segunda-feira, 3 de junho de 2013

Brasil: MOEDA DE BASBAQUE

 

 
O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa (foto), causou alarido na República ao servir-se de uma tribuna acadêmica para cutucar os felídeos politiqueiros e seus “partidos de mentirinha”. Colarinhos brancos de grande envergadura e baixa estatura ética e moral trataram de vaiar as declarações do paracatuense, espargidas justamente durante o processo de aprovação da MP dos Portos — que recebeu a “(al)Cunha Garotinha” de “MP dos Porcos” — e em meio ao vendaval na base aliada da presidente Dilma Rousseff, neste caso evocada como tirana mandatária do Poder Legislativo.
 
Sob todos os prismas passíveis de análise política, há um profundo equívoco na extraordinária inconfidência de Joaquim Barbosa. Ao contrário do declarado, nunca antes na história deste país o Congresso Nacional experimentou tamanha fortaleza, ainda que medida em signos sombrios. A robustez é tanta que, mesmo na mais absoluta iniquidade produtiva e recheado de mentes retrógradas e sujidades de amplo currículo criminal, o Poder Legislativo goza de portentosa — e mascarada! — defesa da imprensa e dos formadores de opinião, consagrando-o pilar insofismável de nossa combalida e arremedada democracia tupiniquim.
 
Não por acaso, a assessoria de comunicação do STF imediatamente tratou de nivelar por baixo e jogar água gelada no óbvio imbróglio provocado pela assertiva de seu destemperado presidente, classificando o beliscão institucional como “mero exercício intelectual feito em meio acadêmico”. Na rabeira meteórica, para a opinião publicada, o que deveria ser uma grotesca desqualificação do raciocínio palestrante do chefe da Suprema Corte do Brasil, findou por tornar-se um afetuoso gesto de civilidade em tempos de crise evidente. Um troca-troca de moedas abstratas, mas com fins lucrativos. Medíocre assim.
 
Esse civilismo tergiverso turva a visão do espectador circense, que não consegue definir, no palco à frente, quem é o leão (ou a leoa), quem é o elefante (ou a elefanta) e quem é o palhaço (ou a palhaça). Enquanto o respeitável público aplaude o que não vê e não compreende, os partidos políticos — que não são “de mentirinha” e especialmente aqueles da base aliada — seguem forçando o Palácio do Planalto ao inglório exercício de agachamento ante os interesses escusos de líderes basbaques.
 
Insigne financiador de micagens desde o processo de oficiosa redemocratização, o Executivo é refém em larga escala das coligações político-partidárias para a governabilidade e não o contrário, como propôs Joaquim Barbosa. A presidente Dilma Rousseff e sua sofrível equipe de articulação política só conseguiram a aprovação da Medida Provisória, no limite do prazo de vigência, porque as legendas permitiram (ou venderam, já que o custo real disso ninguém jamais saberá!). A estimada modernização dos portos brasileiros — quem diria?! — passa a incorporar o legado de fidelidade do senador alagoano Renan Calheiros que, após o festival de gazetas e solavancos na Câmara, conseguiu trotar o rebanho e garantir a aprovação da “MP dos Porcos” em tempo recorde no Senado Federal.
 
Como os partidos políticos não são “de mentirinha”, reitero, a fatura pelo apoio legislativo fica cada vez mais cara. Em tese, sem o mesmo traquejo mensaleiro de Lula da Silva, a “presidenta” Dilma multiplica os truques de seus antecessores e divide o Poder Executivo como quem divide o pão numa ceia de gatunos esfomeados: são 39 ministérios, centenas de empresas estatais e dezenas de milhares de cargos fartamente comissionados distribuídos entre os “apoiadores” — mui amigos! — de seu (des)governo. O Poder Legislativo está mandando… e mandando muito, como nunca antes, ainda que a opinião publicada de “joaquins” tente colar ideia oposta. A propósito, oposição formal é o que não há no Brasil atual.
 
Neste momento, a moeda de basbaque é a Petrobras. Outrora grande patrimônio nacional e marca mais valiosa da América Latina, vítima da absurda desqualificação provocada pela mofa institucional capitaneada por PT e PMDB, a petrolífera brasileira viu o valor de sua marca despencar 45%, de US$ 10,5 bilhões em 2012 para US$ 5,7 bilhões em 2013. Além de perder o título latino-americano para duas cervejarias, no ranking das marcas mais valiosas do planeta assumiu trajetória descendente: 61º lugar em 2011, 75º lugar em 2012 e sequer figura na lista das 100 maiores em 2013.
 
Finalizadas as tratativas para aprovação da MP dos Portos, a tarefa da presidente Dilma Rousseff será conter outra sanha do PMDB, eterno lambiscador do poder central. Como a moeda da vez é a estatal do petróleo, o exercício de agachamento palaciano tentará asfixiar — novamente a qualquer custo — a instalação da CPI da Petrobras na Câmara dos Deputados. As assinaturas no requerimento para abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito têm a tinta de 63% da bancada-bunker peemedebista. E dá-lhe fornicação palaciana para pagar essa fatura e apagar o novo incêndio chantagista.
 
Diante de tudo isso, será que o ministro Joaquim Barbosa acha mesmo que os partidos políticos são “de mentirinha”? Ou o presidente do STF lançou apenas mais um factoide em tempos de império da boataria? Diz a máxima planaltina que o PMDB não é para amadores. Ouso ir além: o sistema partidário parlamentar brasileiro — e sua vastíssima capilaridade regional — não é para amadores. Só profissionais de colarinho robusto, ainda que de caráter duvidoso, são capazes de suportar a pecha de galinheiro pelintra quando, de fato, são verdadeiras raposas políticas a cuidar do galináceo executivo, espreitando o tilintar das moedas de basbaque. O resto é “mentirinha” midiática.
 
*Helder Caldeira é escritor, jornalista político, palestrante e conferencista, autor do livro “A 1ª PRESIDENTA” (Editora Faces, 2011, 240 páginas), primeira obra publicada no Brasil com a análise da trajetória da presidente Dilma Rousseff, e comentarista político da REDE RECORD de Mato Grosso, onde apresenta o quadro “iPOLÍTICA” e os telejornais “JORNAL MÉDIO NORTE” e “JORNAL PISOM” - www.heldercaldeira.com.brhelder@heldercaldeira.com.br
 

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