segunda-feira, 3 de junho de 2013

Portugal: A AUSÊNCIA DE SEGURO NA AULA MAGNA

 

Ana Sá Lopes – Jornal i, opinião
 
Seguro podia, ao menos, ter enviado uma mensagem igual à de Pacheco Pereira
 
Que razão política ponderosa levou António José Seguro, o secretário-geral do PS, a fugir, como o diabo da cruz, de uma reunião convocada pelo fundador do partido, Mário Soares, sob o lema "Libertar Portugal de Austeridade"? Qual é a lógica se António José Seguro assume como seu programa político precisamente isso - "libertar Portugal da austeridade"?
 
Como é possível que um ex-dirigente do PSD, Pacheco Pereira, tenha tido uma participação mais influente (através de uma mensagem enviada e lida pelo fundador do PS) do que o secretário-geral do maior partido da oposição? Nenhuma explicação é politicamente boa para perceber porque é que António José Seguro decidiu abdicar de um papel principal numa reunião organizada pelo fundador do seu partido - deixando--o a Mário Soares e ao reitor da Universidade de Lisboa, Sampaio da Nóvoa. A reunião era assumidamente histórica: nunca, representantes dos três partidos de esquerda se tinham sentado à mesma mesa. Porque é que Seguro e toda a sua direcção política falham o encontro?
 
Não existe uma outra explicação lógica possível: Seguro não se quer misturar com os outros partidos à sua esquerda - PS e PCP - e já escolheu o seu caminho: quando vencer as eleições sem maioria absoluta vai aliar-se ao CDS que irá reciclar na próxima ida às urnas a velha posição de "equidistância" entre PS e PSD inventada por Freitas do Amaral. O CDS deverá voltar a ser aquele partido que em 1974 se definia como "rigorosamente ao centro", o parceiro perfeito para um PS rigorosamente afastado da sua esquerda.
 
Essa é a única explicação plausível para que Seguro tenha voltado costas à Aula Magna - onde, aliás, não seria obrigado a assinar nenhum acordo de coligação de esquerda, mas apenas, enquanto líder do maior partido da oposição, participar num momento simbólico de oposição ao governo. De que é que Seguro e a sua direcção política tiveram medo? Das companhias de "esquerda"? Da sombra do imparável fundador? Do conflito de interesses de quem prepara uma coligação com o CDS?
 
Não é por causa de Seguro que até agora uma coligação de esquerda não aconteceu em Portugal. Os muros parecem intransponíveis. Mas a ausência de Seguro indica que nunca será ele que a tornará viável. Mas nem isso justifica que, ao menos, não tenha enviado uma mensagem igual à de Pacheco Pereira - que ninguém imagina a coligar-se com o BE e o PCP num futuro governo.
 

Sem comentários:

Mais lidas da semana