terça-feira, 3 de setembro de 2013

“FAZER É A MELHOR MANEIRA DE DIZER!”

 

Martinho Júnior, Luanda
 
1 – Esse é um dos muitos conceitos lapidares de José Marti, bem conhecidos de todos aqueles que vêm na Revolução Cubana, na sua dignidade, na sua solidariedade, no seu internacionalismo, um exemplo de paz, um desafio de amor e sobretudo um caminho projectado para o futuro!

À medida que a América Latina vai interpretando de forma substantiva a sua própria história, resgatando-a do império e de seus sequazes disseminados pelo continente, o que tem vindo a fazer Cuba e o seu povo não marca apenas a diferença: constitui um verdadeiro contraste com as tensões, os conflitos e as guerras que o império semeia pelos quatro cantos do mundo, como se tragicamente não houvesse outra alternativa para a humanidade!

Há duas condutas exponenciais no que a Revolução Cubana tem realizado ao longo dos poucos mais de 50 anos de sua identidade à frente dos destinos da maior das Antilhas, que tem sido experimentado também por outros povos condenados ao subdesenvolvimento: educação e saúde!

Essas duas condutas cultivadas pelos revolucionários desde mesmo antes do derrube de Fulgêncio Baptista, quando ainda se encontravam na Sierra Maestra, tornaram-se década após década em autênticas mensagens inspiradoras, em relação às quais não há poder algum, por mais poderosos que sejam os meios mediáticos, capaz de subverter ou manipular no que diz respeito ao seu sentido profundamente humano e anti imperialista, manifestamente no que essas mensagens calam contra os riscos de toda a ordem: terramotos, furacões, tensões, conflitos, guerras… precisamente em socorro dos oprimidos e dos mais marginalizados e desprotegidos…

2 – No Brasil, como em muitas outras partes mais sofridas do Mundo, a geografia da pobreza tem sido ditada também por um sistema de saúde que tem demonstrado não chegar a uma grande parte do território nacional, em redundância dum poder político que tem sido incapaz, até agora, de encontrar melhores soluções.

Se fosse possível espelhar isso num mapa, a área do Brasil onde não há cobertura médica minimamente aceitável, é muito maior do que aquela onde existe densidade de serviços, quase limitada aos grandes urbanismos das cosmopolitas metrópoles brasileiras.

Aquelas instituições de saúde e aqueles médicos brasileiros que se têm manifestado contra o recurso a médicos de outras nacionalidades para preencher o vazio que essas mesmas instituições e esses mesmos médicos jamais enfrentaram, contribuíram para tornar o Brasil num espaço de enormes desequilíbrios e contradições e pretendem continuar nessa saga, que serve aos grandes interesses, incluindo os filiados no império e às oligarquias suas agenciadas.

O governo de Dilma ao ser posto à prova, socorreu-se duma política que teve a sensibilidade de ouvir e melhor interpretar uma das questões mais candentes que têm sido evocadas nas múltiplas manifestações populares que aconteceram nos últimos meses e teve o condão de colocar o dedo numa das chagas que finalmente está agora à vista de todos e é mais entendida que nunca!

Por aquilo que têm feito e por aquilo que muitos desses médicos acabaram por dizer, ou manifestar, contra o recurso a colegas que estão disponíveis em chegar onde nunca algum médico brasileiro esteve, torna tudo muito mais evidente: o sistema de formação dos quadros da saúde do imenso país está em causa, estando em causa a deontologia que se tem praticado, sintomática do capitalismo que de forma continuada tem gerado tantos impactos nefastos no Brasil, como de resto em muitas outras paragens do Mundo!

Há mais de 200 anos que o Brasil é “independente”, mas uma das questões essenciais como a saúde, a saúde que constitucionalmente deveria ser em benefício de todos os brasileiros, tarda em chegar a imensas áreas do país por que esses geógrafos-mercenários feitos médicos, nunca tiveram a honestidade de fazer!

O povo brasileiro habita em áreas muito para além das que podem garantir lucro imediato, das que podem garantir conforto quanto baste, ou das que podem garantir mordomias, “renome” e “prestígio”...

A vida espraia-se muito para além da limitada geografia urbana de que se servem esses médicos e as suas instituições, pelo que há uma aprendizagem básica que eles vão ter de se sujeitar: aprendam a ser efectivamente brasileiros, amantes de seu povo, capazes de estratégias amplas, integradoras, efectivas e reconheçam o estado de subdesenvolvimento em que se encontra ainda o Brasil, que tão severamente se esbate no seu sistema de saúde e no seu próprio comportamento!

Sejam capazes de garantir a vocação para realizar os imensos resgates que necessário se torna alcançar, por que só assim se promove paz e progresso (os lemas inscritos na sua própria bandeira)!

3 – A vocação da Revolução Cubana nas condutas de saúde e educação e das mensagens que cada vez mais inspiram outros povos e sensibilidades, foram no último mês de Agosto, precisamente quando no Brasil tantas questões polémicas foram levantadas, contrastantes com os riscos da eclosão duma nova guerra de grandes proporções com epicentro na Síria e no Irão.

A Revolução Cubana leva opções de paz, de equilíbrio e de socialismo precisamente àqueles “rincões obscuros” a que sarcasticamente um dia o Presidente George Bush se referiu, mas o que leva o império a esses mesmos lugares?!

Alguma vez as instituições e os médicos brasileiros se levantaram para fazer frente às calamidades naturais que vêm ocorrendo no seu próprio continente, ou se manifestaram (pelo menos ao nível do que fizeram agora contra a chegada dos colegas cubanos), contra as tensões, os conflitos e as guerras que têm eclodido década após década, desde que o império emergiu?

É justo colocar essa questão, pois no momento em que a situação evolui para mais uma guerra de dimensões imprevisíveis, uma guerra que pode alcançar proporções nucleares, os médicos brasileiros, redutores na brasilidade de sua geografia, demonstram ser incapazes dum simples gesto de condenação em relação ao abismo em que se encontra o Mundo!

4 – Tudo isso vem a propósito do tema “Fazer é a melhor forma de dizer”: veja-se o que diz e o que faz o Presidente Barack Hussein Obama, precisamente na altura em que nos Estados Unidos é lembrado o discurso de Martin Luther King!!!

Alguns apontamentos: Fazer é a melhor maneira de dizer – http://recursos.wook.pt/recurso?&id=7270598; http://www.horadopovo.com.br/2006/fevereiro/22-02-06/pag8a.htm

Foto: Médico cubano junto a pacientes que foram recuperados da cólera; é outra a cólera de alguns médicos brasileiros e a sua recuperação será mais lenta que a dos pacientes haitianos!


A consultar:
- As muitas lições do Haiti –
http://paginaglobal.blogspot.com/2011/05/as-muitas-licoes-do-haiti.html
- Salvar a humanidade já –
http://pagina--um.blogspot.com/2011/02/salvar-humanidade-ja.html
- Rapidinhas do Martinho – 49 – Resgatar África –
http://paginaglobal.blogspot.com/2011/10/rapidinhas-do-martinho-49.html
- … E por isso chegou Fidel –
http://paginaglobal.blogspot.com/2012/08/e-por-isso-chegou-fidel.html
- Che, 45 anos depois –
http://paginaglobal.blogspot.com/p/blog-page.html
- Imprescindíveis –
http://paginaglobal.blogspot.com/2012/03/imprescindiveis.html
- A liberdade em substância –
http://paginaglobal.blogspot.pt/search/label/MARTINHO%20J%C3%9ANIOR
- Dilma condena o imenso preconceito contra os cubanos –
http://www.horadopovo.com.br/
 

1 comentário:

Anónimo disse...


Eis o que o sociólogo Emir Sader diz sobre o assunto:


A hora da saúde pública

A saúde pública foi sempre o patinho feio das políticas sociais. Enquanto a educação está sempre impulsionada pela ideia de que sua extensão representaria o resgate dos problemas atuais e futuros de um país, a saúde costuma ficar relegada, mesmo se as pesquisas de opinião a coloquem como um dos maiores problemas enfrentados pela população.

O SUS foi uma grande conquista, que ainda precisa ser implementada plenamente. O fim da CPMF foi um golpe duro nos seus recursos, até aqui não recomposto.

De repente, o programa Mais Médicos desatou um processo que colocou – pela primeira vez na nossa história – a saúde pública no centro da agenda política. Uma importante quantidade de temas passou à discussão pública, saindo das zonas de escuridão em que se encontravam.

O primeiro deles, o conflito entre os interesses públicos na saúde e os interesses privados. Estes são representados pelos planos privados de saúde, pela rede de hospitais privados e pelos médicos que, embora formados em universidades públicas, se dedicam ao atendimento privado ou ocupam cargos no SUS, em que não cumprem minimamente com os requerimentos da função.

O segundo, a disparidade entre as necessidades do país em termos de saúde pública e a localização da grande maioria dos médicos, formados em universidades públicas, com recursos públicos. Enquanto a grande maioria das enfermidades e necessidades de atendimento em termos de saúde se encontra em regiões afastadas dos grandes centros urbanos, estes concentram, especialmente nos bairros mais ricos das grandes cidades, grande parte dos médicos. Um contraste socialmente notável entre o uso dos recursos públicos para formar os mais preparados médicos e a falta de atendimento de grande parte da população.

O tema da saúde pública vai estar entre os mais importantes da campanha presidencial, que coincide com essa conjuntura. Uma parte dos médicos reagiu de forma corporativista, racista, discriminatória contra a vinda de estrangeiros, para os mesmos postos que eles se negam a acudir. Acreditaram que poderia mobilizar a opinião pública a seu favor. Tentaram pegar carona nas mobilizações de junho, mas elas pediam melhor atendimento da população e não reforçar o privilégio dos médicos.

Perderam o debate, e até setores da oposição reconheceram que o projeto do governo atende às necessidades da população, abandonadas por parte dos médicos. O governo conquistou a iniciativa, ganhou o debate ideológico, mesmo antes que o atendimento dos milhares de médicos melhore a atenção à saúde de parte da população.

É um momento especial para a saúde pública, para os que necessitam dela e para os que trabalham nela com espírito público. É o momento de retomar, com força, as reivindicações que levem a fortalecer o SUS – entre elas, o fim do desconto dos gastos nos planos privados de saúde no imposto de renda.

Depois de ter ficado na defensiva no início da conjuntura atual, quando o protagonismo principal esteve nas mãos dos setores conservadores – em particular de parte dos médicos e suas associações –, chegou a hora de reverter a pauta e os protagonismos. Chegou a hora de a saúde pública somar-se ao imenso processo de democratização social que vive o Brasil.
Postado por Emir Sader às 09:45


http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=1312

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