Gustavo Barreto – Debates Culturais - em
24.08.2013
Há cerca de seis
meses, quando visitei Cuba, “denunciavam” (aqui do “Brasil”, claro) para mim
que lá era a sociedade da vigilância e que todos os cubanos eram vigiados pelo
“sistema comunista”.
Lá, ao perguntar
sobre isso, riram de mim: “Com essa Internet?”.
Hoje, após as
revelações da vigilância global estadunidense, subitamente Cuba foi “esquecida”
e a Europa está furiosa com o que está acontecendo e acusa os EUA de violações
do direito internacional. E pior: parte da mídia brasileira continua a insistir
que os informantes militares foram presos porque “vazaram informações
sigilosas” — e dá um ponto aí. Quase nada sobre o conteúdo desses vazamentos:
violações brutais e bárbaras dos direitos humanos. Vai entender.
Agora, o Brasil
traz médicos cubanos que são mais ‘baratos’ — óbvio — e dispostos a ir a
lugares que nenhum médico brasileiro quer ir (e apenas nestes casos).
Claro, imagina
receber uma “esmola” como essa de 20, 25 mil reais pra morar no “fim do mundo”.
Nem pensar. Todos, claro, vivendo em grandes cidades com seus planos de saúde
privados.
A pergunta para
quem mora em cidades do interior com falta de médicos é a seguinte: você quer
ou não quer mais médico? Qual que você acha que é a resposta? Eis o resultado
de uma pesquisa que mostra claramente isso: veja aqui.
Aí levam ao jornal
da maior emissora de TV do Brasil a brilhante argumentação do diretor do
Conselho Federal de Medicina: “Nós temos relatos da Bolívia e da Venezuela de
que estes médicos (cubanos) estão causando danos à população”.
Veja bem, caso não
tenha ficado claro: este é o melhor argumento deles, “relatos” de “danos à
população”. (Aos queridos alunos de jornalismo, fica a importante dica: se for
preciso dar uma resposta rápida ao governo, não são necessárias evidências ou
objetividade — fala qualquer merda mesmo e foda-se o jornalismo.)
Se você tinha
dúvidas sobre se essa medida é boa ou não, creio que o jornal desta emissora
ajudou a esclarecer.
*Gustavo Barreto,
jornalista, radialista e produtor cultural, coordena a revista Consciência.net.
Sem comentários:
Enviar um comentário