William Tonet –
Folha 8, edição 1155, 17 agosto 2013
Os actuais
dirigentes de Angola, de tão arrogantes e petulantes, desfilam os egos em passarelas
barrocas de falsas grandezas. Tudo o que fazem rotulam como sendo maior de
África e do mundo. Têm absoluta razão. A boçalidade também tem legitimidade em
democracia, diferente da autoridade pagã em ditadura. Na nossa selva indígena,
a maldade dos barões, contra os pobres é institucional. As injustiças contra os
fracos são arrasadoras e a discriminação contra os que pensam diferente da cartilha
regimental, só é superada pela Guiné Equatorial, Zimbabwe, Coreia do Norte e
China.
O regime angolano,
ostentando na lapela tão reluzentes medalhas, não consegue, até hoje, conviver com
a democracia, por, como diz o Presidente da República, José Eduardo dos Santos,
com a honestidade e legitimidade que se lhe conhece, “lhes foi imposta”. Ora,
quem não acredita na democracia, não consegue beber da sua água, tão pouco
implantá-la, como mandam as regras democráticas, por estar intrinsecamente ligado
às normas ditatoriais fascistas. Daí ser da mais pura inveja, a revista Forbes
falar mal de uma empresária de sucesso inquestionável, Isabel dos Santos, a
primeira bilionária angolana e top 10, africana, cuja riqueza foi feita a pulso,
vendendo na zunga, ovos de ouro, logo nunca teve nada de Angola e dos angolanos
de favor, nem fazendo recurso ao n.º 2 do art.º 23.º da Constituição de Angola,
“(…) ninguém, deve ser privilegiado (…) em razão da sua ascendência”.
Logo ela, como
ucraniana -angolana, filha de um dos mais antigos presidentes africanos no
poder (32 anos sem nunca ter sido eleito), tendo-o sido, somente, em eleições
atípicas, ao comemorar 33 anos de poder, mas com um ruidoso coro de
contestação, não deve ser apontada como um claro exemplo de nepotismo. Isso por
haver vícios difíceis de um regime habituado a conviver com a ditadura
branquear, conseguir ultrapassar. Mas ainda assim se aceitou fazer a inversão
de marcha, não pode apenas avocar para a sua esfera os benefícios da democracia,
deve também respeitar as suas regras. Infelizmente, a apetência pelo dinheiro e
poder, por parte da clique do regime é tão desmedida, que a fraude, a
corrupção, a discriminação, a humilhação, os assassinatos encomendados de
membros da oposição e intelectuais não bajuladores, justificam e encobrem os
fins da ambição fascista, que “tamis com ela”.
Diante deste quadro
dantesco, pese toda a publicidade e bajulação dos meios de comunicação social
do Estado, estamos diante de um gigante de pés de barro, capaz de ruir, com um
toque, bastando que a unidade dos excluídos se efective e, tal como diz o pergaminho
da democracia, o povo chame a si a sua soberania, nas urnas ou na rua, para
inverter o actual quadro. Isto porque o regime só é forte, por controlar as forças
policial, militar e de segurança do Estado, para além de deter ainda um outro
aparatoso exército privado ao serviço do Presidente da República. Sem eles, com
instituições de cidadania, uma justiça despartidarizada e uma imprensa livre e
imparcial, o poder do actual MPLA esfuma-se em dois tempos. E este prognóstico
não é por faltar mérito ou competências internas, ao partido dos camaradas.
Não! É por se ter transformado numa organização política privatizada,
arrogante, petulante, discriminadora e que cultiva o ódio por onde passa. Basta
ver como os adversários são tratados e humilhados, sem o mínimo de pudor, nas instituições
públicas, incluindo o Parlamento. Recordemo-nos da triste farsa e mentira que
virou quase verdade, protagonizada pelo líder da bancada parlamentar do MPLA, a
propósito de uma proposta de lei da CASA-CE, matreiramente manipulada e
deturpada pelos órgãos de comunicação social públicos, para vaticinarmos como
será o quadro e o tratamento dos actuais dirigentes, caso ascenda ao poder um
membro radical das forças da mudança.
Por tudo isso,
tenho a firme convicção de que o actual MPLA, privatizado como está,
concorrendo em igualdade de circunstâncias, sem batota, corrupção e fraude, com
as demais forças políticas, em qualquer pleito eleitoral; autárquico,
legislativo ou presidencial, não tem condições de se sustentar no poder, por
muito tempo, porquanto a transparência, a lisura e a ética não fazendo parte da
sua cultura, facilmente sucumbirão, pois o eleitor tem consciência de que Angola
só será diferente com uma mudança de políticas e de regime.
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edição do Folha 8 no PG
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