Martinho Júnior,
Luanda
1 – O desfile
militar do 14 de Julho de 2013 em Paris é um testemunho mais confirmando a
continuidade das políticas de domínio dirigidas a África e ao ocidente asiático
do tandem Sarkozy – Hollande, correspondendo à saga visando a exploração de
matérias-primas baratas, ainda que com recurso às armas e em conformidade com a
estrita cartilha ocidental de âmbito NATO!
De certa maneira a
França está de tal modo em sintonia com a hegemonia protagonizada pelos
anglo-saxónicos, (Estados Unidos e Reino Unido à cabeça), quanto até na
personalidade dos dirigentes a sucessão francesa corresponde à “evolução”
obtida por exemplo com o tandem Bush – Obama!
O actual Presidente
francês é mais refinado sob o ponto de vista de argumentação e de “praxis” que
Sarkozy, tal como Obama o é em relação a Bush (não é por acaso que os que estão
no activo são apologistas do “soft power” que as novas tecnologias favorecem,
até por que ficam adequadamente mais baratas)!
As geo políticas
neo coloniais instrumentalizadas através de sucessivas guerras, tendo em conta
as características da “ameaça terrorista”, implicam novas tecnologias, grande
capacidade táctica utilizando transportes e veículos blindados ligeiros,
domínio avassalador do espaço aéreo, unidades especiais e… submissos “parceiros”
africanos, reconhecidos aos seus mestres que tudo controlam (desde a logística,
ao fabrico das armas, até à decifragem de todo o tipo de comunicações)!
Um desfile “soft
power” foi servido neste 14 de Julho, dia da tomada da Bastilha, mas que com
Sarkozy – Hollande reproduz uma certa tomada de África, adaptada aos parâmetros
neo liberais do século XXI!
Nada de
equipamentos terrestres pesados, pelo contrário o mais ligeiro e manobrável
possível, muita infantaria especializada e a aviação para encher os céus e os
olhos.
Malianos,
Chadianos, os outros africanos que integram o MISNA e unidades francesas
presentes no teatro da Operação Serval constituíram-se numa das principais “atracções”
no desfile em terra.
2 – Tendo a par do
Reino Unido assumido o controlo do espaço aéreo líbio e a proliferação de
unidades especiais no derrube de Kadafi em apoio aos seus aliados, entre eles o
braço da Al Qaeda que dá pelo nome de Lybian Islamic Fighting Group, ao mesmo
tempo que garantia o domínio sobre todas as comunicações no terreno, o governo
de Sarkozy sabia que no fim das acções militares propriamente ditas haveriam
repercussões por todo o Sahel.
Por um lado os
arsenais líbios ficariam devolutos e à mercê dos “terroristas” aliados (que os
passariam a outros grupos com a mesma matriz espalhados na região), por outro
por todo o Sahel se sentiriam impactos de natureza sócio-política, impactos
esses mais sensíveis nos estados mais vulneráveis, entre os quais se perfilava
o Mali!
A França com toda a
panóplia de meios disponíveis no Sahel, podia recorrer a esse manancial e
atempadamente fazer todo o tipo de previsões de forma a escolher a melhor
altura para depois agir, preparando sobretudo as conjunturas psicológicas,
sócio-políticas, do âmbito dos serviços de inteligência, militares e… as
ementas neo coloniais que garantem a exploração das riquezas naturais tornadas
matérias-primas baratas!
Por isso o tandem
Sarkozy – Hollande pôde facilmente escolher e separar as condutas em relação a
uns e aos outros: os “terroristas amigos” (os da Líbia e da Síria) e os “terroristas
inimigos” (como os que actuam no Mali e na Somália), até por que seu
financiamento era garantido por “aliados” como as monarquias Arábicas, da
Arábia Saudita ao Qatar e nunca seria a França a perder dinheiro com eles,
quando com o petróleo barato tanto dinheiro há a ganhar!…
Por fim o tipo de
ameaça de grupos “terroristas” como esses, podia assumir um grau elevado para
as frágeis nações africanas e um ónus de peso para as sociedades desses países,
conforme ocorreu aliás no Mali, mas para o “soft power” das potências, longe
das fronteiras da “mãe pátria”… é quase como se estivessem num contínuo
exercício, passando ao lado do caos, senão mesmo tocando, sem perigo de
contágio, o caos!
Foi muito fácil às
potências criar o facto geo político da ameaça dum “terrorismo inimigo” no Mali
e nessa conjuntura, fácil para a França preparar os cenários de domínio, com
toda a persuasão possível, com desfile atempadamente preparado e um carácter
garantidamente neo colonial!
3 – A França está
hoje perante uma aberração: combate com o seu arsenal “soft power”, a coberto
do sistema de vigilância disponível no âmbito do AFRICOM, os “terroristas
inimigos” do AQMI no Mali e ao mesmo tempo está a ajudar os “terroristas
amigos” do Al-Nusra que combatem na Síria o regime de Hassad!
Foram os próprios
serviços de inteligência franceses que começaram por dar conta desse aparente
absurdo, esquecendo-se que o “terrorismo” fora do espaço nacional não passa
duma relativamente diminuta ameaça táctica para as suas forças, em especial se
elas garantirem uma grande capacidade de logística, de manobra, de mobilidade,
de vigilância e observação e tiverem o suporte dos satélites, das comunicações
e o domínio do espaço por inteiro!
Este desfile do 14
de Julho foi quase perfeito enquanto triunfo neo colonial, a modos como o “triunfo
dos porcos” de George Orwell: desfilaram as unidades especiais da Operação
Serval, bem como os malianos e os chadianos à cabeça e com todas as bandeiras desfraldadas…
só falta mesmo fazer desfilar o Lybian Islamic Fighting Group, ou a frente
Al-Nusra!
Foto: Desfile nos
Campos Elísios sob a coroa do Arco do Triunfo, com os malianos e chadianos à
cabeça: uma apologia alegórica do triunfo neo colonial em África, uma reedição
do “Triunfo dos porcos”!
A consultar:
- O triunfo dos
porcos – http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/marcos/hdh_george_orwell_revolucao_bichos.pdf
- A revitalização
da FrançAfrique – http://paginaglobal.blogspot.pt/2013/04/a-revitalizacao-da-francafrique.html
- Os gendarmes da
colonização de África no século XXI – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/04/os-gendarmes-da-colonizacao-de-africa.html
- Operação Serval –
I – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/02/operacao-serval-i.html
- Operação Serval –
II – http://paginaglobal.blogspot.pt/2013/02/operacao-serval-ii.html
- Operação Serval –
III – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/02/operacao-serval-iii.html
- Operação Serval –
IV – http://paginaglobal.blogspot.pt/2013/02/operacao-serval-iv.html
- Operação Serval –
V – http://paginaglobal.blogspot.pt/2013/03/operacao-serval-v.html
- "L’émirat
récolte ce qu’il a semé" au Nord-Mali – http://www.humanite.fr/tribunes/l-emirat-recolte-ce-qu-il-seme-513874
- 50 ans
d’interventions militaires françaises en Afrique – http://www.rfi.fr/afrique/20100714-1960-2010-50-ans-interventions-militaires-francaises-afrique
- A invasão real de
África não está no noticiário – http://resistir.info/pilger/pilger_31jan13.html
- Un gouvernement
au service des entreprises françaises en Afrique – http://survie.org/billets-d-afrique/2012/218-novembre-2012/article/un-gouvernement-au-service-des
- Liste des
opérations militaires impliquant la France depuis 2000 – http://fr.wikipedia.org/wiki/Liste_des_op%C3%A9rations_militaires_impliquant_la_France_depuis_2000
- Un défilé du 14
Juillet sous le signe de l'amitié franco-malienne – http://www.rfi.fr/afrique/20130714-defile-14-juillet-sous-le-signe-amitie-franco-malienne-serval-misma-elisee-jean-dao
- Des ONG dénoncent
un défilé néocoloniale – http://www.francetvinfo.fr/france/14-juillet/14-juillet-des-ong-denoncent-un-defile-neocolonial_368298.html#xtor=AL-54
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