domingo, 15 de setembro de 2013

Moçambique: GUEBUZA É QUE FEZ, GUEBUZA É QUE FAZ?

 

Moçambique Para Todos
 
Há cerca de dois meses, a Televisão (Pública) de Moçambique (TVM) iniciou a projecção de“programas”, seguidos de debate, intitulados “Balanço da Governação do Presidente Armando Emílio Guebuza”. Longe de neles se fazer o balanço do desempenho do Governo de Moçambique na sua dimensão plena, do desempenho – positivo e negativo – da máquina da administração pública do Estado moçambicano, centra-se tudo na pessoa do chefe de Estado, Armando Guebuza, como se não existisse mais ninguém a trabalhar no País, como se tudo o que se fez tenha sido feito só por Guebuza e como se o que não se fez Guebuza não tenha culpa disso. São peças televisivas espectaculares porque nelas a culpa de tudo o que está mal é dos outros. Guebuza só fez coisas boas. Que maior atestado de incompetência se poderia passar aos outros!? Nunca visto!
 
Nas ditas“reportagens” e nos depoimentos, Armando Guebuza é tido como um ente omnipresente, cuja obra individual alcança todos os sectores, como se de um ser omnipotente se tratasse.
 
Todo e qualquer contributo dos milhares de técnicos da administração pública para o desenvolvimento desta Nação fica engolidopela omnipresença e omnipotência de Guebuza. Começou por ser a “Frelimo é que fez, a Frelimo é que faz” e agora entrou numa fase mais apurada se bem que não menos ridícula: a fase do “Guebuza é que fez, Guebuza é que faz”.
 
Todo o esforço que o empresariado possa ter feito neste período em que Guebuza esteve a dirigir o País não é esforço de quem realmente fez – é esforço de Guebuza.
 
Para quem produz os tais programas, os trabalhadores não fizeram nada…Guebuza é que fez.
 
Na avaliação que a TVM tem andado a promover com o dinheiro dos contribuintes, não há outros, só há Guebuza.
 
É só propaganda que atingiu níveis ridículos incomparáveis. Quem ainda se dá ao trabalho de tentar perceber se pode valer a pena estar-se a gastar dinheiro dos cofres do Estado a mostrar-se coisas boas para estimular-se os moçambicanos para que ganhem brio no que de positivo andam a fazer, com os “pastéis” mal confeccionados que nos andam a tentar impingir só se pode afinal concluir que o dinheiro do Estado que não existe para coisas muito mais importantes existe afinal a granel para pagar má propaganda de um gestor falhado do Estado que vai ficar para a história como quem teve afinal o mérito de mostrar aos seus próprios correligionários que quem se esforça não será nunca reconhecido, por existir um “deus” acima deles todos.
 
Tanta má propaganda tem no entanto uma marca mais positiva do que se possa imaginar. Guebuza em vez de sair com a sua imagem lavada ou menos chamuscada porque pior já não era possível, com estes programas ridículos acaba por ficar ainda mais emporcalhado – desculpe-nos a expressão – de facto não há outra para sermos mais verdadeiros.
 
Valeria muito mais um elogio que até pode ser que haja pontualmente alguma razão para o fazer da parte de um “apóstolo da desgraça” do que de um qualquer moleque adulador que anda a enganar Guebuza ao ponto de só faltar ouvirmo--los a dizerem que até os elogios que lhe andam a fazer na TVM foi também Guebuza que pensou neles e os fez em causa própria.
 
Aqueles que montaram as más peças de “banda desenhada” que andam a tentar impingir aos moçambicanos na TVM e agora também na “espectaculosa” ainda não tiveram oportunidade de perceber que só estão a conseguir ridicularizar Guebuza na praça pública mais do que ele já está com a história de ter enriquecido a criar patos?
 
Para a equipa de bajuladores, entre os quais se incluem até ladrões confirmados pelo Tribunal Administrativo, Guebuza é tudo. Ao mesmo tempo é arquitecto, é engenheiro, planeia e executa obras de construção de estradas, pontes e edifícios governamentais, é engenheiro electrónico, expande a rede de telecomunicações, enfim, faz tudo de bom. Só nos falta ouvirmos um dia destes chamarem-lhe o “Vodacom”, pois nele “é tudo bom”.
 
Guebuza também é especialista em cobrança de impostos. De casa em casa, de família a família, de empresa a empresa, foi ele que fez tudo. A electricidade levada a quase todas as vilas sedes distritais do País, as dezenas de bombas de abastecimento de combustível construídas, as agências bancárias, tudo foi Guebuza que fez. Até o que já estava erguido antes de Guebuza, foi Guebuza que fez.
 
Para esses bajuladores Guebuza é um “deus”. O “deus moçambicano”. É um especialista em finanças, é um especialista bancário, é tudo. Guebuza fez tudo. “Guebuza é que fez, Guebuza é que faz”.
 
Afinal a Frelimo não fez nada… bem queria parecer!
 
Este Guebuza “faz-tudo” reduz a máquina administrativa do Estado à sua pessoa. O Estado com ele deixa de existir e personifica-se na sua figura. É como se o íntegro e competente Presidente da Autoridade Tributária não fizesse nada senão implementar as ordens de Guebuza. É como se Ernesto Gove, no Banco Central, ficasse apenas à espera das ordens de Guebuza para tomar decisões sobre o sistema financeiro moçambicano.
 
Os buracos nas estradas não foi Guebuza que fez.
 
É caso para se perguntar: A Estrada Nacional N1 toda escavacada de Vilankulo para o norte é obra de Guebuza? A estrada toda escavacada entre a Beira e o Inchope é obra de Guebuza? A falta de água para milhões de moçambicanos é obra de Guebuza?
 
Quantas coisas tremendamente más não ficaríamos aqui a perguntar se também são obras de Guebuza?
 
Os raptos também são obra de Guebuza?
 
Também é Guebuza que “engoma” as pessoas?
 
Para os senhores que andam entretidos a tentar enganar os moçambicanos, só há coisas positivas. Guebuza para eles é “deus”.
 
Os outros são o diabo. Oh, diabo!
 
O esforço dos dirigentes e técnicos sectoriais que trabalham neste País e que obviamente só seriam notícia se o que fazem não fosse sua obrigação porque para isso lhes pagam, com a propaganda de quem quer fazer crer que Guebuza é “deus” acabam sendo notícia apenas porque afinal alguém se lembra de vir dizer que o seu esforço é afinal algo que quem deveria ser o primeiro a reconhecer isso anda apenas a querer tirar dividendos pessoais para ainda estar a tempo de nos causar alguma surpresa ao anunciar-nos a sua candidata(o) às presidenciais do ano que vem…
 
A obra de propaganda desses imbecis que andam por aí a tentar fazer crer os moçambicanos que Guebuza é “deus” tem para nós, Canal de Moçambique, um enorme mérito: permitir-nos finalmente elogiar certas pessoas que muito têm feito por este país anonimamente e que agora são esquecidas e ignoradas pelos bajuladores de Guebuza que acreditam que eles nada fizeram porque para eles “Guebuza é que fez, Guebuza é que faz”
 
Sempre nos ensinaram que só é notícia quando um homem morde num cão e não quando um cão morde noutro ou morde num homem.
 
Por isso sempre elegemos para publicação notícias e temas controversos.
 
Recusámo-nos sempre a elogiar por elogiar. Queremos que o País avance. Não queremos que nos batam palmas. Não queremos bater palmas a uns e esquecer os milhões que tanto fazem todos os dias por este nosso nobre País. Nunca quisemos ser injustos.
 
Bater palmas a Guebuza como se mais ninguém tivesse feito obra até agora é seguramente pior que usar o tempo só a pôr em evidência coisas más uma vez por semana ou em poucas linhas diárias, com a esperança de ver as nossas contribuições poderem ser acatadas ou úteis a alguém.
 
Mas, sinceramente, sentimo-nos lisonjeados com os programas elogiosos a um Guebuza omnipresente e omnipotente, porque finalmente isso permite-nos elogiar quem conseguiu de facto fazer o que nós ainda não tínhamos conseguido: pôr Armando Emílio Guebuza completamente no ridículo. (in Canal de Moçambique de 11.09.13)
 
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