Pedro Tadeu – Diáriode Notícias, opinião
Este texto
sintetiza o pensamento e o discurso de qualquer governante, militante do PS, do
PSD, do CDS ou alegado independente que nos últimos 30 anos tenha opinado sobre
a greve. Qualquer greve. É toda uma filosofia política. Passo, então, a citar.
"Os
professores podem fazer greve, é um direito, mas essa luta não pode afetar a
vida dos alunos. Os maquinistas, os ferroviários, os motoristas da Carris e da
STCP também, é legítimo, mas devem salvaguardar o transporte das pessoas que
querem trabalhar."
"A greve é um
direito inalienável, mas os estivadores devem levar em conta o superior
interesse nacional e descarregar os navios. Também os pilotos e os
controladores aéreos podem fazer greve se os aviões importantes voarem. Os
bombeiros têm direito à greve se ficarem em alerta para emergências. Os guardas
prisionais grevistas devem levar os presos a passear ao pátio da cadeia. Mas,
repito, não pode estar em causa o direito à greve."
"O direito à
greve não se discute, é garantido pela Constituição, mas tem limites. Os órgãos
de soberania não fazem greve. Os militares, os magistrados e os juízes não
podem fazer greve. Os enfermeiros e os médicos podem fazer greve desde que
garantam as urgências de todos os hospitais. Os camionistas podem parar desde
que assegurem importações, exportações e distribuição para hipermercados... É
preciso bom senso, não é?... Os trabalhadores da recolha de lixo grevistas têm
de assegurar a boa saúde pública. Os jornalistas têm direito a paralisar mas os
noticiários têm de relatar a greve, um direito que em democracia não pode ser
posto em causa."
"Na Auto
Europa os trabalhadores devem ser muito prudentes na questão da greve - um
direito inviolável - não vá a fábrica ser deslocalizada. Bancários em greve?
Sim, mas o sistema financeiro não pode ficar comprometido. Os trabalhadores da
hotelaria devem levar em atenção o impacto que isso tem no turismo, um sector
estratégico nacional. Nos Estaleiros de Viana do Castelo as greves levarão a
empresa ao fecho. Mas, reforço, a greve é um alicerce da nossa
democracia!..."
O direito à greve
foi assim transformado numa inalienável hipocrisia constitucional: um grevista
é sempre, a priori, acusado por esta gente de estar a fazer mal ao País. E em
qualquer empresa privada quase ninguém faz greve pois arrisca, logo, o
desemprego.
A greve é,
portanto, um direito que não se discute, como o poder papagueia há 30 anos,
porque está tendencial e deliberadamente inutilizado. Começar a reverter isto é
um serviço ao País. Quando os professores têm coragem para pontapear este
pedregulho atravessado no caminho da democracia, dão-nos uma grande lição
cívica.
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