O
presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa (foto), causou
alarido na República ao servir-se de uma tribuna acadêmica para cutucar os
felídeos politiqueiros e seus “partidos de mentirinha”. Colarinhos brancos de
grande envergadura e baixa estatura ética e moral trataram de vaiar as
declarações do paracatuense, espargidas justamente durante o processo de
aprovação da MP dos Portos — que recebeu a “(al)Cunha Garotinha” de “MP dos
Porcos” — e em meio ao vendaval na base aliada da presidente Dilma Rousseff,
neste caso evocada como tirana mandatária do Poder Legislativo.
Sob todos os
prismas passíveis de análise política, há um profundo equívoco na
extraordinária inconfidência de Joaquim Barbosa. Ao contrário do declarado,
nunca antes na história deste país o Congresso Nacional experimentou tamanha
fortaleza, ainda que medida em signos sombrios. A robustez é tanta que, mesmo
na mais absoluta iniquidade produtiva e recheado de mentes retrógradas e
sujidades de amplo currículo criminal, o Poder Legislativo goza de portentosa —
e mascarada! — defesa da imprensa e dos formadores de opinião, consagrando-o
pilar insofismável de nossa combalida e arremedada democracia tupiniquim.
Não por acaso, a
assessoria de comunicação do STF imediatamente tratou de nivelar por baixo e
jogar água gelada no óbvio imbróglio provocado pela assertiva de seu
destemperado presidente, classificando o beliscão institucional como “mero
exercício intelectual feito em meio acadêmico”. Na rabeira meteórica, para a
opinião publicada, o que deveria ser uma grotesca desqualificação do raciocínio
palestrante do chefe da Suprema Corte do Brasil, findou por tornar-se um
afetuoso gesto de civilidade em tempos de crise evidente. Um troca-troca de
moedas abstratas, mas com fins lucrativos. Medíocre assim.
Esse civilismo
tergiverso turva a visão do espectador circense, que não consegue definir, no
palco à frente, quem é o leão (ou a leoa), quem é o elefante (ou a elefanta) e
quem é o palhaço (ou a palhaça). Enquanto o respeitável público aplaude o que
não vê e não compreende, os partidos políticos — que não são “de mentirinha” e
especialmente aqueles da base aliada — seguem forçando o Palácio do Planalto ao
inglório exercício de agachamento ante os interesses escusos de líderes
basbaques.
Insigne financiador
de micagens desde o processo de oficiosa redemocratização, o Executivo é refém
em larga escala das coligações político-partidárias para a governabilidade e
não o contrário, como propôs Joaquim Barbosa. A presidente Dilma Rousseff e sua
sofrível equipe de articulação política só conseguiram a aprovação da Medida
Provisória, no limite do prazo de vigência, porque as legendas permitiram (ou
venderam, já que o custo real disso ninguém jamais saberá!). A estimada
modernização dos portos brasileiros — quem diria?! — passa a incorporar o
legado de fidelidade do senador alagoano Renan Calheiros que, após o festival
de gazetas e solavancos na Câmara, conseguiu trotar o rebanho e garantir a
aprovação da “MP dos Porcos” em tempo recorde no Senado Federal.
Como os partidos
políticos não são “de mentirinha”, reitero, a fatura pelo apoio legislativo
fica cada vez mais cara. Em tese, sem o mesmo traquejo mensaleiro de Lula da
Silva, a “presidenta” Dilma multiplica os truques de seus antecessores e divide
o Poder Executivo como quem divide o pão numa ceia de gatunos esfomeados: são
39 ministérios, centenas de empresas estatais e dezenas de milhares de cargos
fartamente comissionados distribuídos entre os “apoiadores” — mui amigos! — de
seu (des)governo. O Poder Legislativo está mandando… e mandando muito, como
nunca antes, ainda que a opinião publicada de “joaquins” tente colar ideia
oposta. A propósito, oposição formal é o que não há no Brasil atual.
Neste momento, a
moeda de basbaque é a Petrobras. Outrora grande patrimônio nacional e marca
mais valiosa da América Latina, vítima da absurda desqualificação provocada
pela mofa institucional capitaneada por PT e PMDB, a petrolífera brasileira viu
o valor de sua marca despencar 45%, de US$ 10,5 bilhões em 2012 para US$ 5,7
bilhões em 2013. Além de perder o título latino-americano para duas cervejarias,
no ranking das marcas mais valiosas do planeta assumiu trajetória descendente:
61º lugar em 2011, 75º lugar em 2012 e sequer figura na lista das 100 maiores
em 2013.
Finalizadas as
tratativas para aprovação da MP dos Portos, a tarefa da presidente Dilma
Rousseff será conter outra sanha do PMDB, eterno lambiscador do poder central.
Como a moeda da vez é a estatal do petróleo, o exercício de agachamento
palaciano tentará asfixiar — novamente a qualquer custo — a instalação da CPI
da Petrobras na Câmara dos Deputados. As assinaturas no requerimento para
abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito têm a tinta de 63% da
bancada-bunker peemedebista. E dá-lhe fornicação palaciana para pagar essa
fatura e apagar o novo incêndio chantagista.
Diante de tudo
isso, será que o ministro Joaquim Barbosa acha mesmo que os partidos políticos
são “de mentirinha”? Ou o presidente do STF lançou apenas mais um factoide em
tempos de império da boataria? Diz a máxima planaltina que o PMDB não é para
amadores. Ouso ir além: o sistema partidário parlamentar brasileiro — e sua
vastíssima capilaridade regional — não é para amadores. Só profissionais de
colarinho robusto, ainda que de caráter duvidoso, são capazes de suportar a
pecha de galinheiro pelintra quando, de fato, são verdadeiras raposas políticas
a cuidar do galináceo executivo, espreitando o tilintar das moedas de basbaque.
O resto é “mentirinha” midiática.
*Helder Caldeira é
escritor, jornalista político, palestrante e conferencista, autor do livro “A
1ª PRESIDENTA” (Editora Faces, 2011, 240 páginas), primeira obra publicada no
Brasil com a análise da trajetória da presidente Dilma Rousseff, e comentarista
político da REDE RECORD de Mato Grosso, onde apresenta o quadro “iPOLÍTICA” e
os telejornais “JORNAL MÉDIO NORTE” e “JORNAL PISOM” - www.heldercaldeira.com.br –
helder@heldercaldeira.com.br
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