IMPRESCINDÍVEIS!

Martinho Júnior, Luanda

Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis

Bertold Brecht

É importante lembrar este poema sintético e universal, um poema que é uma máxima para aqueles que se devotaram por inteiro em vida à causa prioritária do homem, perseguindo o respeito pela natureza e para com a Mãe Terra.

É também sensível, por que nos toca racional e emocionalmente, em especial àqueles que procuram equacionar a sua conduta enquanto vivos por padrões éticos e morais que se atrevem a ser cada vez mais alternativos perante aqueles que regem o padrão nos actuais processos de globalização, eminentemente capitalistas, neo liberais, repletos de ingerências sangrentas e contra natura…

No momento em que uma parte da atenção do mundo acompanhou a visita do Papa, vários são os acontecimentos que se correlacionam com Cuba que têm escapado à atenção, apesar da presença de cerca de 800 jornalistas estrangeiros na ilha.

Os jornalistas cumprem com o “diktat” dos poderosos media a que estão ligados, media esses que não estão habituados a dar prioridade ao homem e ao sentido da vida, mesmo aqueles que são indexados à religião.

Dia 26 de Março por exemplo, chegou a Havana a Directora Geral da Organização Mundial de Saúde, senhora Margaret Chan (“Hay ahora mismo outra visita importante en Cuba de que no se habla” – http://www.cubadebate.cu/noticias/2012/03/27/hay-ahora-mismo-otra-visita-importante-en-cuba-de-la-que-no-se-habla/):

“Casualmente, ayer también llegó a Cuba la directora general de la Organización Mundial de la Salud (OMS), Margaret Chan, quien presidirá aquí la reunión interna del grupo de políticas globales del organismo internacional que se realiza por primera vez en la región de las Américas.

Se reporta en la prensa cubana que con anterioridad a la llegada de Chan, el subdirector general de la OMS, Anarfi Asamoa-Baah, significó que Cuba tiene mucho que enseñar y destacó que los niveles de salud para su pueblo y para el mundo son muy altos.

Asamoa-Baah ponderó lo logrado pese a las limitaciones económicas impuestas por el bloqueo de Estados Unidos hacia la Isla y ejemplificó la accesibilidad a los servicios de toda la población, de forma totalmente gratuita y con alta tecnología.

Por su parte, en palabras recogidas por la Televisión cubana, Chan calificó de envidiable el sistema de salud cubano y elogió el enfoque internacionalista y la formación de recursos humanos a diversos pueblos, lo cual ha propiciado elevar los indicadores sanitários”.

Quantos jornalistas para além dos profissionais cubanos se aperceberam dessa visita e de suas amplas motivações geo estratégifcas?

A senhora Chan é uma médica chinesa nascida e com carreira em Hong Kong antes de assumir o cargo de Directora Geral da OMS (http://en.wikipedia.org/wiki/Margaret_Chan; http://www.who.int/dg/chan/en/index.html), tendo vindo a Cuba a fim de reunir pela primeira vez nas Américas, o quadro afecto ao grupo de políticas globais dessa Organização, facto que por si só é bastante significativo.

Decerto que ela vai não só beber da experiência educacional e em termos de saúde de Cuba, mas do que Cuba tem feito pelo mundo, principalmente onde existem os problemas mais terríveis que se têm colocado aos “deserdados da Terra”, entre eles a maior parte das comunidades do vizinho Haiti.

A saga de Cuba no Haiti continua, estendendo-se a presença cubana a outros sectores de actividade para lá da educação e da saúde onde muitos êxitos têm conseguido obter com mérito inexcedível e exemplar.

“Cuba refuerza colaboración com Haiti” (http://www.cubadebate.cu/noticias/2012/03/16/cuba-refuerza-colaboracion-con-haiti/):

“El canciller de Haití, Laurent Lamothe, y su homólogo de Cuba, Bruno Rodríguez Parrilla, firmaron hoy tres protocolos de acuerdos de cooperación en el palacio presidencial en presencia del jefe de Estado haitiano, Michel Martelly.

Estos tres acuerdos permitirán a Haití recibir la asistencia cubana en la prevención y la gestión de desastres naturales, en la reparación y mantenimiento de equipos pesados y en la coordinación de investigación y rescate de la aeronáutica.

Como parte de los convenios, 34 técnicos cubanos especializados en mantenimiento y reparación de camiones y tractores viajarán pronto a Haití, informó el canciller Lamothe a medios de prensa”.

Este reforço visa a reparação de alguns dos meios que vão ser empregues nas obras de reconstrução no Haiti, particularmente na reparação e reconstrução de estradas, possibilitando tornar mais fluidas as ligações e com isso melhor accionar os dispositivos existentes de luta contra o subdesenvolvimento crónico.

O subdesenvolvimento crónico é a causa profunda que determina o abandono a que está votada a primeira república que deu à luz na América Latina, nascida precisamente na primeira das Revoluções, aquela que eclodiu numa nação antes forçosamente sujeita ao colonialismo e tornada escrava e submissa.

Foi justo que Raul de Castro lembrasse no seu primeiro discurso perante a visita do Papa, que agora teve fim (“En nombre de la Nación, le doy la más calurosa bienvenida” – http://www.cubadebate.cu/opinion/2012/03/26/discurso-de-benedicto-xvi-a-su-llegada-al-aeropuerto-de-santiago-de-cuba/):

…“Varias generaciones de compatriotas se han unido en la lucha por elevados ideales y nobles objetivos.

Hemos enfrentado carencias, pero nunca faltado al deber de compartir con los que tienen menos.

Sólo como demostración de cuánto se podría hacer si prevaleciera la solidaridad, menciono que en la última década, con la ayuda de Cuba se han preparado decenas de miles de médicos de otros países, se ha devuelto o mejorado la visión a 2,2 millones de personas de bajos ingresos y se ha contribuido a enseñar a leer y escribir a 5,8 millones de analfabetos.

Puedo asegurarle que, dentro de las modestas posibilidades de que disponemos, nuestra cooperación internacional continuará”…

Daqui de Angola, uma Angola que teve de lutar contra o colonialismo, contra o “apartheid” e continua a lutar contra sequelas próprias do subdesenvolvimento crónico, entendem-se bem essas palavras, dum chefe de estado cuja revolução se identificou com os ideais de libertação de África desde os primórdios, desde os tempos da guerra da Argélia, tornada independente há 50 anos (Argélia – Wikipedia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Arg%C3%A9lia )!

Como corolário julgo que é justo lembrar a todo o mundo, (se isso passou deliberadamente despercebido ao Vaticano, que aliás deveria prestar muito mais atenção às nações tornadas ao longo da história nos “deserdados da Terra” também na base da necessidade de avaliar quanto a solidariedade da revolução cubana é para tantos marginalizados e desprotegidos, como os do Haiti, “imprescindível”), a proposta de propor a Brigada Médica cubana no Haiti para o Prémio Príncipe de Astúrias (http://www.cubadebate.cu/noticias/2012/03/13/brigada-medica-cubana-en-haiti-fue-nominada-al-premio-principe-de-asturias):

“La Brigada Médica Cubana en Haití fue nominada este lunes a la candidatura del Premio Príncipe de Asturias 2012 de Cooperación Internacional por la Academia Cubana de la Lengua, entidad que figura entre las invitadas especialmente por la Fundación que patrocina el galardón para formular propuestas, informó hoy el diario Granma.

Al fundamentar la decisión unánime de los académicos cubanos, su presidente, el poeta y ensayista Roberto Fernández Retamar subrayó la intensa y desinteresada labor humanitaria que de manera ininterrumpida desde 1998 han desarrollado los profesionales de la salud del mayor territorio antillano en la nación vecina, cuya población ha sido víctima en tiempos recientes de huracanes, un devastador sismo y una epidemia de cólera”.

Para os “deserdados da Terra” a presença dos professores e médicos de Cuba é “imprescindível”, pois em milhões e milhões de casos essa presença significou a responsabilidade comum de alimentar solidariamente as alternativas que reforçam a aspiração ao sentido da vida onde ela é tão miserável, tão arriscada e tão curta, uma responsabilidade exemplar que marca a racionalidade e as emoções humanas, coisa que o Vaticano e todos os órgãos de comunicação que lhe são afectos, por razões éticas e morais, nunca deveria esquecer, pelo contrário, deveria sempre lembrar!...

Defender esse papel de Cuba perante as situações que conformam os parâmetros da IIIª Guerra Mundial em curso, era além de ser prova de lucidez, uma prova plena de sentido de responsabilidade e de saudável oportunidade.

O Vaticano pela voz do seu Papa parece não ter chegado aí, talvez por causa de seus próprios atavismos e fantasmas, talvez com receio de isso parecer “radical”, talvez também por que os padrões por que se rege estejam no fundo muito mais próximos dos poderosos da terra do que dos “deserdados”!

Isto quer dizer que é necessário continuar a luta por uma humanidade muito mais equilibrada e feliz, muito menos subdesenvolvida!

Acho que ainda como Bertold Brecht:

Nada é impossível de mudar

Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.