quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Guiné-Bissau: PEDEM A CADOGO PARA REGRESSAR MAS VAI TER DE ENFRENTAR A JUSTIÇA

 


Apoiantes em Lisboa pedem regresso pacífico de "Cadogo" à Guiné-Bissau
 
Deutsche Welle
 
Apoiantes de Carlos Gomes Júnior defenderam o regresso do ex-primeiro-ministro a Bissau como candidato às eleições presidenciais de novembro, independentemente das suspeitas criminais ou processos judiciais.
 
Um grupo de guineenses em Portugal e França reuniu-se num apelo às Nações Unidas com o intuito de garantir segurança e transparência durante a realização do ato eleitoral agendado para 24 de novembro, na Guiné-Bissau, solicitando o destacamento de uma força internacional de paz e segurança para a capital.
 
O “Movimento Cadogo Presidente” anunciou, no sábado (17.08), em Lisboa que vai enviar nos próximos dias uma carta aberta a Ban Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas, a pedir que sejam garantidas condições de segurança propícias à realização transparente das próximas eleições na Guiné-Bissau.
 
O apelo é extensível à União Europeia (UE), à União Africana (UA), à Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
 
Marcha pela Guiné-Bissau em Lisboa
 
Segundo os apoiantes, estas organizações devem “garantir a segurança de regresso a todos os políticos que forçosamente foram obrigados a exilar-se", diz Seko Na Dabó, um dos rostos na coordenação do referido Movimento que envolve cidadãos guineenses radicados em Portugal e em França. Segundo ele, os políticos exilados devem regressar "para exercer as suas profissões na pátria que os viu nascer, sem exceção, seja Carlos Gomes Júnior, sejam todos os outros políticos que queiram voltar”.
 
O Movimento pretende exaltar a necessidade da Guiné-Bissau voltar à estabilidade e, entre outras ações, está prevista uma marcha na capital portuguesa cuja data ainda não é conhecida.
 
“Para entregar a carta aberta junto de um representante da CEDEAO, aqui em Portugal, na embaixada da Nigéria. Queremos que ele seja o porta-voz desta carta”, justificou o mesmo apoiante.
 
Os apoiantes consideram que "Cadogo", nome pelo qual Carlos Gomes Júnior é conhecido na Guiné-Bissau, é uma pessoa idónea capaz de levar o país a cumprir o programa de desenvolvimento e progresso idealizado por Amílcar Cabral.
 
Ministério Público guineense com processo aberto
 
O regresso do ex-primeiro-ministro, anunciado recentemente pelo próprio, está ensombrado com o anúncio do Ministério Público guineense. As autoridades do país pretendem interrogar Gomes Júnior assim que ele regresse a Bissau, por suspeita de envolvimento em vários crimes, entre os quais no assassinato de “Nino” Vieira, Tagmé Na Waie, Hélder Proença e Baciro Dabó.
 
De acordo com o jurista Arlindo Ferreira, nenhuma lei impede os candidatos de participarem num ato eleitoral só pelo facto de existirem indícios ou suspeitas de crime.
 
“A Procuradoria-geral da República da Guiné Bissau não acusou formalmente o candidato Carlos Gomes Júnior e mesmo que houvesse acusação, isso não é um fator impeditivo”, frisa Arlindo Ferreira. “A lei guineense só impede a candidatura quando um político ou um candidato presidencial tenha sido condenado com a pena efetiva de prisão. Não é o caso em concreto”, acrescentou.
 
O advogado afirma que, à luz da lei, Carlos Júnior pode concorrer com toda a legitimidade às próximas eleições presidenciais. No entanto, como cidadão guineense, Arlindo Ferreira receia eventuais riscos com o regresso de “Cadogo”, depois das advertências feitas ao primeiro-ministro deposto pelas autoridades militares e de transição.
 
O jurista reconhece que a segurança do ex-primeiro-ministro não é um tema pacífico e apela a um entendimento com os olhos postos no futuro da Guiné-Bissau, caso contrário as próximas eleições serão, nas palavras do jurista, um “ato falhado.”
 
Autoria: João Carlos (Lisboa) - Edição: Nuno de Noronha/António Rocha
 
"Cadogo" vai enfrentar a justiça quando regressar a Bissau
 
Deutsche Welle
 
As autoridades judiciais da Guiné-Bissau anunciaram que a Justiça do país aguarda o regresso do antigo primeiro-ministro para ser interrogado sobre vários assassinatos ocorridos durante as suas duas legislaturas.
 
Carlos Gomes Júnior, exilado em Portugal desde 2012, deverá ser chamado às instâncias judiciais assim que chegar a Bissau, por ser considerado suspeito em alguns assassinatos ocorridos no país entre 2005 e o ano passado, garantiu à imprensa o Procurador-Geral da República, Abdú Mané.

“Existem suspeitas fundadas do seu envolvimento no assassinato de Tagmé Na Waiég e do ex-presidente do Governo. E existem outros processos de gestão danosa”, informou o Procurador-Geral.
 
Carlos Gomes Júnior, antigo primeiro-ministro, foi deposto num golpe militar em abril de 2012 e exilou-se em Portugal, onde anunciou no início do mês passado que pretende regressar à Guiné-Bissau e candidatar-se a Presidente da República nas eleições marcadas para 24 de novembro.
 
Morte de Hélder Proença e Iaia Dabó na origem dos processos

Abdú Mané afirmou que a decisão de levar Cadogo, como é conhecido Carlos Gomes Júnior no país, à barra da Justiça guineense não está relacionada com perseguição política.

“Iaia Dabó foi barbaramente assassinado nas portas do Ministério do Interior. Isto é perseguição política? A morte de Hélder Proença não pode ser investigada? A morte de Baciro Dabó não pode ser investigada? As pessoas querem ou não combater a impunidade?”, questiona o Procurador-Geral da República.
 
Em outubro de 2012, o Ministério Público da Guiné-Bissau enviou às autoridades portuguesas uma carta rogatória pedindo que Carlos Gomes Júnior viajasse até Bissau para ser ouvido no âmbito do processo da morte de Hélder Proença, assassinado em 2009.

Apesar de notificado em Lisboa, o político guineense nunca se dispôs a responder em Bissau, por considerar não estarem reunidas todas as condições de segurança.
 
Autoridades aguardam regresso de "Cadogo"

Questionado sobre o tema, o presidente de transição, Serifo Nhamadjo, pede apenas que a lei seja cumprida no país.

“Não se pode coabitar num procedimento democrático com um sistema de ditadura. O cumprimento da lei é imperioso”, comentou.
 
Segundo Saido Baldé, depois da primeira carta rogatória, foi enviada uma segunda nota, a pedido do Ministério Público, para saber o porquê da demora do primeiro-ministro deposto em comparecer ao interrogatório. As autoridades de Bissau continuam à espera de uma resposta.
 
De acordo com as autoridades judiciais, o primeiro-ministro deposto deverá ser interrogado pelo Ministério Público assim que regressar ao país.
 
Autoria: Braima Darame (Bissau) - Edição; Nuno de Noronha/António Rocha
 
*Título PG
 

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