Martinho Júnior,
Luanda
1 – A França nunca
deixou de ter presença militar em África desde que constituiu o seu império
colonial e isso tem sido a garantia dum processo que, apesar das independências
formais, faz sobreviver o colonialismo e a dependência para dentro do século
XXI.
O esforço militar
francês em África teve sempre razões económicas e financeiras em suporte de
interesses expressos em multinacionais como a AREVA, a TOTAL, o grupo Bolloré,
entre muitos outros; essas são as ênfases causais mais irredutíveis dos
interesses da França em África, das suas oligarquias e de sua geo estratégia.
Por causa disso,
necessário é para a sobrevivência da “FrançAfrique”, o estado de torpor e de “caos
controlado” nas nações subjugadas e cronicamente subdesenvolvidas, uma parte
delas possuindo os Índices de Desenvolvimento mais Baixos da Humanidade,
recorrendo a uma imensa panóplia de métodos, expedientes e actores.
A dependência é tal
que essas nações (grande parte delas do espaço CEDEAO), jamais se conseguiram
libertar das grilhetas dum sistema perverso, tão dominante quão abrangente, tão
decisivo como persuasivo, tão “inteligente” como saqueador…
Desse modo a França
nunca deixou de constituir-se num “fazedor de reis” impondo seus cenários e
fantoches, nem que para tal se sucedam as rebeliões e os golpes de estado, os
golpes de estado e as rebeliões, num ciclo infernal que tendo sido desencadeado
no século passado, está longe de parar e procura contaminar toda a África!
França, por via da “FrançAfrique”
e dado o seu comportamento crónico de grande potência disposta ao saque,
tornou-se efectivamente numa ameaça constante para todo o continente, de tal
modo que esse facto é deliberadamente ocultado por quem dirige os destinos da
União Africana (ninguém na União Africana o declara, quando isso é por demais
evidente).
O espaço CEDEAO é a
sua vítima mais dilecta, mas a União Africana, enredada nessa conjuntura,
quantas vezes tem facilitado a presença militar francesa como se de um aliado
se tratasse, como se tratasse dum “parceiro” fiável, para que tudo possa
continuar na mesma, ou seja, para que se prolongue o colonialismo por todo o
século XXI?!
São três os últimos
exemplos todos eles encadeados e com nexos: Líbia, Mali e República Centro Africana,
mas como na União Africana não há alguém que pense ou aja em termos dialécticos
consequentes a favor daqueles que sofrem em pleno século XXI e opressão e todas
as ementas que compõem ingerência e manipulação, outros mais se irão seguir!
2 – A ameaça deriva
do carácter geo estratégico da “FrançAfrique”, uma articulação que tem
esqueleto militar e uma panóplia de esforços de inteligência a acompanhar a
implantação económica e financeira, fazendo proliferar os riscos em direcção ao
sul do continente.
As principais bases
militares conseguidas para além da colonização instalaram-se no Senegal, na
Costa do Marfim e no Gabão (costa Atlântica de África), no Tchade (bem no
centro do Sahel) e em Djibouti (na costa do Índico Norte), mas as articulações
vão-se espraiando noutros espaços territoriais e oceânicos, ali onde as
correntes dos interesses determinam os regimes de intervenção que poderão ser
indefinidamente alargados (nunca se sabe onde termina a ocupação e começa a
intervenção e vice-versa).
Para o efeito a
França desenha Acordos, Tratados e outras Convenções, quando e onde forem
necessários do Índico ao Atlântico, abrangendo na prática toda a transversal
este-oeste africana, tendo como eixo principal o Sahel.
É precisamente no
Sahel onde existem os principais interesses minerais, a começar pelo urânio, no
Mali, no Níger, no Tchade e na República Centro Africana e são precisamente
alguns dos países que se inscrevem nos Índices de Desenvolvimento Humano mais
Baixos.
O esquema colonial
não evolui: exploração mineral no interior profundo do continente africanos,
caminhos-de-ferro ou estradas de penetração onde for estritamente necessário e
portos de exportação das riquezas africanas não transformadas.
O esquema militar
acompanha essa estruturação: “testas-de-ponte” no litoral (necessariamente em
maior número para garantir sempre as intervenções) e uma plataforma como o
Tchade bem no miolo geo estratégico do Sahel!
A partir daí, nos
oceanos e mares circundantes, como no interior profundo do continente, a gestão
militar da coutada “FrançAfrique” está garantida e tem sido gerida ano após
ano, década após década…
3 – É evidente que
só os países africanos podem evocar a miragem de terem impedido os Estados
Unidos de implantarem a sede do AFRICOM em África: com tantas bases francesas,
quando a França está numa posição de vassalagem e integração na geo estratégia
da hegemonia, bem longe da relativa “independência” dos tempos de Charles de
Gaulle, por que raios precisa o Pentágono de se preocupar em colocar a sede do AFRICOM
em África?
A França está bem
ciente do seu papel, do seu enquadramento e das suas capacidades para montar os
cenários e colocar os fantoches de conveniência, sem recorrer a essa coisa que
é a “democracia representativa”, uma coisa ainda tão complicada para os
africanos (“como eles são atrasados”, como eles “precisam da França” para
resolver os seus próprios problemas)!
Além disso, desta
forma tudo fica mais barato para a máquina militar norte americana, que está a
ser empregue com todo o seu peso no Médio Oriente e agora no Pacífico, pelo que
em África o AFRICOM só precisa de ser “soft”, com muitos “drones” (que os
franceses também precisam) e alguns grupos de forças especiais para as
intervenções pontuais e para a “formação”.
Na caça ao
famigerado Kony do LRA do Uganda, os efectivos norte americanos e africanos da “missão”
estão também dentro da República Centro Africana e provavelmente têm-se
entendido bem mais com as forças militares francesas do que com as forças do
regime deposto de François Bozizé, ou até com o Seleka e depois, com tantos “drones”
ao seu serviço, puderam acompanhar em tempo real o choque dos rebeldes à sua
chegada a Bangui, com os 200 homens da tão “emergentemente desamparada” África
do Sul…
Os norte americanos
não possuem uma arma como o Franco CFA, a moeda que de facto vai custeando
muitas das despesas militares francesas, um processo que se arrasta à custa dos
sucessivos orçamentos africanos e do saque das riquezas do continente!
Depois a França, em
retribuição, possui os mesmos conceitos e coopera nas iniciativas correntes dos
Estados Unidos:
- É capaz de
contribuir para fabricar “amigos úteis” e “inimigos úteis”;
- É capaz de
disputar as iniciativas da China, conforme acontece na Líbia ou na República
Centro Africana, isto pelo menos enquanto as suas multinacionais não se
enredarem com os interesses da China, ou de outros BRICS;
- É capaz de no seu
espaço de domínio impedir presença militar de emergentes africanos e dos BRICS,
conforme ocorreu subtilmente com os angolanos na Costa do Marfim e na Guiné
Bissau, ou mesmo com a África do Sul na República Centro Africana;
- É capaz de
contribuir par o redesenhar dos mapas do continente, pois a França entende
melhor que outros as divisões étnicas que advém do passado, divisões étnicas
que não se cansa de incentivar;
- É capaz de
programar em direcção ao sul os factores de risco, de forma a colher os frutos
das artificiosas desestabilizações que promove tendo como “ponto-ómega” a “charneira
caótica” que constitui o território da República Democrática do Congo;
- É capaz de,
contribuindo para manter a polarização entre o norte, oeste e centro de África
dum lado e a África Austral do outro, estimular as divisões internas que os
africanos tentam a todo o curto esconder ou esbater no seio da UA!
As Forças Armadas
Francesas são os melhores “gendarmes” que o Pentágono, por via do AFRICOM,
poderia alguma vez esperar!
4 – Os países que
fazem a delícia da presença dos “gendarmes” franceses são campeões de revoltas,
de golpes de estado e de riqueza mineira, todos eles na cauda dos Índices de
Desenvolvimento Humano Baixo:
- Mali - 175º;
- R. C. A. - 179º;
- Burkina Faso -
181º;
- Chade - 183º;
- Níger - 186º.
Por causa das
mesmas razões o último dos últimos é a riquíssima República Democrática do Congo,
187º!
A presença militar
da “FrançAfrique” faz intrinsecamente parte dos cenários do subdesenvolvimento!
Mapa: - A amarelo – as
plataformas militares geo estrategicamente implantadas, para a França dar
continuidade às continuamente impunes ingerências e manipulações coloniais!
A consultar:
- Que fait l’armée
française en Afrique? – http://www.legrandsoir.info/Que-fait-l-armee-francaise-en-Afrique.html
- L’armée française
en Afrique – http://diktacratie.com/larmee-francaise-en-afrique/
- De l’armée
coloniale à l’armée néocoloniale (1830 - 1990) – http://survie.org/publications/les-dossiers-noirs/article/de-l-armee-coloniale-a-l-armee;
http://survie.org/IMG/pdf_Brochure_De_l_armee_coloniale_a_l_armee_neocoloniale.pdf
- Les zones
d’ombres de l’intervention française au Mali – http://survie.org/francafrique/mali/article/les-zones-d-ombres-de-l;
http://survie.org/IMG/pdf/Dossier_d_information_-_Les_zones_d_ombres_de_l_intervention_francaise_au_Mali_-_Survie_-_24_janvier_2013.pdf
- La FrançAfrique –
http://survie.org/francafrique/article/la-francafrique
- La France prépare
des soldats ivoiriens à leur déploiment dans le pays – http://www.slateafrique.com/146761/mali-la-france-prepare-des-soldats-ivoiriens-leur-deploiement-dans-le-pays
- Un gouvernement
au service des entreprises françaises en Afrique – http://survie.org/billets-d-afrique/2012/218-novembre-2012/article/un-gouvernement-au-service-des
- C’est ou le
Sahelistan ? – http://sciencepourvousetmoi.blogs.sciencesetavenir.fr/tag/qatar+petroleum+international
- Une coopération
militaire multiforme et contestée – http://www.monde-diplomatique.fr/2008/02/MUNIE/15569
- Mali, France y
los extremistas – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=162870
- Quand
la France se brûle les doigts dans le brasier syrien – http://www.afrique-asie.fr/component/content/article/75-a-la-une/5323-quand-la-france-se-brule-les-doigts-dans-le-brasier-syrien.html
- Les interventions
françaises en Afrique engendrent des risques de répresailles – http://www.arcinfo.ch/fr/monde/les-interventions-francaises-en-afrique-engendrent-des-risques-de-represailles-577-1100354
- Liste des
opérations militaires impliquant la France depuis 2000 – http://fr.wikipedia.org/wiki/Liste_des_op%C3%A9rations_militaires_impliquant_la_France_depuis_2000
- A Importância
Geoestratégica do AFRICOM para os EUA em África – http://pt.altermedia.info/internacional/a-importancia-geoestrategica-do-africom-para-os-eua-em-africa_724.html
- Assisting the
french in Mali – http://www.africom.mil/Newsroom/Article/10206/us-airlift-french-forces-to-mali
- Des drones us AU
Niger pour les guerres d’Afrique – http://www.afrique-asie.fr/component/content/article/75-a-la-une/4862-des-drones-us-au-niger-pour-les-guerres-d-afrique.html
- França – pequena
radiografia do poder global – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/11/rapidinhas-do-martinho-59.html
- O império promove
a morte da democracia – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/03/coisas-que-globalizacao-tece-07-o.html
- Uma muito subtil
FrançAfrique –
- O assassinato de
Kadafi – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/10/o-assassinato-de-kadafi.html
- Sarkozy
ressuscita o pré carré com novas tendências – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/04/sarkozy-ressuscita-o-pre-carre-com.html
- Estende-se o arco
de crise em África – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/03/estende-se-o-arco-de-crise-em-africa.html
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