sábado, 17 de agosto de 2013

Portugal: O CRESCIMENTO

 


João Marcelino – Diário de Notícias, opinião
 
1-A retoma económica é uma coisa tão inevitável quanto o nascer do Sol. Com uma diferença: o Sol volta todos os dias, a retoma da economia pode demorar anos. Nunca se sabe quanto tempo é necessário empobrecer para, finalmente, a luz aparecer de novo na linha do horizonte. Mas aparece sempre.
 
Cresce-se quando os índices de atividade económica são superiores aos do período imediatamente anterior ou do homólogo. E, portanto, quanto mais frágil e anémica for ficando a economia mais possibilidades temos de voltar a crescer - ou de, pelo menos, recebermos notícias como as que esta semana vieram do Instituto Nacional de Estatística e do Eurostat revelando um crescimento de 1,1% do PIB no segundo semestre deste 2013.
 
Em Portugal foram precisos mais de dois anos e meio, 913 dias exatos de queda, para aparecerem os primeiros sinais de alguma evidência de que a economia, rebocada por alguns sinais positivos na Europa, poderá a estar a sair do túnel recessivo. Essa é a notícia boa. A notícia má, sempre evitada pelos discursos técnicos, é de que não se sabe quanto anos teremos de esperar para podermos voltar aos níveis de antes da crise. O melhor é nem sequer pensar nisso...
 
2-O País está mais pobre mas o Governo parece mais rico em bom senso. Desta vez, e ao contrário do que acontecia no saloio passado recente, não se ouviram vivas ao final da crise - que, aliás, poderão vir a revelar-se notoriamente exagerados. Da boca de Marques Guedes e de António Pires de Lima vieram comentários sensatos, prudentes, de quem politicamente reconhece que ainda há muito a fazer, que estes dados precisam de ser confirmados por outros, que o rendimento das famílias não vai mudar de um dia para outro, e que, sobretudo isso, vem aí um Orçamento do Estado que exigirá do Governo uma capacidade de comunicação com os portugueses que não se coaduna com o decretar do fim da crise.
 
Na primeira fase do Governo de Passos Coelho o voluntarismo teria feito rebentar o fogo de artifício da demagogia. Agora há uma perspetiva mais inteligente, de quem não desconhece que a separar o presente do futuro ainda estão algumas reformas assumidas com os credores, entre as quais a principal: a reforma do Estado. E esta, estando cada vez mais longe um consenso mínimo com o PS, dispensa qualquer discurso triunfalista e antes sugere ponderação. Aqui também houve crescimento.
 
3-Passos Coelho tinha prometido, no Pontal de 2012, à porta fechada, a recuperação económica para 2013. Ontem, face aos já citados relatórios, e à porta de novo aberta, não resistiu: são dados "objetivos" que confirmam as "convicções" do Governo. O primeiro-ministro, como era esperado, passou ao lado das "tensões" que iam matando esse mesmo Governo ainda há pouco mais de um mês. E, para polémica, só não resistiu a um novo aviso ao Tribunal Constitucional, que terá de analisar a lei que pretende gerir a mobilidade dos funcionários públicos rumo ao despedimento. Mesmo assim, foi um discurso mais de Estado do que é habitual. Sinal de que o líder também aprende com os erros, e a conflitualidade, que no passado vinha desnecessariamente de São Bento vendo inimigos em todo o lado. Outro crescimento, portanto.
 
A chamada lei de limitação dos mandatos, que ameaçava algumas candidaturas autárquicas, está a originar a confusão esperada. Uns "dinossauros" podem candidatar-se, outros não.Tudo depende da subjetiva opinião de um juiz sobre um texto que os políticos quiseram assim: que parecesse uma coisa e se prestasse a outra...
 

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