A Semana (cv)
Um continente,
quatro visões sobre os seus desafios. A Biblioteca Nacional, na Praia,
encheu-se completamente esta sexta-feira para ouvir António Mascarenhas
Monteiro, Pedro Pires (está na África do Sul, mas enviou uma mensagem por
escrito), Jorge Carlos Fonseca e José Ramos-Horta, quatro estadistas
comprometidos com o desenvolvimento do continente africano. Enquanto o actual
Chefe do Estado Cabo-verdiano diz que é preciso mudar o “círculo vicioso”,
António Mascarenhas Monteiro entende que a CEDEAO não passou de um “rótulo” e
Pedro Pires sugere a educação e formação como caminhos para se ultrapassar a
atitude conformista. Já Ramos-Horta considera que a resolução dos conflitos
deve passar pela vontade dos líderes locais, da sociedade e do país.
Na sala de
conferência da Biblioteca Nacional completamente cheia de membros do Governo,
deputados, corpo diplomático e organizações internacionais, empresários,
professores e investigadores, membros das confissões religiosas, a primeira
mensagem de Pedro Pires e lida pelo seu assessor Luís Lima. O ex-Presidente da
República está na África do Sul, mas enviou uma mensagem por escrito, onde além
de recordar o processo de libertação diz que os desafios são complexos. Para
neutralizar as ameaças e ultrapassar a atitude conformista em África, Pires
mostra os caminhos: aposta na educação e formação, mas também uma atitude
pro-activa, capaz de ser produtor e inovador. Afinal, “o conhecimento é motor de
desenvolvimento”, diz.
Já António
Mascarenhas Monteiro, Presidente da República de Cabo Verde na década de 90,
deu uma aula de história dos conflitos em África para falar do papel da CEDEAO
na sua resolução. Entende que os esforços da organização em prol da paz na
nossa sub-região têm sido bem sucedidos e evidentes, mas não deixa de tecer
algumas críticas às actuações da ECOMOG em países com a Libéria, Serra Leoa,
Costa do Marfim, onde a acção tem sido “bastante controversa”.
Por sua vez, o
Presidente da República Jorge Carlos Fonseca considerou que é preciso “mudar o
círculo vicioso” em África e que o desenvolvimento só será possível com a
democracia e com lideranças capazes, fortes, credíveis e legitimados. Nesta
conferência organizada pela Presidência da República no âmbito das comemorações
dos 50 anos da União Africana, o Chefe do Estado Cabo-verdiano disse ainda que
a disponibilização dos muitos recursos não deve ser para o interesse familiar,
mas sim para o interesse da colectividade.
Nesta perspectiva,
afirma que a União Africana deve ter um “papel primordial”, especialmente num
contexto em que as perspectivas económicas para África são promissoras. “A
Unidade Africana precisa de se assentar numa convergência de Estados regidos
por constituições que se fundem na afirmação da dignidade da pessoa humana e
promova de forma inequívoca o respeito pelas liberdades e garantias. Só Estados
com tais bases dão garantias de uma UA com futuro”, desafia Jorge Carlos
Fonseca.
Pouco mais de um mês
depois, José Ramos-Horta regressou ao nosso país, desta vez para falar sobre o
papel da ONU e os parceiros regionais nos desafios da paz e construção do
Estado Democrático em África. Depois de elogiar os progressos de Cabo Verde
após a independência, o ex-Presidente de Timor Leste afirmou que, não obstante
as leis internacionais, a solução para os conflitos deve passar pela vontade
dos líderes locais, da sociedade e do país. Ramos Horta deu ainda o exemplo de
reconciliação entre Timor Leste e Indonésia, dois países que depois de muitos
anos de conflito hoje vivem a melhor das relações.
RP
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