Paulo Gaião –
Expresso, opinião
O governo já não nem tenta disfarçar a manobra de diversão e o embuste, o que é
a prova de que se sente impune, faça o que fizer.
Passos Coelho
apresentou sexta-feira as novas medidas de corte na despesa a inserir no
Orçamento rectificativo.
Uma delas, a
nova contribuição para os pensionistas, foi lançada só para ser rejeitada por
Paulo Portas e dar-lhe espaço político para se manter na coligação.
O governo não se
importou que parecesse gratuito e fantasioso estar a lançar mais uma
contribuição para os pensionistas em cima da contribuição especial de
solidariedade do Orçamento para 2013, viabilizada recentemente pelo
Tribunal Constitucional (podendo até comprometer esta numa nova avaliação
dos juízes do Palácio Ratton).
Ou que a nova
contribuição se tratasse, na verdade, de mais um imposto, quando Passos Coelho
recusou há um mês criar novos impostos e prometeu que ia cortar na despesa.
Bastou que a nova
medida fosse aquela em que Portas podia brilhar mais quando a recusasse,
reavivando o CDS como Partido dos reformados.
E ele brilhou, a
poucas semanas do Congresso do CDS em que volta a ser entronizado, levando
ao zénite a impostura.
Traçou uma linha
vermelha no chão contra o ataque aos pensionistas e reformados.
Não quer um segundo
pacote de resgate.
Não quer cá
"estes senhores da troika". Falou solenemente. Entrecortou
o discurso com "Portugueses".
Lembrou uma
mensagem salazarenta, de um homem que não adora apenas o golpe palaciano
mas a pose do mando.
Santana Lopes, que
o visitava no Forte de São Julião da Barra, quando Portas era ministro da
Defesa, tirou-lhe bem o retrato, lembrando que o via ao longe numa mesa sozinho
virado para o mar, escrevendo notas, e que lhe lembrava D. João II... talvez o
nosso rei mais astuto (não por acaso a figura histórica que Portas mais admira,
ao ponto de o ter defendido num programa de televisão).
Um dia que se faça
a história se decifrará o que este homem, Paulo Portas, foi capaz de fazer
de ilusório e destrutivo, desde os tempos com Manuel
Monteiro, só em nome do seu ego e da sua sobrevivência política.
No sábado, Passos
ainda lhe estendeu o tapete para o grande discurso das 19 horas de domingo. Que
Portas tinha participado nas novas medidas mas que ele, Passos, estava aberto a
alternativas....
O espectáculo que
começou às 20 horas de sexta-feira, foi já hoje desmontando. Passos diz ao
diário Económico que "precisamos de equacionar a aplicação de uma
contribuição sobre as pensões".
Não se pode demitir
o governo por 48 horas de embuste?
Um Presidente da
República que não fosse cúmplice desta impostura metia o governo na ordem em
três tempos.
Uma sociedade civil
mais exigente não se calaria após ser tratada com tamanho despudor como se
fosse mentecapta.
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