sábado, 1 de junho de 2013

Cabo Verde: OS DESAFIOS DE ÁFRICA TRAÇADOS POR QUATRO ESTADISTAS

 

A Semana (cv)
 
Um continente, quatro visões sobre os seus desafios. A Biblioteca Nacional, na Praia, encheu-se completamente esta sexta-feira para ouvir António Mascarenhas Monteiro, Pedro Pires (está na África do Sul, mas enviou uma mensagem por escrito), Jorge Carlos Fonseca e José Ramos-Horta, quatro estadistas comprometidos com o desenvolvimento do continente africano. Enquanto o actual Chefe do Estado Cabo-verdiano diz que é preciso mudar o “círculo vicioso”, António Mascarenhas Monteiro entende que a CEDEAO não passou de um “rótulo” e Pedro Pires sugere a educação e formação como caminhos para se ultrapassar a atitude conformista. Já Ramos-Horta considera que a resolução dos conflitos deve passar pela vontade dos líderes locais, da sociedade e do país.
 
Na sala de conferência da Biblioteca Nacional completamente cheia de membros do Governo, deputados, corpo diplomático e organizações internacionais, empresários, professores e investigadores, membros das confissões religiosas, a primeira mensagem de Pedro Pires e lida pelo seu assessor Luís Lima. O ex-Presidente da República está na África do Sul, mas enviou uma mensagem por escrito, onde além de recordar o processo de libertação diz que os desafios são complexos. Para neutralizar as ameaças e ultrapassar a atitude conformista em África, Pires mostra os caminhos: aposta na educação e formação, mas também uma atitude pro-activa, capaz de ser produtor e inovador. Afinal, “o conhecimento é motor de desenvolvimento”, diz.
 
Já António Mascarenhas Monteiro, Presidente da República de Cabo Verde na década de 90, deu uma aula de história dos conflitos em África para falar do papel da CEDEAO na sua resolução. Entende que os esforços da organização em prol da paz na nossa sub-região têm sido bem sucedidos e evidentes, mas não deixa de tecer algumas críticas às actuações da ECOMOG em países com a Libéria, Serra Leoa, Costa do Marfim, onde a acção tem sido “bastante controversa”.
 
Por sua vez, o Presidente da República Jorge Carlos Fonseca considerou que é preciso “mudar o círculo vicioso” em África e que o desenvolvimento só será possível com a democracia e com lideranças capazes, fortes, credíveis e legitimados. Nesta conferência organizada pela Presidência da República no âmbito das comemorações dos 50 anos da União Africana, o Chefe do Estado Cabo-verdiano disse ainda que a disponibilização dos muitos recursos não deve ser para o interesse familiar, mas sim para o interesse da colectividade.
 
Nesta perspectiva, afirma que a União Africana deve ter um “papel primordial”, especialmente num contexto em que as perspectivas económicas para África são promissoras. “A Unidade Africana precisa de se assentar numa convergência de Estados regidos por constituições que se fundem na afirmação da dignidade da pessoa humana e promova de forma inequívoca o respeito pelas liberdades e garantias. Só Estados com tais bases dão garantias de uma UA com futuro”, desafia Jorge Carlos Fonseca.
 
Pouco mais de um mês depois, José Ramos-Horta regressou ao nosso país, desta vez para falar sobre o papel da ONU e os parceiros regionais nos desafios da paz e construção do Estado Democrático em África. Depois de elogiar os progressos de Cabo Verde após a independência, o ex-Presidente de Timor Leste afirmou que, não obstante as leis internacionais, a solução para os conflitos deve passar pela vontade dos líderes locais, da sociedade e do país. Ramos Horta deu ainda o exemplo de reconciliação entre Timor Leste e Indonésia, dois países que depois de muitos anos de conflito hoje vivem a melhor das relações.
 
RP
 

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