Liliana Valente –
Jornal i
Centristas ficaram
irritados com declaração no final do Conselho de Ministros. Porta-voz do CDS
diz que “há um compromisso” para que a taxa sobre as pensões não avance. Vítor
Gaspar confirma, mas não dá certeza que desapareça
Ontem, por lapso, o
ministro da Presidência Marques Guedes chamou a Paulo Portas o “líder do
principal partido da oposição”. E é isso que o líder do CDS se prepara para ser
nos próximos tempos. Os centristas não gostaram da manobra de fonte do governo
que fez sair para a comunicação social, depois do turbulento Conselho de
Ministros de domingo, a informação de que o CDS tinha aceitado a taxa sobre as
pensões. Houve quem defendesse que era hora de o CDS abandonar o governo e
outros de, já que não sai, começar a olhar para dentro. O CDS continua a dizer
que a não implementação da polémica taxa é ponto de honra, não só dos
centristas, mas de todo o governo que se “comprometeu” com isso, disse ontem
João Almeida.
Pires de Lima falou de uma “espécie de vingança do CDS” pensando na discussão
dos últimos dias. E é nestes termos que se move neste momento a relação entre
os dois partidos da coligação. Paulo Portas até pode ter deixado que a polémica
taxa sobre as pensões continue no papel como “facultativa” ou como “excepcional”,
mas a crise no governo já não é disfarçável. Até quando aguenta o CDS engolir o
sapo de dar o dito por não dito? No CDS há dirigentes que defenderam uma
radicalização do discurso junto ao próprio líder do partido e quem já fale com
convicção na saída do executivo.
A polémica frase, que foi transmitida por fonte do governo no domingo, que
garantia que o CDS tinha aceitado “que excepcionalmente pudesse vir a ser
considerada a introdução” da TSU sobre os pensionistas, foi a manobra que
obrigou a que o partido mais pequeno da coligação levasse o dia de ontem a
explicar-se e a corrigir a informação. O evidenciar da “cedência” de Paulo
Portas por fonte do governo, depois de ter sido combinado um comunicado simples
a dizer apenas que tinham sido confirmadas as decisões para que fosse possível
encerrar a sétima avaliação da troika em Conselho de Ministros, irritou os
centristas.
O primeiro a reagir foi João Almeida que negou de imediato a informação. Ontem,
para salvar a cara do líder do partido e do CDS, vários foram os dirigentes a
ir a terreno falar. Pires de Lima disse à agência Lusa que “está-se a
transformar uma vitória do governo português e em concreto do Dr. Paulo Portas
numa espécie de vingança do CDS”. “Mas é importante desmistificar aquilo que se
passou ao longo da última semana”, disse, para depois reafirmar que foi “uma
cedência da troika” e não do CDS.
À tarde foi a vez de João Almeida, que voltou a falar para dizer que há “um
compromisso” de todo o governo em que a TSU dos pensionistas não avance.
Os centristas até contaram com o apoio do primeiro-ministro para pôr água na
fervura e mais tarde do próprio ministro das Finanças. Passos Coelho repetiu
ontem a frase, que já disse várias vezes, mesmo no pico das maiores divisões do
governo, para garantir que “não há nenhuma divergência dentro do governo”.
Junto ao homólogo espanhol, o primeiro-ministro tentou corrigir o tiro dado ao
CDS no dia anterior e disse que as preocupações que foram manifestadas, quer
pelo CDS, quer pelo PSD, dentro da coligação, foram devidamente atendidas”. E
lembrou ainda: “Ambos [primeiro-ministro e Paulo Portas] dissemos que faríamos
essas reformas procurando minimizar o impacto sobre o rendimento dos
pensionistas, e é isso que está traduzido no acordo da sétima avaliação”.
Depois foi mesmo Vítor Gaspar, ao cair da noite, a confirmar a leitura de João
Almeida, quando garantiu que o governo está “colectivamente empenhado” em
evitar a aplicação da taxa.
Mas o mal estava feito e no CDS o desagrado foi evidente ao ponto de haver quem
fale na estratégia de sobrevivência e que se remeta ao silêncio sobre a crise
na coligação para não a alimentar mais. Já o ministro da Presidência, Marques
Guedes, preferiu lançar as culpas para a comunicação social, dizendo que esta
andou envolvida em “tricas” e em “especulação”.
Como fica?
Tudo parece resumir-se a uma questão de semântica. A medida
ficou na carta enviada à troika, que garante o corte na despesa de quatro mil
milhões de euros, mas é “facultativa”. Ou seja, depende do trabalho de reforma
do Estado que está a cargo de Paulo Portas e só será tomada em caso de
“absoluta necessidade”. Gaspar não garante que desapareça, mas diz que
dependendo da reforma do Estado a taxa pode “ter uma forma completamente
diferente ou possa inclusivamente ser substituída completamente por outra
medida que seja considerada menos gravosa”.
O PS veio ontem pedir uma clarificação do que ficou decidido em Conselho de
Ministros. Já João Semedo, do BE, diz que Portas “se rendeu ao PSD”.
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