Ana Sá Lopes –
Jornal i, opinião
Seguro podia, ao
menos, ter enviado uma mensagem igual à de Pacheco Pereira
Que razão política
ponderosa levou António José Seguro, o secretário-geral do PS, a fugir, como o
diabo da cruz, de uma reunião convocada pelo fundador do partido, Mário Soares,
sob o lema "Libertar Portugal de Austeridade"? Qual é a lógica se
António José Seguro assume como seu programa político precisamente isso -
"libertar Portugal da austeridade"?
Como é possível que
um ex-dirigente do PSD, Pacheco Pereira, tenha tido uma participação mais
influente (através de uma mensagem enviada e lida pelo fundador do PS) do que o
secretário-geral do maior partido da oposição? Nenhuma explicação é
politicamente boa para perceber porque é que António José Seguro decidiu
abdicar de um papel principal numa reunião organizada pelo fundador do seu
partido - deixando--o a Mário Soares e ao reitor da Universidade de Lisboa,
Sampaio da Nóvoa. A reunião era assumidamente histórica: nunca, representantes
dos três partidos de esquerda se tinham sentado à mesma mesa. Porque é que
Seguro e toda a sua direcção política falham o encontro?
Não existe uma
outra explicação lógica possível: Seguro não se quer misturar com os outros
partidos à sua esquerda - PS e PCP - e já escolheu o seu caminho: quando vencer
as eleições sem maioria absoluta vai aliar-se ao CDS que irá reciclar na
próxima ida às urnas a velha posição de "equidistância" entre PS e
PSD inventada por Freitas do Amaral. O CDS deverá voltar a ser aquele partido
que em 1974 se definia como "rigorosamente ao centro", o parceiro
perfeito para um PS rigorosamente afastado da sua esquerda.
Essa é a única
explicação plausível para que Seguro tenha voltado costas à Aula Magna - onde,
aliás, não seria obrigado a assinar nenhum acordo de coligação de esquerda, mas
apenas, enquanto líder do maior partido da oposição, participar num momento simbólico
de oposição ao governo. De que é que Seguro e a sua direcção política tiveram
medo? Das companhias de "esquerda"? Da sombra do imparável fundador?
Do conflito de interesses de quem prepara uma coligação com o CDS?
Não é por causa de
Seguro que até agora uma coligação de esquerda não aconteceu em Portugal. Os
muros parecem intransponíveis. Mas a ausência de Seguro indica que nunca será
ele que a tornará viável. Mas nem isso justifica que, ao menos, não tenha
enviado uma mensagem igual à de Pacheco Pereira - que ninguém imagina a
coligar-se com o BE e o PCP num futuro governo.
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