Pedro Rainho –
Jornal i
O pai do
primeiro-ministro confessa que a família não gostou que ele fosse para o
governo
“O governo perde as
eleições porque estes desígnios da austeridade são tramados.” A previsão é de
Passos Coelho, o pai, que diz ao i, a partir de Vale de Nogueiras, Vila
Real, que “toda a gente acha que isto está mau”, mas que “temos de viver em
austeridade, não há volta a dar”. O médico reformado lembra, porém, que nunca
quis ver o filho nos meandros da política: “Nunca gostámos que ele fosse para
onde foi, porque a ideia cá em casa, na família, é que isto não tem conserto.
Há muitos anos, não é de agora.”
A pouco mais de uma
semana de completar 87 anos, António Passos Coelho é reservado nos comentários
sobre a acção do governo. “Não sou político, portanto não faço análise
política”, justifica. Ex-presidente da distrital do PSD de Vila Real, Passos
Coelho foi responsável pelo primeiro contacto do actual primeiro-ministro com a
política, quando, em 1978, o levou a um congresso do PSD em Lisboa. Hoje o
ex-dirigente do partido não esconde que o país “está mal”. “A classe média é
que está a pagar isto, não é a classe cá de baixo. Mas também tem de se ir
buscar onde há”, explica o também ex-presidente da Assembleia Municipal de Vila
Real.
Há pouco mais de
dois anos – em plena campanha eleitoral – Passos Coelho deixava um recado ao
filho: “Vais-te lixar”, anteviu o médico, guardando para si uma segunda
previsão. “Toda esta gente que está aqui vai vaiar-te. Agora estão aqui todos
contigo, mas daqui a um ano vão vaiar-te. Não disse isto porque parecia mal na
altura”, recorda agora o pai do primeiro-ministro.
António Passos
Coelho tem ouvido com atenção as críticas de que Passos tem sido alvo, sobretudo
pelas dificuldades impostas aos portugueses, consequência das medidas de
austeridade. “Julgam que o meu filho não sabe? Coitado, sabe Deus o que ele
passa. Está morto por se ver livre disto. A gente vai fazer uma festa, cá na
família, quando ele se vir livre disto. Vamos fazer uma festa, nem queira
saber”, garante.
Mas não para já. Há
ainda batalhas a travar, inclusive as que se têm multiplicado no seio da
coligação. E mesmo perante um primeiro-ministro assoberbado com episódios de
oposição interna no seu governo, António Passos Coelho diz que Paulo Portas “é
um moço inteligente, um moço sobredotado”, que se tem debatido com problemas no
CDS. “Sabe, às vezes estes presidentes do partido não fazem aquilo que querem,
fazem aquilo que são obrigados a fazer”, sugere o médico.
Seguro também se
tem esforçado por ultrapassar “um problema chato”, considera. É que “agradar a
Deus e ao Diabo é difícil”, e o líder do PS “está a contar muito com a Europa e
esquece-se da figura que fez o presidente francês, Hollande. Também ia com
muita coragem, mas é evidente que as coisas saíram furadas”, relembra.
Autárquicas Conhecendo
a vida local do PSD, o pai de Passos Coelho acredita que os dois anos de
governo vão ter uma consequência pesada para o PSD nas eleições deste ano. O
médico e especialista em pneumologia diz que “não penalizam tanto como a
oposição gostaria, porque nas autárquicas joga-se um bocado na pessoa”, mas
que, ainda assim, o partido “não consegue fugir a ser penalizado pela acção do
governo”.
Algo que não assusta
o primeiro-ministro. Depois de Passos Coelho filho ter garantido que qualquer
que seja o resultado das eleições locais não abandona o governo, António
Passos Coelho confidencia que o primeiro-ministro partilhou consigo a mesma
ideia.
“É evidente que posso
fazer isso, mas vai ser uma tragédia para o país. Tudo o que conseguimos cai de
um dia para o outro, todo o critério internacional cai de um dia para o outro,
vamos ter outro resgate, vamos ter uma austeridade pior que esta. Isto está na
minha mão. Como é que eu posso fazer isso?”, disse o primeiro-ministro ao pai.
Na foto: António Passos Coelho, pai de Pedro Passos Coelho. José Sena Goullão/Lusa
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