quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Angola: UM GIGANTE COM PÉS DE BARRO

 


William Tonet – Folha 8, edição 1155, 17 agosto 2013
 
Os actuais dirigentes de Angola, de tão arrogantes e petulantes, desfilam os egos em passarelas barrocas de falsas grandezas. Tudo o que fazem rotulam como sendo maior de África e do mundo. Têm absoluta razão. A boçalidade também tem legitimidade em democracia, diferente da autoridade pagã em ditadura. Na nossa selva indígena, a maldade dos barões, contra os pobres é institucional. As injustiças contra os fracos são arrasadoras e a discriminação contra os que pensam diferente da cartilha regimental, só é superada pela Guiné Equatorial, Zimbabwe, Coreia do Norte e China.
 
O regime angolano, ostentando na lapela tão reluzentes medalhas, não consegue, até hoje, conviver com a democracia, por, como diz o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, com a honestidade e legitimidade que se lhe conhece, “lhes foi imposta”. Ora, quem não acredita na democracia, não consegue beber da sua água, tão pouco implantá-la, como mandam as regras democráticas, por estar intrinsecamente ligado às normas ditatoriais fascistas. Daí ser da mais pura inveja, a revista Forbes falar mal de uma empresária de sucesso inquestionável, Isabel dos Santos, a primeira bilionária angolana e top 10, africana, cuja riqueza foi feita a pulso, vendendo na zunga, ovos de ouro, logo nunca teve nada de Angola e dos angolanos de favor, nem fazendo recurso ao n.º 2 do art.º 23.º da Constituição de Angola, “(…) ninguém, deve ser privilegiado (…) em razão da sua ascendência”.
 
Logo ela, como ucraniana -angolana, filha de um dos mais antigos presidentes africanos no poder (32 anos sem nunca ter sido eleito), tendo-o sido, somente, em eleições atípicas, ao comemorar 33 anos de poder, mas com um ruidoso coro de contestação, não deve ser apontada como um claro exemplo de nepotismo. Isso por haver vícios difíceis de um regime habituado a conviver com a ditadura branquear, conseguir ultrapassar. Mas ainda assim se aceitou fazer a inversão de marcha, não pode apenas avocar para a sua esfera os benefícios da democracia, deve também respeitar as suas regras. Infelizmente, a apetência pelo dinheiro e poder, por parte da clique do regime é tão desmedida, que a fraude, a corrupção, a discriminação, a humilhação, os assassinatos encomendados de membros da oposição e intelectuais não bajuladores, justificam e encobrem os fins da ambição fascista, que “tamis com ela”.
 
Diante deste quadro dantesco, pese toda a publicidade e bajulação dos meios de comunicação social do Estado, estamos diante de um gigante de pés de barro, capaz de ruir, com um toque, bastando que a unidade dos excluídos se efective e, tal como diz o pergaminho da democracia, o povo chame a si a sua soberania, nas urnas ou na rua, para inverter o actual quadro. Isto porque o regime só é forte, por controlar as forças policial, militar e de segurança do Estado, para além de deter ainda um outro aparatoso exército privado ao serviço do Presidente da República. Sem eles, com instituições de cidadania, uma justiça despartidarizada e uma imprensa livre e imparcial, o poder do actual MPLA esfuma-se em dois tempos. E este prognóstico não é por faltar mérito ou competências internas, ao partido dos camaradas. Não! É por se ter transformado numa organização política privatizada, arrogante, petulante, discriminadora e que cultiva o ódio por onde passa. Basta ver como os adversários são tratados e humilhados, sem o mínimo de pudor, nas instituições públicas, incluindo o Parlamento. Recordemo-nos da triste farsa e mentira que virou quase verdade, protagonizada pelo líder da bancada parlamentar do MPLA, a propósito de uma proposta de lei da CASA-CE, matreiramente manipulada e deturpada pelos órgãos de comunicação social públicos, para vaticinarmos como será o quadro e o tratamento dos actuais dirigentes, caso ascenda ao poder um membro radical das forças da mudança.
 
Por tudo isso, tenho a firme convicção de que o actual MPLA, privatizado como está, concorrendo em igualdade de circunstâncias, sem batota, corrupção e fraude, com as demais forças políticas, em qualquer pleito eleitoral; autárquico, legislativo ou presidencial, não tem condições de se sustentar no poder, por muito tempo, porquanto a transparência, a lisura e a ética não fazendo parte da sua cultura, facilmente sucumbirão, pois o eleitor tem consciência de que Angola só será diferente com uma mudança de políticas e de regime.
 
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