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“Amêsa”, que fala
das guerras em Angola a partir das vivências de uma mulher, foi a peça escolhida
para abrir a 5ª edição do Festival de Teatro da Língua Portuguesa (FESTLIP), a
decorrer no Rio de Janeiro até 30.08.
De Angola, o país
homenageado na edição deste ano do evento, veio também o autor homenageado, o
dramaturgo José Mena Abrantes, diretor do grupo Elinga. “Nesta hora,
confirma-se a lição aprendida nestas mais de quatro décadas e meia dedicadas ao
teatro”, declarou o dramaturgo angolano no Rio de Janeiro.
Financiado por
incentivos do Governo à cultura, o FESTLIP foi idealizado pela atriz Tânia
Pires. A ideia terá surgido quando apresentou um espetáculo seu no Festival
dedicado ao dramaturgo norueguês Henrik Ibsen, na Noruega.
“Lá, cada país
apresenta textos de Ibsen na sua própria língua, sem tradução. Eu tive a
felicidade de assistir ao espetáculo Casa de Bonecas de Moçambique e fiquei
muito encantada”, conta.
Quando regressou do
festival norueguês, em 2006, Tânia Pires começou, então, a pesquisar sobre os países
de língua portuguesa e sobre teatro.
Um século de
guerras em Angola
A peça escolhida
para a abertura do FESTLIP foi “Amêsa”, uma co-produção Brasil-Angola, criada
na Escola de Teatro da Universidade da Bahia. Com texto de José Mena Abrantes,
concentra-se nas cicatrizes deixadas pela recente guerra civil do país
(1975-2002).
“O espetáculo fala
das guerras em Angola, mas a partir das vivências da personagem Amêsa. O
espetáculo não traz bombas, nem minas, nem a violência propriamente dita, mas
traz as memórias e as cicatrizes dessa mulher”, explica a atriz Heloísa Jorge,
que interpreta Amêsa.
Heloísa Jorge é
angolana e chegou ao Brasil quando tinha 12 anos. Para interpretar a personagem
Amêsa, a atriz baseou-se muito na sua própria história e nas suas memórias.
Narrativa da vida de uma mulher
“Quando vi o texto
pela primeira vez, nem sabia que era de um angolano”, revela a diretora da
peça, Suzi Costa. O que lhe chamou a atenção foi a “narrativa da vida de uma
mulher, passando pelas fases arquetípicas da vida de um ser humano”, sobretudo
do feminino.
Amêsa é “uma mulher
que conhece um homem estrangeiro, que aborta um filho, que perde o pai e a mãe,
torna-se órfã e, a partir daí, tem de olhar o mundo com os seus próprios
olhos”, conta Suzi Costa.
Todos os anos, o
FESTLIP homenageia uma personalidade que influencia o teatro em língua
portuguesa. Em 2011, o festival homenageou a Companhia de Teatro e Dança de
Cabo Verde Raiz di Polon. Em 2010, o festival rendeu-se ao talento da atriz
portuguesa Maria do Céu Guerra. Em 2009 foi a vez do escritor e dramaturgo
moçambicano Mia Couto e, em 2008, da atriz brasileira Maria Fernanda.
Autoria: Vivian
Mannheimer (Rio de Janeiro)
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