Ricardo Lourenço,
correspondente nos EUA - Expresso
Findo o julgamento
do vigilante acusado de ter morto um jovem negro de 17 anos, a defesa critica a
parcialidade da cobertura televisiva do caso e avança para tribunal.
George Zimmerman
foi considerado inocente, no sábado à noite, do crime de assassínio em segundo
grau (homicídio não premeditado) do jovem Trayvon Martin, de 17 anos.
Conhecida a sentença, tida como injusta por vários grupos de defesa dos
direitos cívicos nos EUA, que acusam Zimmerman de ter atacado Martin por ele
ser negro, seguiram-se protestos nas principais cidades americanas.
"Existe a ideia de que o veredicto não foi justo e que os tribunais são
incapazes de fazer Justiça. Existe também uma preocupação geral com a
criminalização da juventude negra na América, que é constantemente rotulada de
suspeita", disse, ao Expresso, Ajamu Dilahunt, membro da "Black
Workers For Justice", organização que liderou alguns das manifestações, na
Carolina do Norte.
"América
precisa de ser honesta nos casos de possível discriminação racial"
Eric Holder, o
procurador-geral americano (cargo equivalente a ministro da Justiça), explicou
hoje que a investigação federal, iniciada antes do julgamento, "vai
continuar". "A América precisa de ser mais honesta nos casos de
possível discriminação racial", frisou.
O Presidente americano, Barack Obama apelou ontem à calma, esclarecendo que
"o júri pronunciou-se" e que a decisão da Justiça estava
"tomada".
Os próprios pais do adolescente, à saída de uma cerimónia religiosa em memória
de Trayvon Martin, afirmaram que a tragédia não iria condicionar "o resto
das nossas vidas" nem a "memória do nosso filho". "Por
favor, tenham calma e não cedam à violência", apelaram.
"Racismo
fabricado?"
O advogado de Defesa, James Beasley, garantiu entretanto que irá avançar com um
processo por difamação contra a NBC, depois do canal televisivo ter manipulado
uma comunicação entre George Zimmerman e um polícia, após o incidente, dando a
entender que o acusado seria racista.
A 27 de março de 2012, no programa "Today Show", ouviu-se a seguinte
versão editada da conversa entre Zimmerman e um agente: "Este tipo
(Trayvon Martin) parece que está a preparar alguma. Ele parece preto".
Beasley exigiu que fosse publicada a versão integral do diálogo, o que
aconteceu dias depois. "Este tipo parece que está a preparar alguma.
Parece drogado... Está a chover e ele continua a andar por aqui, a olhar para
as casas".
Só depois o polícia perguntou-lhe se o rapaz era preto, branco ou
latino-americano. Ao que Zimmerman respondeu: "Ele parece preto".
A NBC reconheceu que tinha seleccionado o princípio e o fim da comunicação,
explicando que outras televisões tinham feito o mesmo no sentido de
"realçar a tensão racial da história".
Ontem, James Beasley criticou o trabalho das televisões, que seguiram em direto
o julgamento. "Vocês trataram o meu cliente como se ele estivesse numa
mesa de operações, experimentando vários tipos de cirurgias sem que ele tivesse
sequer direito a anestesia", apontou.
Na foto: Barack Obama tem apelado à calma, mas as manifestações contra a
decisão judicial sucedem-se um pouco por toda a parte, aqui em pleno Times
Square, no coração da baixa de Manhattan, em Nova Iorque - Keith
BedfordReuters
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