Ana Suspiro e
Liliana Valente – Jornal i
Deputados do CDS
enviaram perguntas ao Ministério das Finanças a questionar como é que são
feitas as contas uma vez que "não têm conseguido" acertar nas
previsões
As divergências
entre o ministro das Finanças e o CDS são cada vez mais evidentes. O CDS não
está satisfeito com os constantes falhanços nas previsões pelo ministro das
Finanças e mostrou o descontentamento numa pergunta oficial enviada ao gabinete
de Vítor Gaspar. Um grupo de deputados do CDS, que fazem parte da Comissão de
Orçamento e Finanças, querem saber como são elaboradas as previsões e que
modelos são utilizados para que o governo não consiga "antecipar
correctamente a trajectória das principais variáveis macroeconómicas, ou têm-no
feito com um grau de erro maior do que à partida seria de esperar".
A pergunta surgiu
dias depois de os centristas terem reunido o Conselho Nacional onde defenderam
um papel mais activo da economia e de o país ter fechado a sétima avaliação da
troika ao mesmo tempo que acertava a nível europeu novo alargamento das metas
do défice. As dúvidas dos deputados do CDS, entre eles João Almeida e Cecília
Meireles, reflectem também o desagrado no CDS em relação ao ministro das
Finanças e aos constantes falhanços nas previsões do impacto da austeridade nos
principais indicadores económicos, como a variação do PIB ou o nível da dívida
pública.
As dúvidas dos
deputados centristas resultam ainda de uma desconfiança cada vez maior em
relação ao rigor das fórmulas e multiplicadores utilizados pelos economistas, e
reproduzidos pelos políticos, para fazer previsões sobre o cenário
macroeconómico. No recente relatório sobre a avaliação do primeiro resgate à
Grécia, o Fundo Monetário Internacional (FMI) assume que um dos erros da
intervenção de 2010 resultou de um multiplicador demasiado baixo que subestimou
os impactos das medidas de austeridade na economia. Deveria ter sido pelo menos
o dobro. As maiores derrapagens entre previsões e realidade verificaram-se na
evolução do PIB, na taxa de desemprego e também no rácio da dívida pública.
Estes são também os indicadores que revelam um maior desvio entre a projecção e
a realidade em Portugal. As falhas sistemáticas nas previsões têm fragilizado a
reputação técnica do ministro das Finanças que ainda no debate sobre o
Orçamento Rectificativo de sexta-feira reconheceu erros.
Os deputados do CDS
querem saber que pressupostos estão por trás das previsões negociadas na sétima
avaliação da troika que sustentam a projecção de uma recessão de 2,3% para este
ano e, sobretudo, perceber se essas contas já incorporam o efeito recessivo das
medidas previstas para a reforma do Estado. Perguntam ainda quais os
multiplicadores usados nas projecções iniciais do programa de ajustamento e do
Orçamento de Estado de 2012, ano em que as derrapagens foram mais relevantes e
se, caso tenha sido feita uma revisão, quais as despesas ou receitas cujo
impacto na economia mais foi alterado.
O gabinete de Vítor
Gaspar responde sem responder materialmente às questões. Sobre os
multiplicadores que estão por trás das previsões, o ministério esclarece que
estas "têm por base um modelo macro econométrico de previsão das
principais variáveis macroeconómicas e de finanças públicas com relações de
feedback entre elas". À pergunta sobre os pressupostos técnicos usados nas
previsões passadas que falharam, as Finanças clarificam "deste modo, o
multiplicador é um resultado e não um parâmetro exógeno que seja usado no
momento da elaboração das previsões".
E quanto a
eventuais revisões de indicadores com mais impacto na economia, fica a
explicação: "Adicionalmente importa ter presente que o efeito sobre a
actividade económica resultante das medidas de consolidação depende da
composição das medidas orçamentais. Nesse sentido, para o mesmo valor de
medidas orçamentais é possível ter efeitos diferentes sobre a actividade
económica, tudo dependerá da composição dessas medidas".
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