João Marcelino – Diário
de Notícias, opinião
1-A retoma
económica é uma coisa tão inevitável quanto o nascer do Sol. Com uma diferença:
o Sol volta todos os dias, a retoma da economia pode demorar anos. Nunca se
sabe quanto tempo é necessário empobrecer para, finalmente, a luz aparecer de
novo na linha do horizonte. Mas aparece sempre.
Cresce-se quando os
índices de atividade económica são superiores aos do período imediatamente
anterior ou do homólogo. E, portanto, quanto mais frágil e anémica for ficando
a economia mais possibilidades temos de voltar a crescer - ou de, pelo menos,
recebermos notícias como as que esta semana vieram do Instituto Nacional de
Estatística e do Eurostat revelando um crescimento de 1,1% do PIB no segundo
semestre deste 2013.
Em Portugal foram
precisos mais de dois anos e meio, 913 dias exatos de queda, para aparecerem os
primeiros sinais de alguma evidência de que a economia, rebocada por alguns
sinais positivos na Europa, poderá a estar a sair do túnel recessivo. Essa é a
notícia boa. A notícia má, sempre evitada pelos discursos técnicos, é de que
não se sabe quanto anos teremos de esperar para podermos voltar aos níveis de
antes da crise. O melhor é nem sequer pensar nisso...
2-O País está mais
pobre mas o Governo parece mais rico em bom senso. Desta vez, e ao contrário do
que acontecia no saloio passado recente, não se ouviram vivas ao final da crise
- que, aliás, poderão vir a revelar-se notoriamente exagerados. Da boca de
Marques Guedes e de António Pires de Lima vieram comentários sensatos,
prudentes, de quem politicamente reconhece que ainda há muito a fazer, que
estes dados precisam de ser confirmados por outros, que o rendimento das
famílias não vai mudar de um dia para outro, e que, sobretudo isso, vem aí um
Orçamento do Estado que exigirá do Governo uma capacidade de comunicação com os
portugueses que não se coaduna com o decretar do fim da crise.
Na primeira fase do
Governo de Passos Coelho o voluntarismo teria feito rebentar o fogo de
artifício da demagogia. Agora há uma perspetiva mais inteligente, de quem não
desconhece que a separar o presente do futuro ainda estão algumas reformas
assumidas com os credores, entre as quais a principal: a reforma do Estado. E esta,
estando cada vez mais longe um consenso mínimo com o PS, dispensa qualquer
discurso triunfalista e antes sugere ponderação. Aqui também houve crescimento.
3-Passos Coelho
tinha prometido, no Pontal de 2012, à porta fechada, a recuperação económica
para 2013. Ontem, face aos já citados relatórios, e à porta de novo aberta, não
resistiu: são dados "objetivos" que confirmam as
"convicções" do Governo. O primeiro-ministro, como era esperado,
passou ao lado das "tensões" que iam matando esse mesmo Governo ainda
há pouco mais de um mês. E, para polémica, só não resistiu a um novo aviso ao
Tribunal Constitucional, que terá de analisar a lei que pretende gerir a
mobilidade dos funcionários públicos rumo ao despedimento. Mesmo assim, foi um
discurso mais de Estado do que é habitual. Sinal de que o líder também aprende
com os erros, e a conflitualidade, que no passado vinha desnecessariamente de
São Bento vendo inimigos em todo o lado. Outro crescimento, portanto.
A chamada lei de
limitação dos mandatos, que ameaçava algumas candidaturas autárquicas, está a
originar a confusão esperada. Uns "dinossauros" podem candidatar-se,
outros não.Tudo depende da subjetiva opinião de um juiz sobre um texto que os
políticos quiseram assim: que parecesse uma coisa e se prestasse a outra...
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