Maria Lopes e Idálio Revez - Público,
ontem
Primeiro-ministro
diz que a crise ainda não acabou e estabelece vitória nas autárquicas como meta.
Pedro Passos Coelho
recorreu nesta sexta-feira mais uma vez à dramatização para pressionar o
Tribunal Constitucional que tem na sua mesa o diploma da
requalificação/despedimento dos funcionários públicos.
“Qualquer decisão
constitucional não afectará simplesmente o Governo. Afectará o país. Esses
riscos existem, eu tenho que ser transparente. Se esse risco se concretizar [o
TC declarar a requalificação inconstitucional] alguns dos objectivos terão que
andar para trás”, avisou Passos Coelho ontem à noite no discurso da festa do
Pontal.
O líder
social-democrata vincou que os objectivos do défice e da dívida até 2015 têm
que ser “mesmo cumpridos”, o presidente do PSD lembrou que as desconformidades
constitucionais já obrigaram à subida de impostos e obrigam – o verbo foi
sempre esse - agora a fazer uma “redução de efectivos na função pública”. “Se
não temos dinheiro para pagar salários e pensões, o que fazemos? O que fazem as
empresas: reduzem pessoas e baixam salários”, respondeu a si próprio. Mas o
Estado não o pode fazer por razões constitucionais, admitiu.
O também
primeiro-ministro fez uma descrição dos vários riscos que o país ainda hoje
corre, a menos de um ano de terminar o programa de ajustamento. O risco
externo, uma vez que não é certo que a realidade europeia esteja perante um
ponto de viragem – “ninguém tome por adquirido que a crise acabou” -, mas
também muitos riscos internos como o financeiro e social, e em que o maior
depende dos juízes do palácio Ratton. Passos sabe que há “muitas tormentas” no
mar que é preciso navegar, mas sabe “para onde quer ir”, por muitas tormentas
que isso represente.
Afirmando, de vez
em quando, que ainda há incertezas quanto ao futuro, Passos Coelho quis também
marcar uma posição de força em relação ao CDS-PP. Afirmou que o que o Governo
está a fazer “vai muito para além” dos militantes e do eleitorado que o
escolheu. Admitiu que nestes “momentos de dúvida e incerteza” houve, “dentro da
própria maioria tensões importantes que se manifestaram”. Mas isso está sanado,
garante Passos e não havia ninguém do CDS no Pontal que o pudesse desmentir.
“Hoje temos a certeza que não há ninguém no seio da maioria que não tenha o
esclarecimento cabal das consequências que teria para o país uma crise política
que pusesse em causa o futuro do país.”
Passos fez ainda
questão de esclarecer que também não serão as eleições autárquicas a fazê-lo
baixar a cabeça. Rodeado por meia centena de candidatos algarvios, fez questão
de agradecer o contributo dos autarcas do partido, nomeando em particular
Macário Correia, a quem o partido retirou o apoio por estar a contas com a
Justiça. Já antes, Marco António Costa tinha feito o elogio da despedida ao
autarca de Faro e presidente da comunidade intermunicipal do Algarve, que
arrancou a primeira grande salva de palmas da noite a quem estava no recinto e
às dezenas de mirones do lado de fora das redes.
“Muita gente tem
olhado para as eleições autárquicas como se pudessem constituir uma espécie de
teste ácido ao governo”, afirmou Passos, para logo a seguir garantir que
“nenhuma instabilidade governativa resultará destas eleições. Vou repetir.
Nenhuma consequência do posto de vista nacional advirá do resultado das
eleições autárquicas.”
Porém, Passos é
realista. Admite que “não é possível alcançar o resultado excepcional de há
quatro anos”. O objectivo do PSD é claro e está definido: “Ganhar as eleições e
manter a presidência da Associação Nacional de Municípios”. Mais: “Qualquer que
seja esse resultado não haverá estados de alma dentro do Governo quanto ao
trabalho que temos para fazer.”
Num discurso de 45
minutos, ouvido por cerca de 2000 militantes e simpatizantes, Passos Coelho
surgiu num palco de costas para o mar e virado para os prédios, onde as
varandas se encheram de gente. No jardim em frente, muitas famílias passeavam
com as crianças e cedo se foram juntando pessoas perto da rede, onde conseguiam
ver Passos directamente ou através de dois grandes ecrãs de cada lado do palco.
O ruído mais
significativo surgiu da parte do pequeno grupo de contestatários às portagens
da via do Infante que pontuou o protesto com dois bombos e palavras de ordem de
“demissão” ao Governo, apesar de a GNR lhes ter barrado a entrada no recinto. Passos
apenas uma vez acusou o toque aos protestos, que de vez em quando se
transformavam em assobios, mas preferiu desvalorizar, tal como fizera antes
Marco António Costa, que realçou o regresso ao calçadão de Quarteira do partido
que “nasceu na rua, entre as pessoas” – e é aí que vai continuar.
Foi ao
vice-presidente do PSD que coube o papel de justificar a previsão da retoma de
Passos em 2013, transformando-a numa “visão” do presidente do partido. Tal como
também cumpriu a missão de falar para o PS, o partido que “foge permanentemente
ao diálogo” e às “responsabilidades perante o país”.
No Pontal estiveram
muitas caras do PSD Algarve, vários deputados como Tereza Leal Coelho, Mendes
Bota, Luís Montenegro, Carlos Abreu Amorim, Pedro Pinto – o único que trouxe
claque de apoio autárquica -, alguns ex-governantes como Nuno Morais Sarmento,
secretários de Estado como Agostinho Branquinho, e quatro ministros –
Aguiar-Branco, Miguel Poiares Maduro, Jorge Moreira da Silva e Maria Luís
Albuquerque. Esta foi a última a chegar. No palco, Luís Guilherme cantava uma
balada. “Eu quero ser teu amor, o teu maior amigo, repousar em teus braços (…)
não me peças paciência”, dizia o cantor algarvio com ar sofredor, quando a
ministra das Finanças e Pedro Passos Coelho trocaram beijos de boas-noites e se
sentaram na mesma mesa.
Foto: Vasco Célio
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