José Ribeiro –
Jornal de Angola, opinião
Barack Obama faz a sua segunda visita a África como presidente dos Estados
Unidos. Esta viagem gera como sempre grandes expectativas. Mas receio de que o
resultado da viagem seja nulo.
Obama é um filho de
África que se tornou no homem mais poderoso do mundo. Em Julho de 2009 esteve
no Ghana e fez elogios aos progressos na democracia e nos direitos humanos. Mas
as expectativas geradas não passaram de palavras bonitas. De lá para cá, muito
pouco foi feito. Nada de muito importante surgiu nas relações entre África e os
Estados Unidos.
O tão falado discurso de esperança que Obama deixou na Universidade de Accra
não passou de um exercício de boas intenções que não se concretizaram. África
continua entregue a si própria na luta pelo desenvolvimento. As potências
ocidentais que exauriram os seus mais valiosos recursos humanos, continuam com
as mesmas políticas. O que importa é, simplesmente, conseguir matérias-primas
baratas e negócios fáceis.
A segunda visita de Obama a África está rodeada de um simbolismo que liga
bem com a política africana dos EUA. A viagem é feita numa altura em que Nelson
Mandela está gravemente doente num hospital. O maior ícone do continente
africano luta corajosamente pela vida, mas mesmo o homem mais poderoso do mundo
nada pode fazer. Tenho a certeza de que se pudesse, Obama faria tudo para
salvar Mandela. Mas num momento tão dramático o que vemos nas televisões é o
sorriso de Obama, mil vezes ensaiado pelos assessores de imagem.
Não creio que a recusa dos EUA em ajudar o continente africano seja uma decisão
dele. O que se passa é que o Presidente dos EUA está rodeado da mesma estrutura
que provocou a grande crise de Wall Street e já nada tem a ver com o sonho
americano. O sonho foi abandonado a favor de intervenções militares sangrentas
e de violações dos direitos humanos em vários pontos do globo e até em África.
Durante a campanha de Obama para o segundo mandato, escrevi nesta coluna que me
sentiria defraudado se ele perdesse a eleição, porque ficava sem a
possibilidade de, na qualidade de Presidente dos EUA, vir a Angola, país que
ajudou a derrubar o regime de apartheid e é um exemplo no mundo. Obama venceu e
continua a ser o Presidente dos Estados Unidos. Mas ainda não veio a Angola.
Estou certo que algum dia virá, se os seus assessores deixarem.
O continente africano espera muito dos Estados Unidos. A maior potência
económica mundial tem muito para dar aos africanos. Os Estados Unidos podem
abrir a África uma ínfima parte do potencial da sua indústria farmacêutica e
alimentar. Se o fizessem, em pouco tempo a doença e a pobreza recuavam para
níveis inimagináveis em África. Se os jovens africanos, que já mostraram ter
mérito e capacidade, tivessem acesso às escolas e universidades americanas,
rapidamente o nível dos quadros africanos dava um salto e melhorava a educação
e a saúde em África. Mas para isso é preciso que os americanos abandonem o seu
individualismo egoísta e aprovem um plano de cooperação bem estruturado com os
Estados africanos. Se a avançada tecnologia de construção habitacional
americana fosse posta ao dispor do continente, num curto prazo milhões de
famílias africanas podiam beneficiar de casas mais condignas para viver. Mas
isso é uma utopia que se esfuma com o sonho americano.
Os Estados Unidos parecem amarrados a uma política africana sem norte e sem uma
estratégia clara para as transformações de que África precisa. Os EUA surgem ao
olhos de todo o mundo ligados a guerras. A cooperação institucional com o
continente limita-se à exploração de recursos petrolíferos. Fora disso, não há
um projecto emblemático de carácter económico, nem social ou cultural, de
grande dimensão, que possa concorrer com a cooperação dos países emergentes e
faça a diferença, apresentando um novo tipo de relação com África. Em
Angola, se há de facto uma cooperação americana, fora da área dos petróleos, é
de perguntar onde está ela. A secretária de Estado Hillary Clinton esteve cá
numa deslocação histórica e marcou uma nova fase nas relações bilaterais, mas
desde aí pouco ou nada se fez. A colagem excessiva das embaixadas americanas às
oposições africanas está a minar a cooperação institucional. Isso ficou
evidente nas eleições gerais angolanas de 2012. O interesse comum de Angola e
dos EUA é demasiado importante para estar sujeito a maquinações e intrigas
circunstanciais, próprias das redes sociais.
A ideia dos “bons” e dos “maus” continua muito presente na diplomacia
americana. E enquanto Washington se distrai com o jogo de saber se vai haver
mais um conflito em África para aí instalar uma base da OTAN, ninguém se pode
lamentar que o lugar por si deixado vago seja ocupado por novos investidores, da
China ou da índia, com melhor sentido de oportunidade e concentrados em
negócios que vão para além dos recursos energéticos e ajudam a criar emprego e
a combater a pobreza.
Ignorar que os novos “players” do continente estão a fazer mais do que alguma
vez a Europa e os Estados Unidos juntos fizeram, ajudando a erguer uma grande
infra-estrutura em África, aquilo de que tanto precisa, é pior do que fechar os
olhos à realidade.
Os Estados Unidos perdem terreno porque não percebem que África não precisa que
lhe ofereçam sorrisos. África precisa que a ajudem a combater a fome, a doença,
a pobreza, a desertificação, a falta de emprego e o atraso económico. África
precisa de trilhar caminho do desenvolvimento. Os empresários que
acompanham Obama têm de saber investir no continente.
É este Presidente Barack Obama por quem espero.
1 comentário:
ESPERAR POR UM OBAMA, OU OUTRO QUALQUER DOS PARTIDOS REPUBLICANO OU DEMOCRATA, É UMA COMPLETA ESTUPIDEZ, É UMA COMPLETA PERDA DE TEMPO E... PERDA DE PAZ!...
Desde a IIª Guerra Mundial que se "está à espera" dum outro comportamento internacional dos Estados Unidos e essa "espera" já vai em 4ª geração!
Quantas mais gerações quer o senhor José Ribeiro "de espera", saque após saque, divisão após divisão, guerra após guerra?
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