MARGARIDA BOTELHO –
Público, opinião
Quando daqui a uns
tempos se escrever a História destes dois anos que já levamos de aplicação do
pacto das troikas e do Governo PSD / CDS-PP, o que vai ressaltar é a força
poderosa da luta do povo português. O que há-de ficar para a história é que,
apesar de todas as forças se parecerem conjugar para que o povo português fosse
esmagado em menos de nada, a verdade é que não foi bem assim.
Todos os ventos
pareciam soprar a favor dos poderosos do mundo - aqui no cantinho à beira mar
plantado representados pelo FMI, pelo Banco Central Europeu e pela União
Europeia -, ajudados no plano nacional por uma maioria, um Governo, um
Presidente e o maior partido da oposição, decididos a levar por diante o
memorando que assinaram com a troika estrangeira. Parecia que tinham a faca e o
queijo na mão. E afinal, dois anos depois, o Governo, a maioria e a política
que praticam estão derrotados e isolados.
O Presidente da República, empenhado em salvar a política de direita, quer
fazer crer que é possível sair do buraco com quem o cavou. PS, PSD e CDS são
não só os responsáveis pelos governos dos últimos 37 anos como os subscritores
do memorando de entendimento que agravou todos e cada um dos problemas do país.
Ao não dissolver o Parlamento e não convocar eleições, o Presidente
assume para si a responsabilidade de todas as consequências que vão resultar
deste caminho de degradação económica e social. O Presidente da República não
quer dar a palavra ao povo porque sabe que o resultado das eleições seria uma
gigantesca condenação deste rumo.
A política definida no memorando está errada e falhou. Insistir em mais do
mesmo só afundará mais o país. Mas é isso que Cavaco quer garantir: que o
Orçamento do Estado para 2014 passa com mais roubos nos salários e nas pensões,
mais cortes na saúde, na educação e na segurança social, com mais despedimentos
e privatizações. Não importa que os portugueses sejam condenados à pobreza, ao
desemprego, à emigração, a doenças evitáveis, desde que os milhares de milhões
de euros que a “ajuda” da troika nos custa no próximo ano estejam pontualmente
nas contas da banca nacional e estrangeira.
Romper com esta política e assegurar uma política patriótica e de esquerda é um
imperativo nacional. Uma política que liberte Portugal da dependência e da
submissão, que recupere para o país o que é do país, que devolva os direitos,
salários e rendimentos roubados aos trabalhadores e ao povo.
É neste quadro que tem grande importância o apelo que o PCP lançou hoje às
forças sociais, aos partidos e forças políticas, aos democratas, que têm como
objectivos a demissão do Governo, a realização de eleições e a rejeição do
pacto de agressão. Nos próximos dias realizar-se-ão encontros com o PEV, a ID,
o BE, diversas organizações sociais e personalidades. O facto de o PS não estar
incluído nestes contactos não significa qualquer recusa de encontros –
significa, simplesmente, que quem acaba de renovar o seu compromisso com o
Pacto de Agressão e está neste preciso momento a negociar com o PSD e o CDS-PP
a continuação da política de direita, não pode esperar ao mesmo tempo ser
incluído no número daqueles a combatem.
Foi a luta do povo português que derrotou este Governo e esta maioria. Vai ser
a luta que obrigará à realização de eleições antecipadas, à ruptura com o pacto
de agressão das troikas, a um novo rumo na vida nacional. Há neste país forças
suficientes para construir uma alternativa patriótica e de esquerda.
Sem comentários:
Enviar um comentário