligência
dos Estados Unidos não pouparem dinheiro para obter informação muito importante
para elas."
O fabuloso
pagamento prometido pelo agente da CIA ao oficial do FSB não é razão para
piadas, diz o diretor do Centro de Análise Geopolítica Valeri Korovin,
especialmente quando se trata de estabilidade no Cáucaso do Norte e da obtenção
de informações da parte de pessoas que trabalham no principal serviço secreto
da Federação Russa:
"Os americanos
não poupam meios, não poupam dinheiro, e tenho certeza de que o processo de
recrutamento de membros de nossos serviços especiais envolve todos os
funcionários da embaixada começando por McFaul e terminando no terceiro
secretário, que é a figura menor na hierarquia diplomática da embaixada
americana em Moscou."
Os serviços de
inteligência das grandes potências nunca tiveram tarifas rígidas para os
serviços dos agentes recrutados. Provavelmente, agora também não existem, disse
à Voz da Rússia um coronel aposentado, um ex-oficial de inteligência da KGB da
União Soviética, e atualmente famoso escritor, Mikhail Lyubimov. Muitos agentes
estrangeiros trabalhavam para a inteligência soviética por convicção
ideológica. Mas, mesmo aos agentes pagos, o KGB nunca pagou verbas tão
exorbitantes. Tudo dependia da situação particular.
No entanto, de
acordo com Mikhail Lyubimov, as agências de inteligência ocidentais tão pouco
demonstravam grande generosidade aos traidores da URSS. Continua desconhecido
por que montante a inteligência britânica “comprou” o famoso desertor da KGB
Oleg Gordievsky. Mas a pensão anual de 40.000 libras
esterlinas que lhe foi atribuída pelo governo britânico chegou a ser discutida
quase no parlamento. Na altura, e, mais ainda, nos tempos de hoje, esta não é
uma soma muito significativa.
O agente mais bem
pago do serviço de inteligência da Rússia (SVR, na sigla russa) é um ex-agente
sênior da CIA, o “super-espião” Aldrich Ames que foi descoberto nos Estados
Unidos em 1994. Durante nove anos de trabalho para a SVR, as contas bancárias
de Ames acumularam um milhão e meio de dólares, de acordo com relatos da mídia
norte-americana.
Mas, em geral, um
dos espiões mais “económicos” ainda é considerado o cidadão do Líbano, um
ex-membro do conselho da cidade de Baalbek, Ali Taufiq Yari. Preso pelos
serviços secretos libaneses por trabalhar para a Mossad, este espião teria
recebido de Israel um total de 600 mil dólares.
Talvez, na Rússia
os traidores estejam a esgotar-se e, por isso oferecem-lhes o dobro do preço...
Foto: Colagem: Voz
da Rússia
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